Pra você que não tem preguiça de ler =)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Histórias da Mansão

Capítulo 2 - No Hospital









A festa rolava, animada. Os amigos de Bianca fizeram "ela é uma boa companheira!" e a jogaram na piscina. Pouco depois, um dos seguranças chamou Ana Paula.

- É seu Daniel, está no portão e quer entrar.
- Ele aqui? - Ana Paula estranha. - O quê ele quer?
- Ele não disse, senhora...
- Hunf!... - fez ela. - Tá, eu vou lá agora...

Pouco depois, Ana Paula se vê diante do ex-marido. Daniel tenta sorrir para a ex-mulher.
- Oi.
- Oi, Daniel. O quê quer?
- Vim... ver a Bianca... e dar esse presente pra ele. - ele indica o embrulho na mão. - Ela está aí?
- Foi se secar, jogaram ela na piscina. - ela falou, sem olhá-lo.
- É... parecem animados! - ele sorri, tentando puxar conversa. Ana Paula fica se balançando na planta dos pés, e vai entrando.
- Eu... posso entrar?
Ana Paula parece pensar duas vezes. Mas assente e sai, sem olhar. Daniel entra sem graça, e vai andando devagar pelo jardim.

"Daniel?"
Ele se vira. Ronaldo está andando até o ex-cunhado, com uma feição séria.

- Oi...
- Podemos conversar?
- Ahn... melhor não. Quero ver apenas a minha filha.
- Você vai continuar a ser ríspido assim, Daniel?
- Não, Ronaldo. Acho que já conversei com essa família tudo o quê eu tinha para conversar.
Ronaldo se ofende, mas fica calado, encarando Daniel.

- E... meu filho, onde está?
- Deve estar com Vítor... os dois são muito amigos, você sabe.
- É... e Vítor é uma ótima influência, não? - diz Daniel, irônico.
- Não é meu filho, não posso fazer nada. - diz Ronaldo.

Os dois se encaram. Parecem dispostos a conversar mais. Daniel se afasta,
- Vou atrás do meu filho. Licença.


- - - - -
Dentro da enorme casa, Danilo estava entediado, ouvindo música com seus fones de ouvido. Estava esperando Vítor tomar banho, pois esse disse que tinha uma surpresa que precisava mostrar. Um tempo depois, cansou-se da espera e se levantou, batendo na porta.

- Que merda! Para de demora!
- Já vai, leso! Baixa o facho.
- Você fez muito alarde, agora me fala o quê é.
- Já tô saindo, quer que eu saia nu?

Danilo, dando uma risadinha, repõe os fones e anda até uma poltrona. Depois, Vítor sai, de shorts, ainda se enxugando.
- Pronto! Pode falar agora.
- Calma, margarida... - ele dá uma risadinha. - Não é bem falar... tá mais pra mostrar. Antes eu queria conversar um pouco pra você não se assustar.
- Assustar? - ele pensa o pior. - Você não voltou com aqueles planos mirabolantes?
- Não é plano mirabolante, imbecil. - diz Vítor com desdém. - É a minha vingança! Respeite!
- Vingança, Vítor? - Danilo balança a cabeça. - Não sei... você vai acabar mal!
- Tá rogando praga, é? - Vítor dá risadinhas.
- Não! Não é isso, é que... - ele para de falar quando escutam batidinhas na porta. Então sem cerimônia Daniel entra, ignorando Vítor totalmente.

- Filho, tá tudo bem? - pergunta Daniel, estranhando a expressão dele.
- Tá! Claro.
- Boa tarde, titio. - solta Vítor, irônico, com um sorriso afetado.

Daniel apenas lança um sorriso igual.

- Eu... vim buscar você, vamos, quero achar a sua irmã e nós vamos sair.
- Sair? A gente? - Danilo estranha.
- Sim, filho... - Daniel se desaponta. - Você... você mesmo marcou a hora.
- Ahn... é, eu marquei.
- Então, vamos? Ou vai preferir ficar aqui com essa ralé...
- É comigo que tá falando, titio? - Vítor se mete, apontando para si mesmo.

Daniel se vira sem paciência para o sobrinho.

- Bom, se a carapuça serve...
- Escuta aqui, ô idiota...
- Não xinga o meu pai, Vítor. - Duílio se mete.
- Eu xingo quem me chama de ralé!
- Que gritaria é essa? - diz uma voz da porta do quarto.

Bianca acabara de chegar. Estava de robe e com uma escova nas mãos. Daniel se irrita e sem mais palavras, solta o presente no colo de Bianca e sai.

