Capítulo 7 - Mais Uma Noite
Bernardo leva Ana Paula para além do jardim, onde haviam alguns banquinhos de madeira. Ele se sentou em um, mas Ana Paula ficou em pé, raivosa.
- Anda, comece a falar, seu malcriado! Você é um homem casado e fica se atracando com outra dentro do próprio condomíno, você acha que isso tá certo, meu filho?!
Bernardo parece ligeiramente envergonhado.
- Acho sim, ela é impulsiva e eu não pude fazer nada. Mas, eu preciso lhe dizer, tia...
- Dizer o quê? - Indaga a freira.
- Eu estou afim dela. É sério. - Diz o arquiteto, de cara fechada.
Ana Paula parece arrasada. Leva as mãos a boca e anda alguns metros, até o banquinho defronte ao de Bernardo, que está levemente tenso.
- O quê você vai fazer para me impedir de subir e contar tudo isso pra sua esposa, que eu gosto tanto? Hein? - pergunta a tia, ligeiramente ameaçadora.
- Tenho assuntos melhores do que isso, agora. - diz Bernardo sem rodeios.
Ana Paula cai na gargalhada.
- Meu querido sobrinho, não sei se percebeu a gravidade do assunto. Eu acabei de pegar você traíndo sua esposa com uma qualquer dentro de seu prédio! Isso parece desinteressante aos seus olhos?! - ela grita, tresloucada.
Bernardo parece querer contornar a situação.
- Eu não quero falar sobre isso agora, tia!
- Ah, é? E cadê a sua maturidade, Bernardo? - pergunta Ana Paula, irônica.
- Não é hora de falar isso! - pondera o sobrinho, ofendido. - Chamei-a aqui para falar do seu filho!
A freira para quase que instantaneamente de gesticular e sua expressão passa para a esperança.
- Como assim? Meu filho?
- O Dr. Meija me ligou hoje mais cedo. Disse que fez uns telefonemas e disse que achou o cartório.
- Cartório... - ela reage lentamente.
- E do cartório, conseguiu o endereço da mulher que adotou um menino. Um menino nascido no mesmo dia que o Augusto e com as mesmas características dele.
- Meu Deus! Será que é verdade? - Ana Paula está sorridente, e parece ter esquecido a discussão posterior.
Bernardo parece satisfeito de mudar os rumos da conversa.
- Enfim. Ele pediu que eu ligasse quando estivesse na sua presença. Vamos subir, lá nós telefonamos, e podemos ir atrás dele.
- Certo, certo, vamos... - diz ela, já se encaminhando para a entrada do hall. - Ah, e querido...
- Sim? - responde Bernardo.
Ela o olha incisivamente.
- Não pense que esqueci do nosso assunto.
- - - - -
Longe dali, na mansão Oliveira...
Ronaldo está entrando na enorme sala de TV, e dá de cara com Luana. A loira está esticada em uma das chaisses e sorri para o cunhado.
- Cunhadinho querido! Como foi seu dia de trabalho?
Ronaldo não parece muito disposto à conversas cordiais.
- Estou aqui mais com um pedido. Quero que você coloque juízo na cabeça do seu filho, estamos entendidos?
- Quem falou aqui que meu querido Vitinho não tem juízo na cabeça? - pergunta Luana, irônica.
- Deixe de ser sonsa, você sabe muito bem que o Vítor não é nenhum santo. - responde Ronaldo. - E eu ainda acho que o incidente com seu marido não teve nada de incidente...
- Porque ele iria matar o pai, Ronaldo? - diz Luana, levantando-se, irritada. - Quem iria dar o dinheirinho dele? A gasolina do carro dele? Hein? As roupinhas? Ele não teria motivo nenhum para matar o pai dele, é claro que isso foi um acidente.
- Mas, veja...
- Agora chega! - diz ela, erguendo as mãos, com impaciência. - Não quero discutir sobre o meu bebê, você me cansou! Ah, que tédio! Vou dar um passeio no jardim...
- Não seria no jardineiro...? - diz Ronaldo, baixo, para si.
Alguns segundos depois Luana já está se atracando com Arthur na estufa.
- Safada...
- Gostoso! Ui.
