Capítulo 19 - Decisões
Alice sai do escritório de Jordano absolutamente feliz; tira os óculos e balança o cabelo, batendo em Davi, que vinha atrás.
- Ai! Desculpa, Davi... mas quem manda me seguir?
- Queria vir te proteger... - responde o rapaz, tímido.
- Não preciso de proteção vnte e quatro horas por dia, queridinho.
- Precisa de um cara do teu lado, não é mesmo?
Alice olha, erguendo as sobrancelhas, com um sorrisinho no rosto.
- Que insinuação abertamente explícita foi essa agora?
Ele não tem tempo pra responder. Um rapaz alto, com barba por fazer e com cara de quem se arrumou apressadamente surge na frente deles. Alice se espanta.
- Ricardo! - ela fica chocada com o estado do amigo. - Bicha, que cara é essa?
Ricardo olha dela pra Davi, que se sente incomodado.
- Eu vou... esperar ali na frente, na praça...
Quando Davi está bem longe, Ricardo indica um banco na fachada do edifício, e Alice o acompanha até ali. Ricardo senta-se inseguro, parecendo uma criança. Alice olha penalizada para o amigo.
- Eu... não sei o quê fazer, Alice... nunca ninguém mexeu tanto com minha cabeça assim.
- Eu tô vendo... - comenta ela, um tanto irônica.
- Eu nunca levei um fora daqueles...
- Eu devo admitir que você tava merecendo, amigo... - diz ela, sincera.
Ricardo olha nos olhos da amiga, as lágrimas brotando a cada segundo.
- É uma pena... ele é um cara muito legal. Mas, pelo que acho, você não entendeu a situação em que envolveu o Alexandre.. né?
Ricardo assente.
- Bem... - ela olha pro lado. - Você pegou um cara que era hétero... tinha namorada e tudo, deu em cima descaradamente, não foi? - ele confirma e ela continua. - Então... você baralhou muito a cabeça do cara!
- Eu... eu não fiz nada que ele não quis! - ponderou Ricardo, levemente irritado.
- É... naquela situação ele não iria negar nada. Ele tava ali, envolvido... com um cara que ele considerava um grande amigo... ele... ele esperava mais de você, tá entendendo?
- Tô sim... - diz Ricardo, contrariado.
- Ele é um cara romântico, pelo pouco que a gente conversou eu percebi... ele achou que você fosse também... e eu acho que você pode ser, se quiser.
Alie sorri e faz um carinho no rosto do amigo. Ele diz "obrigado" e, sem mais, se levanta e vai até seu carro, estacionado logo adiante. Alice se levanta e caminha até a praça, onde Davi parece impaciente.
- Que que aquele cara queria contigo?
- Comigo não, queridinho, com outro cara! - ela dá uma risada. - Vamos? Lembra que ônibus é coisa que tem horário!
Sorrindo, Davi a segue e, ao chegar atrás dela, lhe fala ao ouvido.
- E a nossa conversa?
Ela para e se vira, com um sorriso sapeca.
- Mais tarde a gente fala disso.
Ela pisca, põe os óculos escuros e vai embora.
- - -
Wallace vai até a cozinha, abre a geladeira, apanha uma garrafa de vinho que deixara ali anteriormente. Procura o abridor, acha, e está quase abrindo a garrafa quando Fiona surge pela porta. Para e vê o marido. Os dois hesitam.
- Pode falar.
- Não, fala você. - diz Wallace.
Fiona hesita por um minuto. Se senta à bancada da cozinha e apóia a cabeça no braço.
- Queria que você fizesse as pazes com o nosso filho, Wallace.
Wallace olha para a esposa por um minuto, as feições irritadas.
- Me dê um bom motivo, eu juro que estou pensando nessa hipótese.
Fiona respira fundo e anda até o marido.
- Queria te pedir desculpas pela educação dele. Eu sempre fui contra seu trabalho, sua perda de tempo em relação à nós dois e a nossa família. Eu o mimei demais. Eu sempre o protegi de você. É minha culpa ele ser assim hoje. Não, não culpa dele ser gay... - acrescenta ela, quando Wallace tenta falar. - Se ele é gay é porque ele quer ser assim.
