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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Histórias da Mansão

Capítulo 3 - O Jantar











No Hospital Meija, Patrícia agora chegava, chorosa, à cama da filha. Sarah está muito triste e abatida. Alguns arranhões no rosto, mas bem, apesar do triste destino.

- Ô, minha filha... como você foi parar na frente de um carro?
- Eu não vi... eu queria muito voltar pra casa, mãe!
- Mas precisava correr tanto, menina? - diz Osvaldo. Patrícia o cala com o olhar.
- É porque... eu tava muito feliz.
- E porque? - pergunta Osvaldo, sem paciência.
- Porque eu passei em todas, e queria comemorar. - responde Sarah, chorosa. - E agora, eu estou prostrada, pra sempre.

Patrícia se debruça e abraça a filha.
- Ô, minha filha, não pense assim. Vai ficar tudo bem...
- Tudo bem? Sair correndo por uma coisa tão besta? - ironiza Osvaldo.
- Cale a boca e venha dar apoio para sua filha, Osvaldo. - Patrícia é fria. Osvaldo finge não ter escutado e sai do quarto.

Longe dali, na mansão dos Oliveira...
Luana passa pela sala e o hall, abanando-se com calor.

- Ah, quero pegar aquele jardineiro... vamos... o quê é isso?!
Ela se depara com Bianca, que jaz gélida no pé da escada. Luana olha para o topo e ainda vislumbra Danilo, que parece desesperado. O garoto corre e ela grita:

- SOCORROOOOOO! Ajudem aqui!
- Que gritaria é essa, mulher?

Paulo chega pelo corredor, e também se espanta com a garota morta. Luana corre e abraça o marido.
- Ah, meu Deus... quem pode ter feito isso? - pergunta Paulo.
- Danilo. - responde Luana em voz baixa, após hesitar. - Eu o vi no topo da escada, e ele correu.
Raíssa chega, com a prima, Isabela, e ficam chocadas.

- Minha irmã! Ela tá morta? - desespera-se Raíssa, caindo ao lado do corpo de Bianca.
Todos da mansão, moradores ou funcionários, chegam para olhá-la. Enquanto Paulo vai ligar para Patrícia e Ana Paula, Vítor os observa, de uma varanda. Pelo vidro, consegue ver todas as pessoas e mistura ódio e desespero em seu rosto.

- Droga, não era pra ser essa intrometida! E você ainda disse, Danilo... - ele acrescenta, quando volta para o quarto e vê o primo, desolado. - Que a minha mamãe vadia viu você no alto da escada. Agora... ela é a próxima!

Danilo se choca, completamente.


- Ela... é sua mãe, Vítor! - diz ele, com lágrimas nos olhos! E sem falar que essa intrometida que você matou era a minha IRMÃ! - Danilo tenta avançar em Vítor, e os dois se atracam. Caem no chão, mas Vítor, por cima, vira um tapa forte em Danilo e o outro silencia.
- Sua irmã, não é? - diz Vítor, irônico - Sua irmã, que você morria de inveja, pela falta de atenção que você teve! Pela inteligência rara dela! Não é? Eu tô mais é te fazendo um favor ao matá-la, seu fracote!

Danilo nada fala, apenas chora.

No hall, agora, junta-se à vigília Ana Paula. Desesperada, aos prantos, caída ao lado da filha e com um rosário nas mãos, a freira chora e nada se fala por um momento. Após certo tempo, a polícia chega, mas nada pode ser feito. Vítor e Danilo se juntaram aos parentes, Vítor com uma cara de choro pouco convincente.

Por haver uma bala, os policiais levam o corpo de Bianca para o IML, e Ana Paula e André vão juntos. Vítor puxa Danilo escada acima, mas Luana segura a mão do sobrinho antes que eles subam.

- Agora você vai me dizer... - diz ela friamente - O quê diabos estava fazendo no topo da escada.


- - - - -


Na cobertura de Bernardo, ouve-se a campainha tocar.

- Amor, as meninas me chamaram, vou vê-las. Se importa de abrir a porta? - pergunta Jéssica, apressada.
- Claro que não... ela chegou na hora, mesmo. - comenta Bernardo. - Já vai...

Ele abre a porta e encontra Juliana, sorrindo. Veste um vestido azul-marinho que valoriza suas curvas. Bernardo não se contém e dá uma "conferida" na médica. Os dois sorriem.

