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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Histórias da Mansão

Capítulo 1 - Lembranças










Luzes psicodélicas brilhavam a cada canto. Pessoas sorriam e dançavam aos grupos. Amigas cochichavam umas com as outras e apontavam pros garotos que se interessavam. A atmosfera é juvenil e alegre.

Num extremo, os organizadores da festa, a família Oliveira. A mais nova deles era uma graça. A sua dança chamava atenção e as meninas a invejavam. Pouco depois, Daniel se aproxima e tapa os olhos da loira. Ela sorri.
- Daniel?
- Acertou! - ele sorri e dá um leve beijo na menina. O olhar dos dois é radiante. - Demorei muito?
- Demorou sim! Achei que você não vinha mais... - Ana Paula faz beicinho, mas sorri.
- Agora já estou aqui... ahn... me deixe falar com seus irmãos...
Daniel larga ligeiramente a namoradinha para falar com o irmão dela, Ronaldo.

- E aí, rapaz? - se adiantou Ronaldo, com um sorriso, e estendeu a mão ao cunhado. - Chegou tarde!
- Foi... peguei um trânsito pesado... - diz Daniel.
-  Que pena... junte-se à nós! Pegue uma bebida... vamos! - ele sorri, indicando os irmãos, Paulo e André, que também estavam lá.

Daniel cumprimentou os outros, pegou um copo e foi para junto de Ana Paula. A menina, porém, sentara. Mantinha uma mão junto da cabeça e fechara os olhos.
- Que foi, meu amor? - Daniel se preocupa.
- Não sei... deve ser minha enxaqueca... - ela faz uma cara emburrada. - Ai... acho melhor ir para casa...
- Ô, amor... hoje eu não vim de carro... - Daniel faz cara feia. - Meu pai não quis me emprestar...
- Tudo bem... eu vim com o chofer... - ela tenta sorrir. - Espera...
Ela vai até Ronaldo, que conversa animado, e explica a situação.

- Que pena que tenha que ir... cuidado ao sair, aqui é bem esquisito... o chofer tá esperando na rua da igreja, lá tem menos carros. Agora não posso ir com você, Aninha... tenho que falar com uns anunciantes à mando de papai...
- Tudo bem, Ronaldo... - ela dá um pequeno sorriso. Daniel tenta acompanhá-la.
- Não precisa... fique, aproveite! - ela o beija. - Você demorou tanto pra chegar... agora fica aí, o Ronaldo te acha um cara legal!
Ela anda, um pouco tonta, pela festa, e sai, respirando fundo.

- Pronto, saí... agora é só achar o chofer.
- - - - -


Ana Paula avança pela rua deserta. O barulho da festa ainda a acompanha. Ela cantarola baixinho e sorri para si mesma. Vez ou outra massageia a cabeça, com cara de dor. Estica a cabeça olhando adiante, através dos vários carros estacionados pelo lugar.
Um quarteirão depois, sai um homem das sombras. Fascinado com a beleza da jovem, o homem a segue, lançando-a olhares sinistros.

Ana Paula custa a notá-lo. Ainda cantarola, ao avistar a igreja pouco adiante, ela apressa o passo. O homem nota e passa a correr. Ana Paula escuta os passos atrás dela e resolve olhar em volta. Ela percebe o misterioso homem à olhá-la insistentemente e, com medo, resolve correr.

Mas aí já é tarde; ele a alcança e a puxa para um beco apertado ali perto.
- Não, moço! O quê você quer? - ela pergunta, quase histérica.
- Quero tudo, passa, dinheiro, jóias... bolsa, anda!
- Mas... eu não tenho nada! Nem com jóias eu vim, moço!... - ela começa a ficar enjoada com o cheiro do homem. O misterioso começa a apertá-la contra a parede e Ana Paula começa a se debater.

- Não, moço, para!
- Nada disso... você tem que me dar alguma coisa... não vou sair de mãos abanando...

- Não... não...  NÃO!
- Mãe?!


- - - - -


Ana Paula acordara. Já se passaram 21 anos daquela cena e ela nunca se esquecera. Uma bela moça andava pelo quarto até a então freira. Era Bianca, filha dela.

- Tudo bem, mãe? Tava sonhando?
- Sonhando não, filha... pesadelo terrível... e real. - responde a loira. - Toda vez, perto do seu aniversário, eu sonho com isso... aliás... - ela olha para o relógio e sorri. - Já é seu aniversário, minha querida! Parabéns!