- Pai... pai!
- Pronto, ele já foi... - diz Vítor, impaciente. - Agora você pode ir saindo também.

Ele vai empurrando a prima para fora do quarto, e bate a porta com força depois. Bianca fica do lado de fora, abrindo o presente. É um perfume. Ela borrifa um pouco e cheira. "Obrigado, papai.", ela murmurrou para si mesma, quando a conversa de dentro do quarto.

- Mas... você tem certeza do que tá pensando, Vítor? Você vai usar isso mesmo?
- Claro que sim! E eu já sei até quem será a primeira vítima!
- Não! Não pense nessas merdas!
- Ah, cala boca, até parece que se Bernardo morrer vai fazer alguma falta...

Bianca se choca ao ouvir isso! Deixa a caixa do presente cair no chão e sai correndo espantada, para o quarto.


- - - - -


Um telefone começa a tocar. Vinda da cozinha, Patrícia, carregando uma bonbonière cheia de chocolates, se adiantou ao telefone.

- Ai ai, não tem ninguém para atender isso... alô?
- Alô... aqui é do hospital Meija... aí é da Mansão Oliveira?
- Hospital Meija... sim, aqui é da mansão Oliveira...
- Aqui é o Dr. Meija, estou ligando para falar da menina Sarah...
- AI MEU DEUS! - Patrícia, histérica, derruba a bombonière que se destroça em vários cacos de vidro. Bianca, descendo do quarto, se adianta para ajudá-la.
- Que foi, tia?
- Que foi, doutor Meija? - grita Patrícia no telefone. -  O quê aconteceu com a minha filha?
- A sua filha sofreu um acidente, ela foi atropelada quando saia da escola e a trouxeram pra cá.
- Ai, mamãe... - Patrícia revira os olhos e desmaia. Bianca tenta segurar a tia e o telefone ao mesmo tempo, e cai junto dela.
- Ai... mãe... MAMÃE! Vem cá!
Ana Paula, passando pela porta, corre até lá. Aflita, puxa um rosário de dentro do hábito e puxa o telefone da mão de Bianca.

- Alô, quem é?
- Ah... é a sua voz, dona Ana Paula... - Dr. Meija a reconhece. - A Sarah, sua sobrinha, acho... foi atropelada e sofreu umas escoriações no quadril e nas pernas, felizmente não quebrou nada, mas precisou de uma bolsa de sangue. Ela não para de chamar pela mãe, será que...
- Claro! Claro!... até mais! - Ana Paula se desespera, mas mantém a calma. - Bianca, tente acordar a sua tia. Vou atrás do Osvaldo... a Sarinha sofreu um acidente, mas acho que não foi coisa grave.
- Tá, mãe... coitada da Sarah... - Bianca fica penalizada. - Vai lá atrás do tio, eu vou pegar uma água com açúcar...


Longe dali, na cobertura de Bernardo...


- Adorei a festa da sua prima, querido, os amigos dela são muito animados. - Diz Jéssica, sentando-se na varanda.
- É, é uma galera ótima! - Bernardo sorri. - Quando a gente saia junto eu me divertia muito com eles. Oi, filha! - ele acrescente, ao ver que Carol, a filha mais velha, chegou à varanda.
- Oi, papi! Tudo bom-bom? - diz ela. - Eu quero ir pa piscina, leva eu, vai!
- Ah, tá... levo, levo... vá botar seu biquíni, certo...

Ele se levanta e Jéssica levanta junto.

- Vamos comigo?
- Não... estou cansada, fiquei ajudando desde ontem a arrumar a festa... vou tomar um banho e deitar... vai lá, você que é o nadador da turma.

Ela sorri, e beija o marido. Pouco depois, chega Carol pronta para dar um mergulho.

- Vamos, filha... - diz Bernardo, pondo a garota sobre os ombros.

Pouco depois, chegam à grande piscina do prédio. Bernardo pôs Carol no deck.

- Ó, só aqui perto, na piscina rasa... papai vai tirar a roupa, espera.

Bernardo distrai-se tirando a roupa e, já de sunga, olha em volta. Carol correu até o outro extremo da piscina.

- Filha... filha, espera! Carol, para aí!

A menina se vira, mas escorrega no mármore molhado e cai na piscina funda. Bernardo corre até lá, mas uma mulher que está mais perto pula na água primeiro. Em poucos segundos, tira Carol da água, assustada e chorando.

