Capítulo 10 - A Verdade vem à Tona
Ana Paula e Mércia estacionam ao lado do cartório, numa rua movimentada.
- É aqui, tem certeza? - pergunta a freira.
- Sim, irmã... foi aqui... ele que me pediu pra vir registrar o menino com ele.
- E porque você não sabe o nome? - questiona Ana Paula.
- Não estive com o escrivão, ele me pediu pra acompanhá-lo para se passar por esposa dele. Mas me manteve com o menino do lado de fora. - queixa-se Mércia, desolada.
Ana Paula se mantém hesitante. Mércia nota, mas o telefone da freira toca quando ela tenta falar.
- Alô... ah, olá filho... que bom que recebeu minha mensagem... - ela começa. - É... esse mesmo. Pode vir? Estou no aguarde... Está bem, vamos entrando e espero você lá dentro.
Ela desliga e se vira para Mércia.
- Então, vamos.
Longe dali, Bernardo está se arrumando, com Juliana nos seus calcanhares, rindo.
- Isso não devia ter acontecido. Você deve sair agora.
- Ai, não me trate assim. - ela se faz de vítima. - Não me expulse. Até parece que você não quis.
Ela o abraça e o põe contra a parede. Bernardo fecha os olhos enquanto põe a calça, mas dá um leve empurrão em Juliana e se afasta.
- Põe o seu vestido e sai. Estou de saída.
- Promete que vamos nos ver de novo... - ela o seduz, lasciva.
Bernardo respira fundo, mas acena com a cabeça e abre a porta, indicando a saída à Juliana, que sai.
Pouco depois, ele encontra com a tia e Mércia no cartório. Ana Paula se vira, sorrindo.
- Finalmente chegou, querido... vamos logo... o quê foi, parece tenso!
- Se... incomoda de ir na frente, por favor? - diz ele a Mércia, que, indiferente, entra no cartório. Ana Paula se vira, intrigada.
- Anda, querido, pode ir me falando, o quê está afligindo você?
Bernardo parece embaraçado.
- Eu acho... que vou pedir o divórcio à minha mulher.
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Ana Paula se espanta e leva às mãos à boca.
- Eu não acredito que ouvi esse sacrilégo!
- Ouviu, sim, tia. - Bernardo parece mais firme. - E eu não esperava algo diferente de você, mas precisei contar.
- Nunca mais terá meu respeito caso faça isso, sobrinho... - Ana Paulo responde, com uma cara amarrada.
- Não vamos falar disso. Vamos, vamos entrar logo.
E, empurrando a tia, a conduz para a entrada do cartório.
Na mansão Oliveira...
Vítor e Danilo estão no quarto do primeiro, ambos estudando. Vítor parece que está cada vez mais irritado com o livro que lê, e Danilo parece enfrentar uns cálculos difíceis.
Vítor de repente se levanta com um urro e lança o livro do outro lado do quarto.
- Que é isso, doido?! - pergunta o primo.
- Aaaah, esse tédio terrível! Nada consigo pensar!
- Vai estudar, vagabundo. - zomba Danilo.
- Estou com uma ideia muito melhor, priminho... - começa Vítor, sombrio.
Danilo se ergue, com uma expressão apreensiva.
- Como assim?
- Acho que mais gente dessa família merece morrer!
- Como assim?! Você não parou com aquela maluquice? - Danilo fica apavorado.
- Fale baixo! - reclama Vítor, ameaçador. - E é claro que não! Sou um homem de palavra e levarei minha vingança até o fim...
Danilo sacode a cabeça.
Longe dali, na casa de Priscila...
- Mas... me conte... - começa Priscila. - Quanto tempo você vai ficar aqui mais?
- Eu não faço ideia... talvez mais uns dois dias. Quero ir embora. Quero minhas filhas.
Priscila parece muito infeliz.
- Eu duvido que vocês estejam mal.
- Também não estamos bem. - responde Jéssica, sorrindo, irônica. - E... agora estive pensando.
- O quê, mana? - Pergunta Priscila.
- Acho que ele tem uma amante... - responde Jéssica, com um ar completamente infeliz.
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Priscila faz uma leve cara de espanto.
- Mas... como você pode ter tanta certeza?
- Tem uma mulher... meio... oferecida, morando lá no prédio... - Jéssica lembra de Juliana. - E eu tenho quase certeza de que foi ela.
- Como vocês conheceram? - Quis saber Priscila.
- Ela salvou a vida da Carol, um dia... - Priscila faz cara de espanto. - É... foi na piscina. Eu le fui grata, mas agora... - ela amarra a cara. - Se for realmente ela, não tem como me desagradar mais.
Priscila tenta apaziguar a situação.
- Bem... em todo caso, vá com calma. Não quer jogar um casamento maravilhoso como o seu no lixo por nada, não é?
- É... - responde Jéssica. - Falta só falar isso pro Bernardo.
No cartório...
Uma antiga atendente revira uns livros com Mércia.
- Aqui, achei o dia que você me falou... - diz a atendente à Mércia, que larga o livro que examinava e vai examinar junto com a atendente o outro.
- Acharam o nome dele? - pergunta Ana Paula, ansiosa.
- Calma senhora, agora precisamos ver o quê está borrado, está bem difícil de ler... - comenta a atendente, sem tato. Ana Paula está aflitíssima e se senta numa cadeia, o rosário na mão.
Bernardo se aproxima e se senta ao lado dela.
- Estamos perto, tia!