Ana Paula se levanta e abraça Bianca. As duas sorriem. Ana Paula começa agilmente a se arrumar.

- Vamos... preciso ajudar a arrumar a sua festa.
- Não, mãe! Tem gente que pode fazer isso... vamos à igreja, como sempre fazemos... - diz Bianca, sorrindo.

Ana Paula sorri alegremente para Bianca e faz um carinho na menina.

- Ah, minha filha... você é o orgulho da minha vida.

Mais tarde, as duas regressam à Mansão Oliveira, onde os amigos e familiares de Bianca já a esperam para a festa.
Ronaldo dá os parabéns à sobrinha, que, radiante, vai para junto dos amigos. Uma banda toca e eles se divertem. Ana Paula fica um tanto distante e Ronaldo vai até ela.

- Algum problema, minha irmã?
- Não, Ronaldo... o de sempre... nesse dia.

"o de sempre" era a lembrança... a lembrança de Augusto, o filho perdido... que morreu ao nascer.

- Mana... se ele não está entre nós... é porque Deus quis assim. Não é? E você tem uma filha abençoada com beleza, inteligência... e que só nos traz felicidade. Agora... anime-se! - diz Ronaldo, sorrindo.


- - - - -


Enquanto isso, após atender uma ligação do irmão Wagner, Arthur, jardineiro da Mansão Oliveira. Wagner estava sentado junto ao portão da mansão, e levantou-se, cabisbaixo, para falar com o irmão.
- Que é agora? - pergunta Arthur, sem emoção.
- Eu preciso te avisar... eu perdi o emprego! - ele parece muito decepcionado. - Peguei um ônibus lotado... e acabei chegando atrasado!
Arthur dá quase um tapa no rosto. Parece muito irritado.

- E você veio pedir arrego aqui?
- Só pra dizer que eu já tinha enviado um currículo para aquele hotel novo... eles estão precisando de recepcionistas e eu acho que consigo uma vaga!
- Não quero saber! - diz Arthur alto, cortando o irmão. - Não tô nem aí pra sua incompetência! Quero apenas que você me ajuda a sustentar a mãe e o pai, que dependem da gente!  Agora sai, tenho que trabalhar! Não me aparece aqui de novo.
Ele vai em direção às estufas, deixando Wagner desolado. Na estufa se encontra Luana, que vislumbra de longe alguns colegas bonitos de Bianca. Ao ver Arthur chegando, ela abre um amplo sorriso.

- Ah... se eu te pego, jardineiro...
- - - - -

Longe dali, num importante colégio, Sarah e sua amiga Daniele estão conversando ansiosas. Aguardavam o boletim e suas notas.
- Ai, deus, e o meu que não sai? - ponderou Daniele, cansada.
- Eu estou louca para ir para casa, tem a festa da minha prima lá! Adoro ela, ela me ensina tanta matemática! - diz Sarah, se referindo à Bianca.
Pouco depois, a porta ao lado delas se abre e a coordenadora aparece, sorridente.

- Sarinha... venha pegar seu boletim!
- Vai lá, amiga! Boa sorte! - diz Daniele, cruzando os dedos.
- Ui... lá vou eu! - diz Sarah, ansiosa.
Dois minutos depois, Sarah irrompe da coordenação com um enorme sorriso no rosto.

- Passei! Passei em todas!
- Ai, que bom, amiga!
- E tirei 10 em matemática! Graças a Bianca!
- Ai, ai... - faz Daniele, após abraçar a amiga. - Espero que o meu não saia uma completa desgraça...

Sarah ri e olha a hora.
- Hum... ainda bem que eu moro perto do colégio... de bicicleta eu chego lá rapidinho. Tchau, amiga, boa sorte!
- Tchauzinho! Boa festa, queridinha!
Sarah está animada. Corre, tira a corrente que prende a bicicleta, e sai, acenando para um outro colega. Pedala rapidamente, eufórica... e não percebe o sinal verde na rua ao lado do colégio.

- Cuidado, menina!
Ela não freia a tempo; um carro tenta parar mas colide em cheio com a bicicleta de Sarah. A menina grita, e é arremessada ao canteiro ao lado do semáforo, repleto de espinhos... ela grita de dor enquanto os motoristas param para ajudá-la.

(fim do primeiro capítulo)

Um comentário:

  1. Esse tema é muito importante, socialmente muito discutido, estupro parece coisa que acontece apenas com pessoas distantes. A parte mais gratificante foi ver Ana Paula tratar a filha muito bem, mesmo da forma que foi concebida. Muito legal essa abordagem!

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