- Oi. Você chegou cedo, eu ainda estou acabando o molho...
- Ora, você cozinha? Que interessante. - comenta Juliana, com um sorriso. - Então... posso entrar?
- Claro... claro, entre, a minha esposa já está vindo...
- Já cheguei, amor! - diz Jéssica, entrando, com um sorriso. Os dois dão um rápido beijo e Juliana dá um sorriso afetado.
- Ok, mostra a casa pra Juliana, eu já trago o jantar. - diz Bernardo, solícito. Ele se afasta e as mulheres caminham juntas.
 - Então, como é ter um marido que cozinha? - pergunta Juliana.
- É ótimo... eu não duvido, ele cozinha melhor do que eu...
- Hum... e a casa de você é... linda! - diz Juliana, olhando ao redor.

Jéssica indica a varanda e as duas vão.

- E você, não é casada?
- Não, ainda não tive essa sorte... - responde Juliana com um sorrisinho tímido. - Mas... é um grande sonho, e eu ainda realizo...
- Ah, é ótimo, casar na igreja, com tudo que tem direito. - diz Jéssica, sorrindo. - Boa sorte pra você.
- Opa, cheguei! - diz Bernardo, abraçando a esposa. - Vamos? Tá pronto.
- Vamos, claro. Vem, Juliana.

Pouco depois, jantar consumido, luz baixa e vinhos abertos. Os três dão algumas risadas e depois de um tempo, Jéssica se levanta.

- Bem, amor, você fez a comida, eu lavo a louça... fiquem aí conversando, eu volto já. - diz Jéssica, retirando os pratos. Juliana se levanta, igualmente, segurando a taça na mão.


- Nada como uma boa taça de vinho tinto. - ela sorri.
- Faz bem, pra saúde, não é?
- Claro... uma boa taça... todo santo dia. - ela dá uma piscadela para Bernardo. - Se incomoda se formos pra varanda, gostaria de tomar um arzinho...
- Que é isso, vamos...


Pouco depois, os dois conversam animados. Juliana, rindo um pouco, aponta a constelação do Cruzeiro do Sul e seu ombro encosta no de Bernardo. Ela se espanta.


- Opa! - e, no impulso, sua taça derrama vinho na camisa de Bernardo. Eles sorriem.
- Tá tudo bem... - diz ele.
- O quê foi que houve? - pergunta uma voz atrás deles. Jéssica se aproxima, com outra taça de vinho.


- Nada, só...
- Eu acho melhor eu ir embora, não é? - diz Juliana, com um sorriso enviesado. Ela beija as faces de Jéssica, que murmurra um "tchá", e vai embora. Bernardo a acompanha e fecha a porta, pensando na médica.




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Passam algumas semanas...




Wagner corria para a sala do gerente do Hamptons, o novo hotel da cidade. Ao chagar lá, levou o maior esporro do patrão.

- As Van der Zyl são hóspedes Vip! Vip, sabe o quê é? Pode soletrar pra mim?
- V-I-P, senhor... - diz Wagner, humilhado.
- Ótimo, pelo menos ensino infantil você tem. Nunca vi... ascensorista se metendo na conversa de duas hóspedes Vip, ainda mais sendo o pai delas o maior acionista do nosso hotel!
- Eu sinto muito, senhor... eu não sabia. - diz ele.
- Agora é tarde pra lamentações! Saia, saia daqui! Você está despedido!


Sem perder tempo e olhar na cara do gerente, Wagner sai, correndo. Passa rapidamente no departamento pessoal e pega suas coisas. Ao sair, pisa em falso nos degraus de mármore do hotel e cai, trombando com uma lata de lixo. Algumas pessoas na entrada, inclusive os seguranças do Hamptons, riem da cena, e Wagner, humilhado, sai catando sua roupa, que pulara fora de sua sacolinha.


Após conseguir pegar todas, sai andando rápido pela rua do hotel, procurando chegar logo à esquina. Ao chegar lá, mira um banco de pedra e se senta nele, chorando. Desespera-se.


- Caraca... será que eu não consigo parar em um só emprego... por que será? Meu Deus... porque será? Eu não sou nenhum burro... eu estudei... eu tenho meus sonhos... - ele para, enxuga os olhos e tenta respirar fundo. - Porque, meu Deus,  porque será que eu não consigo dar certo?


Então ele escuta alguém falar, atrás dele.


- Vai ver você ainda não encontrou o caminho certo, meu filho.


Wagner se vira, assustado. Dá de cara com uma freia, branca, quase loira, cabelos cacheados. Ana Paula.


- Me desculpe, eu não quis assustar você...
- Assustou, viu, moça!
- Eu não pude deixar de notar... estava passando de carro, na frente do novo Hamptons... e não pude deixar de olhar aquela cena, filho. Foi uma humilhação terrível. Você perdeu o emprego não foi? - pergunta Ana Paula, solícita.
- Foi, sim...
- Bem... posso oferecer um emprego pra você? É simples, mas...
- Ah, moça, por favor, é pegadinha, por acaso? - começa Wagner, se levantando. Ele sai pra longe de Ana Paula, que fica imóvel. Porém, ao atravessar a rua sem olhá-la, Wagner acaba sendo atropelado por um carro.


