Capítulo 17 - A Retomada
Angelo acordou, no dia seguinte ao casamento do pai e Renata. Após escutar uns gemidos do lado de fora do quarto, saiu, curioso e encontrou Donato mancando pesadamente, carregando uma bandeja de café da manhã. O milionário se adianta e tropeça, quase caindo. Angelo corre e apoia o pai, que está com os olhos marejados.
Donato (envergonhado)- Obrigado.
Angelo- Que é isso, pai? Não devia carregar esse peso todo escada acima.
Donato (entrecortado)- Era o mínimo... que eu podia fazer.
Angelo- Poderia ter me pedido ajuda, pedido à uma das empregadas...
Donato (irritado)- Que é isso... eu devia fazer isso pela minha esposa, já que nunca o fiz antes... (ele balança a cabeça)- Ai, ai... é curioso como ficamos quando... bem, vou indo.
Angelo vai argumentar, mas nada fala e o pai sai mancando. Bate na porta e entra. Pouco depois, Leonor sai da uma porta mais longe, parecendo intrigadíssima.
Leonor- Eu não acredito que ele fez isso de verdade! Seu pai está ficando completamente maluco! Devíamos interditá-lo.
Angelo- O papai está com o juízo perfeito, creio eu.
Leonor- Ainda não sei o quê ele viu nessa zinha... preta, pobre e ex-presidiária!
Angelo (zangado)- Que é isso, mãe!? Não fale assim! Eu... entendi a história dela, e não creio que seja uma delinquente. Acho que o papai também, e quer ajudá-la.
Leonor (debochando)- Seu pai está querendo zombar barato, meu querido. Esse casamento dele é nada menos que uma afronta pro meu lado.
Angelo (caminhando para seu quarto)- Pode ser. - Ele fica no portal, fitando-a. - Mas eu destesto dizer, mãe, que foi você quem causou isso.
Ele bate a porta e Leonor soca o corrimão, com ódio.
Leonor- Essa desgraçada tá querendo acabar com a minha vida... mas eu vou me vingar.
(intervalo)
Donato e a agora esposa Renata estão sentado na cama, a bandeja entre os dois. Donato parece abatido e Renata nota isso.
Renata- Eu insisto que você não precisava trazer meu café, Donato.
Donato- Um marido faz isso pela esposa, não é?
Renata (sorrindo)- Eu sei... marido (ele ri), mas você não está com muita força pra fazer isso...
Ela percebe que Donato se retrai com essas palavras, e se cala. Passa para o lado dele e o abraça. Rolam lágrimas dos olhos do empresário, que comovem Renata, que o olha nos olhos.
Renata- Quer desabafar?
Donato- Isso tudo é difícil pra mim, Renata. Eu... eu sempre fui forte, admirado, trabalhador. Nunca estive doente, acuado, nada. De repente eu me vejo com um câncer terminal, que me faz doer o corpo todo para andar, ao dormir. Eu nunca tinha me sentido frágil, vulnerável. Nunca.
Renata está bastante atenta. Donato levanta, contraindo o rosto furiosamente de dor, e se sustenta na bengala.
Donato- A minha vida estava acabada. Eu estou com uma mulher vagabunda, um filho competente, mas volúvel... e uma montanha de dinheiro que não faria nenhum bem à nenhum dos dois. Ela precisa... bem, ela precisa se danar. (Renata dá uma risada, tapando a boca em seguida)... o Angelo, bem... o Angelo precisa aprender a batalhar pela vida.
Renata (sincera)- Nisso concordamos.
Donato- E é você que vai me ajudar nisso tudo. E eu creio... creio que a hora de você agir não está muito longe.
Renata- Não... não diz isso. Você é a melhor pessoa que eu conheci em anos... não poderia ir embora agora.
Ela parece também à beira das lágrimas e vai até ele. Os dois se abraçam.
Donato- Infelizmente, essa é uma coisa que eu não posso pagar pra mudar.
(intervalo)
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