(continuação, cap 14)
Renata (estranhando)- Como assim, Donato?
Donato (cético)- Acho que fui bastante claro.
Renata- Sim, eu entendi a pergunta. Mas, o quê eu tenho a ver com "o quê você nunca teve coragem de fazer"?
Donato- Dependendo de sua resposta, eu lhe digo.
Renata parece pensar muito naquilo tudo. Donato aguarda, pacientemente. Depois de muito tempo, Renata suspira e começa a falar.
Renata- Eu acho que nem coseguiria lhe falar, Donato. A vida me tirou tudo. Tirou minha dignidade, minha honra, minha família, meu amor... e principalmente a minha filha. Eu tinha planos... se tinha. Queria estudar medicina... queria salvar aquele posto médico de Praia Verde... queria, queria casar com o Tarcísio...
Donato- Seu antigo namorado?
Renata- Sim... nem sei o quê aconteceu com ele. Na última vez que o vi, eu estava dentro de um camburão saindo da cidade... a cara dele me disse tudo. Ele deve me desprezar.
Donato- Mas ele amava você?
Renata- Ele disse que sim, algumas vezes. Mas... depois de tudo isso, nem sei mais se ele lembra de mim...
Donato (cortando-a)- Você quer se casar comigo?
Renata (espantada; levantando-se)- COMO É?
(intervalo)
Donato- Tive que perguntar logo, antes que eu desistisse disso.
Renata (rindo)- O senhor só pode estar delirando!
Donato- Não me chama de senhor, eu me sinto um velho...
Renata- Como assim, você quer que eu me case com você? É algum tipo de assédio, Donato?
"Como assim, assédio?"
Leonor entra, segurando seu inseparável leque vermelho e fazendo uma cara ameaçadora.
Leonor- Explica isso pra mim, Donato. Você quer casar com a faxineira?
Donato (erguendo-se, com uma careta)- Saia! Agora! Essa é uma conversa entre nós dois!
Leonor- Nãããão, meu amor! Acontece que eu fiquei mais de vinte anos casada com você! E é isso que você vai fazer? Se divorciou de mim pra casar com a faxineira!? Você é um completo canalha! - e ela bate em Donato com o leque. Ele recua e quase cai.
Renata intercede e fica entre Leonor e Donato, segurando o pulso da loira.
Leonor- Como se atreve?
Renata (ousada)- Saia você! Saia! Eu estou conversando com o meu futuro marido!
Donato fica pasmo! Leonor, ainda mais. E Renata, espantada com a própria resposta, empurra Leonor para fora da cozinha.
(intervalo)
Em Praia Verde, um carro preto e grande, com três crianças barulhentas, para em frente à uma casa velha, próxima à praça central. Dele saltam uma mulher e um homem, os dois desajeitados. A mulher abre a porta de trás e os três filhos correm feito loucos.
Natália- Parem, parem! Ah, esse meus filhos loucos! Parem aí!
Juvêncio- Vai pegá-los, mulher! Tenho que ir abrindo a casa, o caminhão da mudança já tá chegando.
Ela faz cara feia e, tirando os tamancos, corre atrás dos filhos. Isaque, João e Diná pararam em frente à um mercadinho e pularam em cima da geladeira de picolés, e cada um tirou o seu favorito.
Natália (já tirando a carteira da bolsa)- Ai, meu Deus... oi, moço... quando custa os três juntos... moço?
Ele se vira e Natália se espanta. A morena dá um gritinho e abraça Tarcísio, que não esconde a surpresa. Pouco depois, os dois se soltam. Um senhor gordo, com cabelos e barbas espessos e quase grisalhos se aproxima e olha feio para Tarcísio.
Nicanor- E agora fica de papo com mulherzinha? Volta pro caixa!
Ele se afasta e intimida as crianças. Natália olha espantada pro velho amigo.
Natália- É, já vi que você deve ter muita novidade pra contar.
(fim do capítulo 14)
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