(continuação, cap 11)
Então, dezoito anos se passam...
Renata acorda com o sol batendo no rosto dela. Ergue as mãos, limpa a face e dá um leve sorriso. Chegou o seu dia, como disse Zaíra.
Levantou-se, olhou-se no espelho. Sua versão envelhecida da alegre menina a encarou, com pequenas olheiras. "Não estou tão feia", pensou ela. Havia anos que não olhava aquele espelho.
Apanhou uma esponja e começou a se limpar. Depois, buscou no pequeno armário uma sacola com as roupas que Zaíra lhe dera na sua última visita, apanhou-as e as vestiu. Olhou-se no espelho. "Tô parecendo uma cinquentona", espantou-se ela. Minutos depois, Lucimar, a carcereira, apareceu.
Lucimar (com um pequeno sorriso)- Oi, Renata. Vamos? Já pode sair.
Renata apanha suas coisas e segue ligeira Lucimar. Algumas presas acordadas batem palmas. Celeste, a outra carcereira, dá uma longa e rancorosa olhada para a morena, que apenas acena com a cabeça.
Lucimar- Olha... acho que isso vai lhe servir...
Ela lhe entregou um pedaço do jornal com os classificados.
Lucimar- Anotei aí o número de um abrigo de mulheres... aqui perto, mas já é alguma coisa.
Renata- Obrigada, Lucimar.
Ela aperta a mão da carcereira e se dirige ao portão. A luz ofusca sua visão quando o portão é aberto. O barulho dos carros chega à suas orelhas e ela sorri com isso. Anda até a calçada, e o portão é fechado. Ela olha para os lados, vê prédios, árvores, até pássaros. Sorri.
Renata- É... vambora!
Tenta dar um passo à frente para cruzar a rua, mas o sinal abre e é levemente atingida por um luxuoso carro prateado.
(intervalo)
Donato- Para! Para esse carro, Marcelino! Quem é essa?
Donato apanha sua bengala e sai do carro, mancando pesadamente, até o ponto onde Renata caíra.
Donato- Desculpe... er... você está bem?
Renata- Porcaria... mal saio da prisão já levo uma pancada!
Donato- Prisão...? (ele olha para a direita e vê os muros do presídio)
Renata- É, prisão, moço... olha, tô boa... pode seguir seu caminho.
Ela cruza a faixa de pedestres. Marcelino, o motorista, sai do carro.
Marcelino- O senhor está bem, seu Donato?
Donato- Pare... aquela mulher. Diga a ela que eu quero conversar com ela.
Dito e feito. Marcelino correu e trouxe Renata, que veio relutante e impaciente. Donato abriu a porta do carro para ela e Renata entrou.
Renata- O senhor nem pra sair do carro pra ir atrás de mim...
Donato- Minha condição não permite, senhora...
Renata- Senhora... que estranho. (ela dá uma risadinha)
Donato- Posso lhe fazer algum favor, minha filha?
Ele parece espantado com sua fala, mas confiante. Renata se espanta ainda mais e se vira para ele.
Renata- Isso é algum tipo de pegadinha, moço?
Donato (hesitante)- Não... é algo que eu nunca fiz na vida... pode me ouvir?
Renata estranha aquelas palavras e não sabe o que faz.
(fim do capítulo 11)
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