Capítulo 6 - Choque Familiar
Paulinho pula, ainda vira a cabeça para o filho, mas é tarde e ele bate na água. Vítor se desespera por uma fração de seguindo enquanto o pai se põe a debater e gritar. Danilo e Ronaldo ficam chocados com a cena, e Vítor age: corre, agarra uma vareta que acha no jardim e golpeia a tomada, fazendo o fio se soltar.
Paulo para de gritar; desmaia. Todos ficam em choque e Ronaldo, achando que já está seguro, corre para a piscina e logo tira o irmão da água. Um dos seus amigos ali presentes o ajuda para levar Paulo pra dentro. Danilo vai seguí-los, mas Vítor o puxa para um canto, irritado.
- Tá vendo a merda que você fez?!
- Que EU fiz? - reage o outro, indignado. - Quem foi que teve a brilhante ideia de jogar um rádio na água?
Danilo se solta do aperto de Vítor, irritado.
- Vai lá reparar a merda que cê fez, porque, se não reparou, você pode ter matado seu pai.
Os dois vão entrando na sala. Paulo foi posto no enorme sofá, e Ronaldo verifica seu pulso. Logo depois, Luana desce, desesperada, e logo dá um grito.
- SAIAM! Afastem-se! Ninguém faz respiração boca-a-boca melhor do que eu, amados! Saai!
Ela empurra Vítor e Danilo sem a menor cerimônia para o lado, e inicia a ressuscitação ao marido. Pouco depois, Paulinho tosse, expelindo água e parecendo bastante fraco.
- Vamos, Ronaldo, deixe de moleza! - grita Luana. - A gente deve levar meu marido pro quarto, ANDA!
E sem aceitar outra ajuda, leva o marido escada acima para o quarto com o cunhado.
Pouco depois, chegam Bernardo e Jéssica, que logo ficam à par da situação. Jéssica logo fica espantada.
- Coitado dele... mas já ficou um pouco melhor?
- Sim... com Luana no quarto com ele... bem, ele vai se animar rápido. Enfim... - suspira Ronaldo, olhando em volta. - Esse incidente acabou com meu churrasco. Todos já foram embora.
- E só agora nós chegamos... - diz Jéssica, olhando Bernardo com censura.
- Ah, minha querida, gentileza de sua parte, mas eram só vários coroas da empresa juntos, nada demais.
Bernardo sorri de leve.
- E tia Ana Paula, onde está? - pergunta Jéssica.
- No convento, volta hoje, mais tarde. - responde Ronaldo.
Bernardo bate palmas.
- Ótimo. Tenho uma coisa pra falar com ela.
Ronaldo o fita, sério. Entendendo o recado, Jéssica sai com a desculpa de encontrar Leonora.
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- e... é isso, pai... Eu tenho essas suspeitas. Ou melhor, o doutor Meija.
- Certo, filho. - diz Ronaldo. - É melhor mantermos isso entre nós e sua tia. Não devemos sair espalhando e criar expectativas. É só uma hipótese.
Os dois caminham além da área da piscina. Os faxineiros estão limpando os restos do churrasco, e Wagner cruza o jardim até os dois, com algo nas mãos.
- Com licença, seu Ronaldo, mas eu encontrei isso, dentro da piscina...
Ronaldo e Bernardo se olham, espantados.
- Isso explica tudo. Mas alguém tem que me explicar sobre isso. - diz o patriarca, com um sorriso astuto.
Depois, no quarto de Paulo...
- Estou melhor, estou melhor, Luana, pra quê tanto zelo? Sou duro na queda!
A esposa dá um muxoxo de impaciência enquanto Vítor e Danilo riem.
- É... vaso ruim não quebra, pai! -exclama Vítor.
Luana olha feio para o filho, e Paulinho dá um sorriso.
- Melhor ficar calado, não é? Olha, chegou seu tio com...
Ele cala a boca ao perceber o rádio pingando água no quarto, nas mãos de Ronaldo. Bernardo nos seus calcanhares.
- Achamos isso, mergulhado na piscina. - diz ele. - Com um CD de uma tal "An Cafe" dentro.
Ele vira automaticamente para Vítor, com uma feição suave, mas um olhar reto.
- Isso é seu, sim?
Vítor não está tão calmo.
- Claro que sim, caiu na água quando meu pai ia mergulhar. - responde, com um pouco de pressa. - Não está achando que eu tentei matar meu pai, é?
- Ora, alguém aqui falou em matar? - pergunta Ronaldo, surpreso.
- Claro que não! - se mete Danilo, tenso.
O clima pesa no quarto. Danilo olha assustado pra Vítor, que se adianta e pega o rádio e o CD, estragados. Depois, vira-se e vai embora. Danilo, nervoso, resolve segui-lo.
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Bernardo e Ronaldo estão conversando e botando André, que chegara com uma loira, dentro da situação.
- Cara, sinistro. Coisa de filme de terror. - diz André, assobiando depois.
- É, mas foi bem real. - replica Ronaldo. - Achei realmente que meu irmão fosse morrer ali.
André dá um muxoxo de impaciência.
- Nada, aposto que o Vítor chamou ele de "vaso ruim".
- Chamou - confirma Bernardo, com um sorrisinho.
- Então, se liguem na expressão.
Pouco depois, chega Ana Paula.
