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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

8 ou 80 (Último Capítulo)

Capítulo 20 - Saindo dos Extremos





Após ter doado sangue para Melina, Caio foi para o exterior do hospital. Logo chamou a atenção dos repórteres, que o bombardearam de perguntas. O menino se irrita e grita um "Calem a boca!", que espanta todos os presentes. Márcia e Laila correm até lá a tempo de ver todos se calarem.
- Por favor, escutem bem o quê eu vou dizer. Tenho noção do que vocês estão falando. Vão chamar a Melina de pedófila, exploradora e o escambal... CALEM A BOCA! Eu estou falando! - ele acrescente, quando tentam falar.
- Esse é dos meus. - sussura Laila para a mãe. Caio retoma a fala.
- O explorador da história sempre fui eu. Quem seduziu a Melina fui eu. Eu criei uma situação embaraçosa pra ela, e a chantageei. Fui eu. - repete ele para a cara incrédula de uma repórter. - Fui eu, moça. Ela não teve culpa de nada. Eu que sempre gostei dela, e fiz tudo por ela.
- Ela é sua professora, vários anos mais velha que você! - diz a repórter.
- Se eu dissesse que fiz tudo por amor, você acreditaria? - responde Caio, sorrindo, irônico, e a repórter fecha a cara. - Não sei o quê é amor, não sei se senti amor por ela, mas sei que eu quem meti a minha professora nisso tudo. Com licença...

Caio vai se afastando; uns repórteres tentam avançar e são contidos por dois seguranças. Laila e Márcia seguem Caio até a sala de espera.
Laila vai buscar um copo d'água, enquanto Márcia vai até Caio, que se senta e mantém a mesma posição de lamento anterior. A advogada se senta ao lado do menino e repousa uma mão no ombro dele.
- Foi muito corajoso pelo que fez, filho.
- O-Obrigado. - soluça ele.
- Laila, me dá isso... - ela arranca o copo com água das mãos da filha e dá pra Caio, que agradece. Laila fica indignada e vai encher outro copo para ela.

- Foi tudo verdade.
- Como? - pergunta Márcia, abobalhada.
- Não menti. Tudo que falei foi verdade.
- Eu, eu acredito em você, Caio. - diz Márcia, com um sorriso trêmulo. - Eu sou advogada, eu sei quando escuto algo verdadeiro.

Caio dá uma risadinha. Pouco depois, o médico chega e diz que Melina já está no quarto, acordada.
- Quer vê-la? - pergunta Márcia.
- Não... - ele responde, infeliz. - Pra mim é melhor esquecê-la.
E, ao saber que está liberado, Caio vai embora. Impressionadas, mãe e filha vão até o quarto de Melina e contam todo o ocorrido. A professora, fraca, ainda tme forças para lançar um olhar incisivo e duvidoso para as duas.

- As vezes me dá vontade de ser da idade dele. - ela diz, por fim. - Mas nunca daria certo.
- É? - pergunta Laila, de metida.

Melina dá um breve sorriso e um ganido baixo de dor.
- Agora, relaxe, irmãzinha. Quero você bonita, pro meu casamento. A gente resolve tudo. - Márcia sorri, e levanta o lençol de Melina.


- - -
Alice arma um encontro entre Alexandre e Ricardo, num barzinho bem movimentado. Ela aguarda, numa mesa reservada, e observa o estudante aguardando apreensivo à sua chegada. Davi, bebendo uma cerveja, sorri vendo Alice olhar a toda hora para Alexandre,  sentado junto ao balcão, no andar térreo do bar.

- Ah-ah, vai ser bem legal! - ela sorri, com uma caipirinha na mão. - Tanto o Alex quanto o Ricardo tão pensando que eu chamei eles separadamente para conversar aqui. Aí, o Ricardo vai chegar e... bum! Tudo certo já!

Davi fica só rindo.

- E você tem certeza que esses seus amigos vão ficar juntos?
- Certeza? Só Deus, amor... - ela se adianta e beija o rapaz. - Mas se até a gente ficou junto, porque eu e você não temos nada a ver... - ele ri. - Se até a gente ficou junto, esses dois se acertam! Olha... ele chegou!

Ela aponta freneticamente para a entrada do bar. Ricardo, ainda com a barba mal-feita e com leves olheiras, vasculha todo o bar a procura de Alice. Alexandre, olhando para a TV do lado oposto, não o vê. Sem localizar a amiga, ele puxa o celular para verificar a hora e anda até o balcão. Olha rapidamente para o cardápio de drinks e se senta.

- Hum... me vê um mojito, por favor.

O barman se afasta, mas a figura ao lado de Ricardo se vira para ele.

- Não acredito.

Alexandre olha para Ricardo, com olhos de descaso. Ouve-se uma nítida exclamação do alto, e algumas pessoas incluindo os dois olham. Alice tapa agora a boca se repreendendo por ter se manifestado, e Davi toma o copo de caipirinha da mão dela. Alexandre balança a cabeça duas vezes, já pegando o casaco pendurado no encosto do banco. Ele se adianta para ir embora, mesmo com Ricardo dizendo "Espera!". O cozinheiro olha impaciente para Alice, que balança a cabeça várias vezes, e corre atrás de Alexandre.