- Ob-Obrigado, moça! - diz Bernardo, sem fôlego. Ele pega Carol nos braços e a envolve. A menina chora, silenciosa. A estranha agora sorri.
- De nada... é Juliana... meu nome. - Ela sorri, cativante. - Mais atenção, não é?
- Eu estava... tirando a roupa. - ele se justifica. - Tá vendo, um segundo só.
- É... eu não sei como te agredecer.
- Não precisa. - sorri Juliana com meiguice.
- Eu insisto, mesmo... sim, sou Bernardo, Bernardo Oliveira...
- O arquiteto? - ela pergunta, ligeiramente astuta.
- Sim, sou eu... - ele sorri.
- Bem, devo admitir que fez um ótimo trabalho aqui... no nosso prédio. - ela sorri. - Muito bom!
- Ah... obrigado. Já sei... venha para jantar conosco hoje... Juliana.
- Jantar, assim?
- Claro, pela minha filha... você a salvou. Por favor, não ouse recusar.
- Está bem... eu aceito. - ela sorri, simpática.
- Certo, então esteja lá as oito... vamos subir, sim? - ele diz a Carol, que nada diz. - Até mais tarde!
- Até logo... querido. - diz ela baixinho.


- - - - -


Já no hospital Meija, Ana Paula e André estão esperando Patrícia e Osvaldo na sala de espera. De repente Patrícia entra fazendo estardalhaço, e o marido atrás, com uma expressão rabugenta.

- CADÊ A MINHA FILHA, ANA PAULA!?
- Cala essa boca, mulher... - diz Osvaldo, irritado.
- Acalme-se, irmã! - diz Ana Paula, com seu rosário na mão. - Ela está no centro cirúrgico, o Dr. Meija disse que ela sai em meia hora. Agora senta aí relaxa!
- Ai, meu Deus, eu tô nervosa demais pra isso!

Ela mete a mão na bolsa e tirou um enorme saco de jujubas. Osvaldo se revolta.

- Ah, meu saco! Lá vai você de novo comer doces! Você não pode ficar comendo essas besteiras quando você tem que se preocupar com a desmiolada da sua filha?
- É assim, Osvaldo? - revolta-se Patrícia. - Desmiolada! Não fala assim dela! É sua filha, infeliz!
- Sim, sou infeliz! Porque eu tô casada com um trambolho como você, seu grosso!
- Calem a boca, vocês dois! - grita Ana Paula, atraindo olhares de todos. - Vocês deveriam parar de brigar e rezar comigo pela filha de vocês!

Os dois se calam, assustados. Patrícia se levanta e vai até Ana Paula. Mas, um tempo depois...

- Já fazem trinta e sete minutos que ele disse que viria! Já passou mais de meia hora, Ana Paula, cadê o Dr. Meija!?
- Pela última vez, CALE A BOCA!
- Calem vocês dois! - Ana Paula se ergue novamente. Mas nesse instante o Doutor Meija entra na sala de esperas, parecendo um tanto aflito com tanta gritaria.

Patrícia se levanta quase atropelando a irmã, indo em direção ao doutor, que se assusta.

- Calma, senhora, eu vou falar...
- NÃO ME MARTIRIZE, DOUTOR! A minha filha, como está?
- Eu preciso que você se acalme antes disso, dona... Patrícia, não é?
- Sim, sim... a minha filha, me diga sobre a minha filha!
- Patrícia, vá tomar um calmante agora! - Osvaldo se adianta, segurando a esposa.
- É isso... - diz André. - Nós vamos ver a Sarinha, você deve ficar melhor.
- Tá, tá, tá, tá! Eu vou tomar um calmante...

Patrícia sai com Osvaldo, enquanto André e Ana Paula se viram para o Dr. Meija.

- Então, Meija. Pode ir falando, eu sou dura na queda. A minha sobrinha está muito ferida? - perguntou Ana Paula, incisiva.
- Não, senhora, o preocupante não é a gravidade dos ferimentos. Ela sofreu várias escoriações e cortes graves, mas não chegou nem a quebrar um braço, por exemplo.
- Mas, e esses cortes... o quê aconteceu de fato, Meija?
- Bem... a Sarah lesionou muito gravemente a base da medula... e ela está paraplégica no momento.
Ana Paula solta uma exclamação de terror e leva as mãos à boca. Ela faz que vai desmaiar e André a segura, logo atrás.

- Ela já acordou, nós a sedamos para a cirurgia mas ela está bem. - continua Meija, tristonho. - Ela está chamando por uma tal de Bianca, é a irmã dela?
- É quase. - responde André com um sorriso no rosto. Ana Paula, já de volta a si, se endireita.
- Vou ligar para a Bianca...
- Não, ligo eu. Vá ver a Sarah, ela quer ver você.