- Puta merda! Cuidado, garoto! - grita Ana Paula, correndo para socorrê-lo.




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Leonora acabara de chegar do hospital. Logo foi abordada por André, que chegara do cooper. Ele parou e os dois sorriram.


- Oi, tio André! Você não para, não é?
- Não, minha linda... - ele dá um sorriso. - Tenho que estar no páreo com esses playboys de hoje em dia, não é?
- Ai, ai, você não toma jeito mesmo, tio André... - sorri Leonora.
- Para de me chamar de tio, nem seu tio eu sou, garota.
- Eu sei... mas é a força do hábito. - ela se justifica.


Os dois sorriem, e se entreolham por um tempo.


- À propósito... - continua ele. - Eu queria te pedir outro favor.
- Claro, pode pedir o quê quiser. - diz ela.
- Eu... queria que você me fizesse outra dieta... sabe, depois daquela temporada que eu passei na Argentina eu voltei com um lombo grande...
- Ah, meu Deus! - Leonora se acaba nas risadas, e André também ri. De tanto rir os dois acabam se abraçando, e só depois notam que se abraçaram. Sorriem, e Leonora tenta desviar o olhar.


- Bem, eu... eu vou indo. - começa Leonora, se desvencilhando.
- Espera! Não esquece da minha dieta, dona nutricionista!
- Hahaha, ótimo, senhor Oliveira, em alguns dias eu lhe entrego sua dieta. - brinca Leonora, com um sorriso enorme no rosto. A garota lhe dá um rápido beijo na face e sai, quase correndo, em direção à mansão. André, com um largo sorriso, faz que vai recomeçar a correr.


- Espera! - grita alguém da estufa. Ele se vira. É Patrícia.
- Oi, irmãzinha... que foi que houve?
- Não houve ainda... - diz ela, com um sorriso irônico. - Mas eu prefiro que não exista nada.
- Como assim, Patrícia? - pergunta ele, cínico.
- Não dê uma de otário. Eu vejo os olhares de vocês dois. Você é um tio e tem idade de ser pai dela, André. Eu criei Leonora como uma filha pra mim e, conhecendo suas sem vergonhices, eu quero que você se mantenha bem longe dela, está me ouvindo? Ah... e aposto que Ana Paula também não gostaria nada.
- Ela não teria que gostar de nada, Patrícia. - reage André, calmo.
- Enfim, o aviso está dado. - diz Patrícia, ameaçadora. - Não quero ver vocês dois juntos.


E, fazendo uma cara feia, se afasta.


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- Pronto, já está tudo bem! - diz Ana Paula, sorrindo. O emergencista sorri e se afasta. - Obrigada! - ela grita para ele.
- Obrigado pela ajuda... irmã. - agradece Wagner, tímido.
- Que é isso, meu filho, é o dever de todos nós. - ela sorri, gentil. - Agora, aprendeu que não deve achar que tudo é pegadinha, não foi?


Wagner dá um sorriso amarelo.


- Está doendo muito ainda? - pergunta ela.
- Não, senhora. - respondeu Wagner. - Estou melhor. Obrigado pela ajuda, obrigado mesmo. Ah... posso ir? - pergunta ele ao emergencista, que retornara.
- Claro, claro, rapaz... preciso que sua mãe assine esses papéis aqui...
- Minha mãe? - ele estranha.
- Sim, essa senhora. - Ele aponta para Ana Paula, que, distraída com um garotinho machucado, nao ouvira o começo da conversa.
- Que tem eu? - pergunta ela.
- Não é a mãe do rapaz? - espanta-se o emergencista.
- Não, senhor, sou uma freia, pode ver? - diz Ana Paula, sorrindo com alguma ironia.


O emergencista parece confuso, e Wagner parece querer rir.


- Ah... me desculpe. É que vocês dois se parecem muito!


Ana Paula reparou. Embora mais moreno, Wagner tinha os mesmos cabelos cacheados, os olhos parecidos, algumas feições. Mas o rapaz pulou da maca e Ana Paula voltou à realidade.


- Então, obrigado, senhora. Vou indo...
- Espere. Não posso deixá-lo assim. - diz ela, intrigada.


Wagner para e inclina a cabeça pra ela, confuso.


- O quê foi, senhora? - pergunta ele.
- Acho que vou lhe dar casa... e trabalho!




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