O rapaz anda, pela calçadinha da orla. Ricardo, correndo, logo o alcança. Segura hesitante o braço dele, que se vira, o rosto cheio de lágrimas.

- Por favor, me deixa falar.

Os dois parece bastante nervosos.

- Eu fui um completo idiota e admito isso.
 - Certo. - rebate Alexandre, cético.
- Por favor, me deixa falar. - Ricardo parece péssimo. - Você conseguiu mexer muito comigo.

Alexandre se senta num banquinho de pedra da praia, e Ricardo senta junto.

- Eu te seduzi sim. Eu te via apenas como um corpo, sim.
- Finalmente você admite... - começa Alexandre, desgostoso.
- Mas você mexeu comigo! Ninguém, NUNCA, me fez o quê você fez.
- O quê, lhe dar um fora?

Ricardo silencia por um minuto, e também sucumbe às lágrimas.

- Você nunca tinha levado um fora? - Alexandre parece incrédulo.
- Eu sempre tive dinheiro. Meu dinheiro nunca me deu um fora. - Ricardo dá um sorriso amarelo, e Alexandre parece menos nervoso.

- Eu... eu me machuquei tanto quando você me deu um fora... isso não era da minha natureza, Alê... nunca tinha acontecido pra mim. E depois...
- Depois o quê?
- Eu não tava percebendo que, mesmo não sendo tão íntimo... eu tava tão dependente de você.
- De mim? - Alexandre parece duvidoso.
- Sim... - Ricardo olha nos olhos do outro. - Eu demorei pra perceber isso. Quando caiu a ficha eu tava caindo de bêbado, passei vexame na frente dos meus pais... eu parei de dar aulas... eu não consigo me concentrar em nada, não pensar em você...

Alexandre fica calado, espantado com tanta sinceridade e a ferocidade que Ricardo diz tudo. Os dois choram, novamente.

- Cara... eu te amo. Não sei mais viver sem você. Vamo voltar?

Alexandre chora, não consegue conter a emoção. Ele faz que sim com a cabeça, e avança sobre Ricardo. Se segue um abraço longo, afetuoso, e Alexandre dá um beijo na bochecha de Ricardo.

Passam uns minutos, e eles se separam. Alexandre de repente se levanta, com cara de riso.

- Agora para de chorar! - ele ri. - Tem um mojito te esperando lá no bar... e eu quero dar um cascudo na desmiolada da Alice.
- Sempre ela, né? - diz Ricardo, sorrindo. Os dois dão as mãos e caminham de volta.


- - -


Passam três meses.



Melina está se arrumando em sua casa, junto de Laila. As duas estão se maquiando em frente ao espelho. Melina cutuca o nariz da sobrinha de repente e as duas riem.

- Tá linda, tia.
- Quero ver sua mãe. Nunca pensei que ela gostaria de se arrumar sozinha pra se casar.

Após a maquiagem, as duas se vestem. Na sala, Laila calça os sapatos enquanto Melina chega, carregando as bolsas das duas.

- E... Laila... o seu namorado?

Laila levanta os olhos num gesto de desdém.

- Ele... disse que ia prum congresso. O Tiago tinha dado um sumida, pra conclusão do curso dele, eu até entendi, mas outro maldito congresso?
 - Lailinha, querdia... - Melina se senta ao lado da sobrinha, e dá as mãos à ela. - Você tem certeza que ele não vai? Tá tudo bem com...
- Tá! Tá sim... - ela se levanta. - Eu... vou no banheiro rapidinho.

Mal Laila se enfurna no banheiro Melina retira o celular de dentro da bolsa. Começa a passar um SMS, sorrindo.

- Tá... dando.. tudo... certo. Enviar... - ela suspira. - Vamo ver se tá tudo certo mesmo.

Uma batida na porta assusta Melina. Desconfiada, a professora abre a porta e dá de cara com Caio.

- Ahn... - faz a professora.

Uma descarga atrás dela e o barulho de uma porta se abrindo anuncia que Laila entrou na sala. A ruiva anda até a tia e fica em silêncio.

- Tudo bem... - diz Caio. - Eu não deveria ter vindo mesmo.
- Não... acho que vocês precisam conversar - diz Laila desajeitada. - Eu vou... pra varanda.

Quando Laila se ausenta, Melina anda até o sofá e se senta. Caio mantém-se imóvel.

- Eu soube que você perdeu o emprego.
- Eu não me imaginava empregada quando a nossa história veio à tona.
- Mas você tá bem?

Melina se espanta com o tom da pergunta, e sorri.

- Tô bem, sim. - responde, levemente.
- Certo, era tudo que eu queria saber. - ele vai se adiantando pra sair, sem olhá-la.
- Ei.

Melina se levanta, e Caio se vira devagar, a mão ainda na maçaneta.