André aperta a mão da irmã e a incentiva com um "Vai", que Ana Paula obedece.


- - - - -


- Alô, oi tio... tudo bem. - diz Bianca, atendendo o celular. - Como é? Paraplégica... ai, meu Deus... - ela leva às mãos a cabeça, e sentou-se num sofá de seu quarto. - Sim... eu vou ver o quê posso fazer. Acho que vou aí daqui a pouco, vou só tomar um banho. Certo... certo... chocolate pra tia Patrícia, claro... - ela revira ligeiramente os olhos. - Certo, eu passo em algum lugar no caminho e compro. Tá bom... beijo, até mais.

Ela repousa o celular na mesinha, pensativa.

- Coitada... meu Deus... o quê será dela agora.

Ela escuta de repente uma movimentação no corredor. Corre até a porta e espia pela brecha. Danilo e Vítor estavam discutindo. Não conseguiu ouví-los.

- Esses dois estão tramando alguma coisa... e o Bernardo... ai, meu Deus... ele disse "Bernardo, morto"!, isso só pode ser uma brincadeira de mal gosto, e eu vou descobrir! - ela disse. Revoltou-se, pegou uma toalha e entrou no banheiro.

Já no quarto ao lado, Vítor e Danilo ainda discutiam.

- Já falei, vai dar em merda!
- Não vai dar, quer dizer... - ele dá uma risadinha debochada. - Se fosse você com esse seu pessimismo, sua mão ia tremer tanto que nem ia conseguir abrir a porta da casa dele, HAHA!
- Deixa de merda! Como você pode pensar nisso!
- Ah, deixa de ser o bonzinho... odeio isso! Odeio esse falso moralismo!
- Não vai discutir moralismo agora, né? - ironiza Danilo.
- Não, querido, já discuti demais com você. Vou... trocar de roupa, é isso... e vou sair... aquele babacão já viveu tempo demais... e ele dentro de um caixão faria meu tio desabar de tristeza... hahaha!

Ele continua a risada banheiro adentro, após apanhar uma muda de roupa na cômoda. Danilo, desesperado, deita-se na cama com a mão na cabeça e não sabe o quê fazer.

Pouco depois, Vítor e Danilo saem do quarto, Danilo assustado.

- Anda, quero que você vá até o carro comigo, ou melhor... você vem comigo, você vai dirigir...
- Aonde você vai com ele, Danilo?

Os dois se sobressaltam e dão um salto para trás. Bianca estava esperando no corredor pelos dois. Vítor vai andando até o topo da escada discretamente, enquanto Danilo estanca na porta.

- Não vai, Vítor. Eu estou perguntando, onde você quer ir com o meu irmão?

Vítor não responde, e desliza a mão para o bolso do casaco.

- Que é isso, no seu bolso? Mostre!
- Você quer saber, Bianquinha? - Vítor a instiga,
- Quero, mostre logo!

Vítor puxa um revólver do bolso e aponta direto pro coração da prima. Danilo solta uma exclamação. Bianca apenas arregala os olhos, mas mantém o tom frio e controlado.

- Passa isso pra cá. Anda, deixa de brincadeira.
- Você acha que é brincadeira, Bianquinha? É? Vem pegar...  ou melhor! - quando ela avança. - Não vem não! Senão eu descarrego isso na sua cara!
- Ah, cala a boca! - Bianca tenta avançar. Agarra o punho de Vítor, mas ele dá um pisão de pé nela. Bianca gira o corpo e o empurra, indo parar no topo da escada.
- Eu não vou deixar você passar! - diz ela corajosamente.
- Ah é? Então cai! - responde Vítor, mirando o pé de Bianca e soltando um tiro.

Bianca grita de dor e se move para trás, mas Vítor solta um "BUUU!" e ela escorrega para o degrau de baixo. Ela tropeça e cai, rolando degrau por degrau. Danilo e Vítor se adiantam a tempo de ver Bianca rolar o último degrau. O sangue sai pela boca dela, os olhos estão vidrados. Bianca está morta.

- Não... não era pra ser ela! Não... 

Vítor sai correndo, largando a arma e deixando um Danilo vidrado e horrorizado no topo da escada.



(fim do capítulo 2)


Um comentário:

  1. Achei muito engraçado quando Patricia começou a comer jujubas diante de tanta aflição! Agora Ana Paula sofre muito pena a morte da filha dela!

    ResponderExcluir