- Hum... - fez Wallace.
- E sobre isso, Wallace, nada podemos fazer. - emendou Fiona, com um sorriso astuto. - A questão é: precisamos entender o quê ele está passando. Ele mesmo não me conta muita coisa. Você pensa que eu gostei de ter encontrado ele bêbado caindo na praia?
Wallace faz uma cara de desgosto e diz "Não" baixinho.
- Pois é... mas ele é seu filho e também sofre. - Houve uma pausa, em que ambos olharam para o chão. Então ela prosseguiu: - Eu já fiz as pazes com você, Wallace. Resta você fazer as pazes com o Ricardo.
Agora é Wallace que senta, pensativo, junto à bancada. Apóia a cabeça na mão e fixa um ponto imaginário, pensativo. Fiona repara na garrafa que ele estava abrindo, apanha o saca-rolhas e termina de abri-la. Apanha duas taças e serve para os dois. Wallace desperta de seu transe quando ela bate com a taça na frente dele.
- Bebe um pouco... e pensa.
Wallace toma um gole, sorri para a mulher, e eles se beijam.
- Eu amo você.
- Eu também te amo, Wallace.
Ambos sorriem, e Fiona sai, para pegar um pedaço de queijo na geladeira.
- - -
Laila, que soube pela TV do acidente da tia, passa em casa e encontra Márcia de saída. As duas se abraçam. Laila chora, desesperada.
- Mãe! A tia... a tia...
- Fica calma, Laila. Sua tia já está no hospital...
- Vamos pra lá?
- Vamos sim. O Otávio disse que me encontrava lá...
- Mãe... ela estava no carro com...
- O garoto... - Márcia amarra a cara e fecha os olhos por um instante - Isso vai dar uma confusão horrível.
As duas entram no carro e Márcia acelera logo depois. Mais tarde, quase noite, as duas chegam no hospital, e alguns repórteres estão tomando notas na recepção do hotel. Uma delas nota a semelhança física de Márcia com Melina e a aborda.
- Oi, você é da família da vítima, não é?
- Sim... - comenta Márcia abobalhada, andando apressada.
- Então pode comentar as suposições de que ela seja pedófila, não é mesmo? - emenda a repórter, no mesmo passo que as duas.
Laila se ira; Márcia vai responder, mas a ruiva dá meia volta rapidamente e aponta o dedo no meio do rosto da repórter, que se espanta.
- Chega pra lá, minha filha! Não percebe que a gente quer saber da minha tia? AFASTA! - ela empurra a repórter com o quadril, que cambaleia, mas tenta seguí-las. Laila chega à sala de espera e fecha a porta na cara da repórter. Márcia se senta, nervosa.
- Ainda temos que ouvir esses desgraças que ficam inventado...
- Calma, mamãe. Logo logo vai ficar tudo escla...
Ela se cala. Acabara de notar um adolescente, com o braço direito enfaixado e ataduras na testa. Caio escondia parcialmente o rosto com as mãos. Laila caminhou até ele e se ajoelhou de seu lado.
- Você está bem?
Ele apenas acena com a cabeça. Parece chorar.
- Eu meti ela numa confusão enorme...
Não há tempo para Laila responder. O médico sai pelo corredor e Márcia se levanta de um salto.
- Doutor! Por favor... sou a irmã da Melina... me diga, ela corre algum risco de morte?
- É disso que precisamos falar... risco ela não corre. Os cortes foram feios, ela perdeu muito sangue. E precisa urgertemente de uma transfusão para uma recuperação.
- Transfusão? - repetiu Márcia, desolada.
- Sim... mas o sangue dela é O... o mais raro. Será que você...
- Eu e minha filha temos sangue A... diferente do dela... não podemos doar...
- Eu vou...
Todos olharam para trás quando Caio se levantou e andou até os três rapidamente.
- Eu tenho sangue O. Eu vou doar sangue.
O médico se anima, e já indica o corredor para Caio. Laila porém, se adianta.
- Porque você vai fazer isso?
Caio vira rapidamente e vai andando.
- Porque eu gosto dela. Só isso.
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