- Oi, mano! Que susto levei quando me ligou falando do Paulinho! Vim dirigindo com um rosário nas mãos, rezando!
Bernardo, André e Ronaldo balançam a cabeça. André se levanta e traz a loira junto.
- Aqui, maninha! Deixa eu te apresentar a Cristine...
- Eu dispenso suas colegas, André. - diz ela, já indo pro quarto. Cristine fica espantada.
- Fica assim não, querida, ela é santa demais...
- Ela é uma freia. - justifica Bernardo com um sorriso, e vai atrás da tia.
- Posso entrar? - diz ele, após bater na porta e abri-la.
- Entre, apenas não quis ficar com seu tio e suas "amiguinhas". Isso já vai virar um antro de prostitutas...
Bernardo fica calado e se move até o sofá que há no quarto da tia, diante de um pequeno altar onde ela reza todas as noites. Ana Paula se senta numa poltrona branca em frente ao sobrinho e se vira, interessada.
- Então, parece que quer conversar. Estou certa?
- Sim... e é mais sério do que a senhora pensa.
- Sobre o quê é? - indaga a religiosa.
- Sobre... seu filho perdido.
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- Filho... por favor. - Começa ela, se levantando. - Não vamos falar no que já está morto e enterrado...
- Talvez... não esteja. - responde Bernardo de supetão.
Ana Paula vira-se, espantada.
- É alguma brincadeira de mal gosto do Meija, menino?
- Claro que não! Você sempre soube o homem sério que o doutor Meija é. - ele se levanta. - Acontece... que ele nunca se perdoou por seu filho ter morrido.
- Sim, e daí?
- Daí que, com essa nossa reaproximação com essa família e... a morte da Bia (Ana Paula estremece), ele resolveu dar mais olhadas nos arquivos e notas pessoais dele, e das enfermeiras antigas. Os registros dizem que, antes de presumivelmente morrer, ele foi levado para sala ao lado, onde dão o primeiro banho nos meninos, e depois, devolvido à senhora.
- Ele nunca chegou à mim. - Lamenta a religiosa, tristonha.
- Exato. Hoje, após conversar com umas enfermeiras, ele acha que seu filho foi roubado na maternidade.
Ana Paula levou as mãos à boca, chocada. Bernardo não consegue falar nada, também está abalado.
- Mas... depois de vinte e um anos! Meu Deus... será que ele levará isso adiante? - indaga a freira.
- O doutor Meija me garantiu que iria continuar investigando tudo que estivesse ao seu alcance. - respondeu Bernardo, esfregando as mãos. - Só nos resta esperar... por um tempo.
Na estufa da mansão...
Arthur estava arrumando os vasos, pensativo,
- Ah, eu tenho que pegar dona Luana...
- Falando de mim, gato?
A loira vem entrando, sensual, e fecha o portão da estufa. Arthur vira-se rápido pra ela.
- Ah... dona Luana.
- Não tem problema, hoje pra mim tá ótimo!
Ela avança e os dois se beijam. O amasso cresce e eles se debruçam sobre a mesa que há ali, derrubando um vaso de plástico. Arthur silencia a patroa e os dois seguem para a casa dos empregados.
Ali, recomeça o rala e rola, e os dois se trancam no quarto de Arthur. Depois, intrigado com o barulho dentro da casa, Wagner chega e procura silencioso pelo irmão no quarto. O flagra é inevitável.
- Arthur!
- Wagner! - responde o outro espantado. Luana faz cara de desdém.
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- Que pouca vergonha é essa aqui na minha frente? - pergunta Wagner, porém com o olhar fixo na patroa.
- Bem, é o quê você está vendo. - diz Arthur, cínico.
Luana se veste silenciosa e provocante, entre os dois irmãos que se fitam, furiosos. Ao sair, provoca Arthur dando um beijo em Wagner, que fica vermelho e espantado.
- Não me diga que também está afim da patroa? - ironiza Arthur, possesso.
- Eu não falei nada, mas posso falar de vocês dois!
- Você não teria coragem, e mesmo assim, é minha palavra contra a sua. - Arthur parece seguro. - Vai encarar?
Wagner hesita por um instante. Mas baixa a cabeça.
- Melhor assim. - diz o jardineiro, se afastando.
Longe dali, no edifício de Bernardo...
É reunião de condomínio, no mezanino. Os condôminos já estão indo embora. Bernardo, que ficara conversando com o síndico, dispensa a mulher, que sobe, e fica para trás. Ao sair do salão, para tomar um ar, tem sua visão limitada por Juliana, que sorri.
- Que está fazendo aqui? - pergunta ele.
- O mesmo que você, querido. - ela responde, sorridente.
Ele indica o jardim de acesso ao prédio e os dois vão pra lá.
- Porque continua me cercando?
- Você sabe muito bem o quê eu quero... - ela diz, provocante. - Preciso ser mais explícita?
Ele vai retrucar, mas a médica o agarra e lhe dá um tremendo beijo.
- O QUÊ PORRA É ISSO?
Bernardo larga Juliana imediatamente. Se vira e dá de cara com ninguém menos do quê Ana Paula.
- Eu sei que você mandou eu vir "mais tarde", mas eu acho que ainda é a hora errada, hein? - ironiza a tia, profundamente magoada. Juliana aproveita a deixa para ir embora.
- A gente tem muito a conversar mesmo, tia. - responde o arquiteto, duro.
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