- Obrigada. - ela fala, sem ar.
- De nada. - Caio responde, com um leve sorriso. - Os dois se adiantam e trocam um forte e rápido abraço. Caio a solta e vai embora, no momento em que Laila entra. Melina se vira e vÊ a cara sapeca da sobrinha, que sorri.

- Foi só um abraço! Por mais gostoso que ele seja não passou disso!

Laila dá uma risada junto da tia.

- Agora vamos, senão a sua mãe me mata!


- - -


Ricardo está conversando com a mãe, no apartamento. Os dois estão na varanda, lanchando. Ambos riem um tanto. Ricardo faz umas mímicas e diverte Fiona, que rola de rir. Momentos depois a porta se abre, e Wallace entra em casa, fazendo mãe e filho silenciar. Wallace deixa a pasta na mesa, como lhe é comum e anda até a varanda silenciosamente.

- Oi. - diz, tenso.
 - Ahn... eu vou... tomar água. Já volto. - diz Fiona erguendo-se rapidamente, embora houvesse uma jarra com água na mesinha. Wallace se senta na cadeira que a esposa ocupava e se vira para o filho.

- Oi, Ricardo.
- Oi, pai.

Os dois se encaram e o silêncio pendura.

- Como vai o... Alexandre?
- Vai bem... tá estudando.

Mais uma pausa. Ricardo agora fita o pai e Wallace o imita. Momentos depois os dois abrem a boca no mesmo tempo.
- Me perdoa, pai?
- Me perdoa, filho?
- Hã?!

Eles caem na risada.
- Tá pedindo perdão porque, Ricardo?
- Por aquele vexame que eu dei, por vários desaforos... - começa Ricardo a enumerar. Wallace sorri.
- Isso não é nada, Ricardo. Minha vez...

Ricardo fica sério, o olhar brilhando.
- Me perdoa, filho, por nunca ter te aceitado?

Ele cai no choro, juntamente com Ricardo, que mantém a cara dura.
- Me perdoa por nunca ter concordado contigo... por nunca ter te apoiado nas suas decisões, por nunca ter apreciado seu trabalho... por nunca ter sido um pai. Me perdoa?

Ricardo parece hesitante por um instante. Pega a jarra, aponta para a boca e começa a beber dali mesmo. Após molhar-se, sorri para Wallace.
- Perdoo, cara. Toca aqui.

Wallace sorri, e eles apertam as mãos, se levantando. Depois, se abraçam, sorrindo.
- Você faz o jantar hoje, tá certo? Faz alguma coisa que acha que eu goste.
- Pode deixar! - Ricardo se adianta. - Pode sair detrás da cortina, mamãe...

Fiona faz uma cara de indgnação para o filho, e depois se vira para Wallace.
- Tô orgulhosa de você.
- É... eu também.
- Vamos?


- - -
Após a troca de "sim", Otávio e Márcia se divertiam na pequena festa, apenas para família e amigos. Laila dançava com um primo enquanto Melina estava dando em cima do barman da festa.

- Ah, é mesmo? Acho que já te vi lá! - disse a professora.
- Foi? Quando aparecer de novo, já pode falar?
- Falar eu estou falando agora, meu querido. - disse ela piscando. - Se eu passar naquela academia de novo a gente fará outra coisa...
O barman focou os olhos no decote de Melina quando a morena se virou para Laila, que parara de dançar e agora se sentava, entediada.

- Já volto, querido... opa!
O celular dela emite um alerta de mensagem. Ela para no meio do caminho e faz uma ligação.

- Alô... oi, querido... sei... chegou? Ótimo, me espera aí...
Melina sai. Minutos depois, ela se senta ao lado de Laila.

- Ah, pensei que não ia se sentar mais comigo.
- É, querida, o barman é bem interessante... mas é outra coisa...
- O quê?...
Laila se vira e olha para onde Melina aponta. Seu queixo cai ao ver Tiago ali, parado, arrumado e (o melhor, para ela) sem nenhum livro de Física por perto. Laila se levanta, e Melina a imita.

- Agora que está entregue, eu vou voltar ao barman... com licença...
Laila anda até o namorado, que tentava sorrir (a orelha coçava à beça).

- Amor... cê tá lindo! Eu... eu...
- Eu também não sei porque estou aqui. Acho que até sei.
- Sabe, é? - diz Laila, sorrindo.
- Sei... - ele abraça Laila. - É por você... meu amor.

Laila não diz nada. Tasca o maior beijão em Tiago. Os dois continuam abraçados e vão para a pista de dança quando começa a tocar uma salsa bem animada.
- Agora você vai ter que dançar, meu querido!
- Dançar? Eu? Nãão...!
- Vai sim, deixa de enrolação, vamos!

Eles vão, e Tiago pisca para Melina, que está sorrindo, junto de Márcia.
- É, tô vendo que eu até curto um velho romancezinho...
- Tá, cupido, volta pro seu barman! - diz Márcia, que cai na risada junto a Otávio, que chega. E, em meio as danças, Melina desaparece com o barman e mãe e filha sentam juntas, enquanto Tiago e Otávio conversam.
- E aí, filha, tá feliz?
- Ô! Só até capaz de falar de novo em... meus carmas!
FIM


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