Um pouco longe dali, Wagner olha tudo. "Esse desgraçado", ele pensa. "Ela ainda vai ser minha!".
Perto dali, Vítor e Danilo estão caminhando para o carro. Discutem sobre aonde podem ir.
- Mas eu queria ir pra alguma balada.
- Mas tá cedo, cabeção! - responde Danilo animado.
Vítor o olha com desdém.
- Quer ir a pé?
- Tá brincando?
- Então cala a boca, e me diz algum barzinho onde toque um rock legal.
- - - - -
Na cobertura de Bernardo...
- Zilá? Cadê a minha mulher? - pergunta o arquiteto assim que encontra a babá das filhas.
- Ela desceu com as meninas pra brinquedoteca, tem umas garotinhas lá. - ela sorri. - Vou me deitar, estou um pouco sonolenta. Boa noite pro senhor, e pra senhora!
- Boa... - diz Ana Paula distraída, enquanto Bernardo retorna com um bloco de notas e o celular. - Então, tinha que verificar se a barra tava limpa, né?
Bernardo estranha as palavras da tia.
- Nada disso. Enfim... vamos ligar logo. Fale você, ele queria falar com você.
- Ah... certo! Passa isso pra cá! - ela arranca o telefone das mãos do sobrinho e disca o número.
Bernardo se senta, ainda tenso.
- Alô? Doutor Meija, sou eu... Ana Oliveira! Sim, sim!
Ela parece muito esperançosa.
- Certo... eu lhe pediria só... que passasse a parte burocrática. - Bernardo sorri. - É... eu estou um pouco agoniada. Quer dizer que achou o endereço do meu filho?
Ela faz uma pequena pausa pra ouvir.
- Claro... é só uma possibilidade! Mas, enfim... sim. O endereço!
Ela acena a mão várias vezes para Bernardo lhe dar o bloco de notas e então anota fervilhantemente o endereço.
- Sim, sim! Obrigada! Muito obrigada! - ela desliga o telefone e o lança pelos ares. Bernardo se adianta para pegá-lo, e quando olha, Ana Paula já está com a mão na maçaneta.
- Mas, tia, onde você vai?
- Eu vou lá, é claro. - responde ela, com desdém. - Que pergunta mais besta...
- Já é tarde, são quase dez horas! - diz Bernardo. - Melhor deixar isso pra amanhã, não?
- A noite é uma criança, sobrinho, nunca escutou essa? - responde uma astuta Ana Paula, sorrindo, abrindo a porta e se dirigindo pelo portal.
- Espera tia, eu dirijo, eu vou com a senhora! - grita Bernardo, que a acompanha.
Na brinquedoteca...
Jéssica conversa com as mães de umas amiguinhas animadamente, enquanto vigia Alice e Carol, que brincam alegres. Pouco depois, surgem Juliana e Verônica, que resolveram ir para o bar, e passam pelo corredor que passa ao lado da brinquedoteca.
- Olha, a mulher dele... - diz Verônica, devagar.
- Psst, disfarça, queridinha. - responde a médica. - Oi, queridinha!
Jéssica escuta e se volta para a porta de vidro entreaberta, e se vira, com um sorriso simples.
- Oi, Juliana... essa quem é?
- Minha prima, Verônica. - a outra dá um aceno, sorrindo. - Estava falando pra ela sobre a ótima pessoa que você é!
- Ah... obrigada, Juliana. - ela sorri, encabulada.
- Vamos para o bar, quer ir conosco? - pergunta Verônica.
- Ah, Vevê, a Jéssica é muito ocupada, ela precisa cuidar das criancinhas, ficar de olho nelas, não é, queridinha?
- É uma pena, mas hoje é a noite das meninas, Juliana. Talvez um outro dia. - responde Jéssica, séria.
- Talvez, quem sabe... - responde a médica, azeda.
- - - - -
Leonora está passando pela academia da casa dos Oliveira, quando se depara com alguns ruídos de dentro e se vira para ver. André está lá, fazendo um enorme esforço.
- Aqui à essa hora, tio?
- Humpf! Sem essa de tio, Leonora! - ele reclama, com desdém.
- Desculpa, seu André... - ela sorri, encabulada.
Ele se levanta do supino, com a cara amarrada.
- E agora tá me chamado de senhor? Logo eu, que sou um rapaz... - ele se olha no espelho, rindo. - Assim eu vou ficar aqui até uma da manhã!
- Que é isso, o senhor tá com tudo em cima. - ela se exalta, levemente.
André estranha, mas acha bom. Solta outro sorrisão e dá uma volta pela sala. Apanha a garrafinha d'água e dá um belo gole.
- Vamo pro jardim, conversar?
- Ahn... sim, pode ser. - diz ela, tímida.
Eles caminham até o lado da piscina, onde havia um enorme banco de pedra bruta. André se senta de súbito e Leonora, bem próxima, tropeça no pé dele, caindo sobre seu colo.
Os dois abrem a maior risada.
- Eh... que bom que eu te segurei, né?
- É... obrigada... - responde a nutricionista, com um sorriso.
Os dois se olham, estranhos, e André a ajeita de seu lado no banco. Ele se espreguiça e ela se endireita, sem olhá-lo.
- Então... porque uma garota bonita feito você não saiu ainda, prum bar, pra orla, ver gente? Você é novinha, Leonora, devia estar se divertindo.
- Ah, seu... - ela repara o olhar dele. - André. Eu cheguei cansada hoje do trabalho. Tinha uns adolescentes muito chatos, você sabe... na fase de aborrecer.
André dá uma risadinha.
- Fala assim... que eu já te vi nessa fase, garota. - ele dá uma piscadela. - Eu vi você crescer e passar pela fase aborrecente!
Ela dá um sorriso, tímida.
- Ainda bem que superou, agora virou uma mulher bonita, independente, inteligente... que mais...
- Tô interrompendo? - diz uma voz.
Os dois se viram e dão se cara com Ronaldo.
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Após rodarem por vários bares lotados, Vítor já estava ficando irritado. Quando finalmente acharam um bar razoavelmente vazio, demoraram mais de quinze minutos para achar uma vaga.
- Pô, finalmente!
- Cuidado, cuidado, cuidado, leso! Você vai bater!
- Que é, tá me chamando de barbeiro, Danilo?
- Não, mas você está entrando muito rápido na vaga, só isso!
- Não me estressa, já estou irritado.
Após algumas manobras e mais irritação, Vítor e Danilo pulam do carro. Algumas garotas passam, e Danilo tenta sorrir para elas.
- Ei, vamos! Tá enchendo de coisa boa!
- Espera, deixa eu fechar o carro... pronto, vamos!
Eles se apressam, mas ainda enfrentam uma pequena fila para o ingresso.
- Ingresso, pra bar?! - reclama Vítor, alto. - Agora é o quê? Jogo de futebol?
- Cala a boca, é o couvert artístico...
- Sete reais pra ouvir uma bandinha cover?
- Deixa de ser mesquinho, e além do mais, você vai soltar que "é dinheiro do meu pai mesmo".
- Mas é. - retruca Vítor, chateado.
- Vamos, ali. - aponta Danilo, excitado.
Entram, a atmosfera é de excitação. Um longo balcão de madeira está lotado de braços e pessoas debruçadas atrás de drinks. Um filete de neon corre por todo o piso. Num canto, um pequeno palco já está com alguns instrumentos.
- Gostei... gostei daqui. - começa Vítor.
- Falei que aqui era bom!
- Você falou isso nos últimos cinco bares que passamos. - debocha o playboy. - Anda, quero tomar alguma coisa.
Ele avança em direção ao balcão, mas tromba com uma jovem de cabelos cacheados que ali passava.
- Ai!
- Ai, desculpa... moça.
Ele repara ligeiramente na beleza da menina. Nova como ele, ela sorri e solta um "tudo bem", que fica no ar. Abobalhado, Vítor estende a mão pra desconhecida.
- Muito prazer, Vítor Oliveira.
Ela dá uma risadinha. Olha ligeiramente em volta e aperta a mão dele.
- Prazer, Samanta.
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A traição rolando solta. Luana ainda pensa que esse trombadinha do Vitor é um santo só a mãe mesmo. Ansioso para ver a Resolução do caso de Ana Paula, ela merece ser feliz depois de tanto sofrimento!
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