- É, estamos sim... - responde ela com desdém. - Estamos perto de uma crise dentro da família! Seu pai não vai gostar nada de saber sobre o quê eu ouvi!
Bernado parece chateado.
- Já disse que não quero ouvir nada sobre isso!
- É por causa daquela biscate azeda que eu vi você beijando, não é?
- Não fale assim, não fica bem... - ele começa.
- Que se dane, meu filho! Eu gosto muito da Jéssica, ela é uma pessoa maravilhosa! E não vou deixar que você largue ela por um par de peitos!
Bernardo e as outras duas se espantam. Mércia ergue a voz.
- Achamos, senhora.
- Como é? - ela se vira, espantada.
- Olhe... aqui... à vinte e um anos...
- Qual o nome dos pais? - quis saber Bernardo.
- São Edmundo e Raquel Duarte de Almeida.
Ana Paula fecha os olhos.
- E o menino? - continua Bernardo.
- Chama Wagner Duarte de Almeida.
Bernardo se choca com a informação e olha para a tia. Ana Paula arregala os olhos e leva às mãos ao coração.
- O...o... faxineiro da minha casa?
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Ana Paula não consegue falar mais nada. Sai aos prantos da sala. Bernardo lança um olhar significativo à Mércia, que entende, e sai atrás da tia.
- Tia... tia! Espere!
- Como... como pode ser?!
- Espera, se acalma, tia!
A freira para de andar ao lado de um bebedouro, e põe-se a beber água rapidamente, o rosário à mão. Bernardo fica à leve distância, esperando a tia se acalmar.
- Meu Deus! - grita ela. - Tão perto de mim!
- É, realmente é uma coincidência muito grande. - comenta Bernardo, aflito.
Ana Paula se vira para o sobrinho, muito emocionada.
- E agora... e agora, Bernardo, o quê eu vou fazer?
- É realmente esse o nome dele?
- É claro que é... eu estava lá com ele no pronto-socorro quando o socorri após o atropelamento! Eu o vi preenchendo a ficha... e o médico... o médico!
- Que tem o médico, tia? - pergunta Bernardo.
Ana Paula se afasta, andando de um lado pro outro.
- O próprio médico perguntou se eu era mãe dele, disse que nos parecíamos...
- Ele se parece muito com a senhora...
- Eu sei... eu sei! - ela sorri, exultante. - Ah, graças a Deus! Eu encontrei o meu filho, minha cria! Meu tudo! Doarei cada segundo do meu tempo a ele, agora.
Bernardo fica alarmado.
- Calma, calma... temos certeza, sim. Mas a senhora não pode contar isso do nada, precisamos pensar...
Mas ele percebe pelo sorriso de Ana Paula que a religiosa não está escutando nada.
- Tá... vamos pra casa, precisamos te acalmar.
Na mansão Oliveira...
André está correndo na esteira, suando em bicas. Leonora passa pelas portas de vidro da academia e resolve dar uma parada.
- Beleza, tio... tá ótimo. Desde quando resolveu entrar em forma?
- Eu estou em plena forma, minha querida, eu sou um garoto! - ele dá uma risada vacilante, parecendo cansado.
- O senhor tá bem? Tem certeza? - ela parece desconfiada.
- Claro...! - ele desliga a esteira. - Estou ótimo, sou um touro...
Leonora dá um sorrisinho, constrangida.
- Está seguindo o plano alimentar que eu te passei, tio André?
- Tô... tô, claro... - diz ele, meio cambaleante.
- Tio...? - chama Leonora, mas é tarde. André leva as mãos à cabeça e cai, cambaleando.
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- Tio, tio! Tá me ouvindo, acorda! - grita Leonora.
André se sobressalta e tem sua boca aberta à força. Leonora põe um pouco de sal embaixo da língua dele e tenta fazê-lo melhorar.
- Tio... tá melhor?
- Tô! Tô sim... é só... é só...
- É só o quê, seu maluco? - pergunta ela com um leve tom de riso?
- É só que eu não me alimentei direito hoje... deve ser isso.
- Sei... sim... - ela o olha com censura, enquanto o ajuda a levantar. - Vamos, vou te levar pro seu quarto.
André reluta, mas se ampara na jovem e é guiado por ela para o quarto.
Nao tão perto, na estufa da casa...
Wagner está limpando embaixo das mesinhas da estufa, quando Luana chega, com um mini-regador e uma pequena pá, além dum avental florido. Ela finge que não o vê e, com poses provocantes, começa a cuidar das orquídeas.
- Huuuuuuuum... linda você, querida... - diz ela, para um flor particularmente bonita. - Poderia enfeitar meus cabelos...
Ela nota que Wagner está olhando, disfarçado, e começa a provocá-lo.
- Ou enfeitar-me com um colar...
Ela passa a flor pelo pescoço, com olhos fixos em Wagner.
- Ou até, enfeitar o meu decote!
E ela põe a flor saindo pelo seu decote, com um sorriso maroto. Wagner não disfarça mais o desejo e olha diretamente para a flor, e assim, para o decote da patroa.
- Ah, queridinho, desculpe... não o vi aí... quer chegar mais perto?
- Não precisa perdir mais, dona Luana... - diz ele, se aproximando devagar.
Ela dá uma risada.
- Retire o dona, meu querido... eu fico com cara de velha.
- Não, velha nunca, patroa... - ele a olha de cima a baixo. - A senhora é perfeita... muito linda...
- Então venha aqui logo... seu delicioso...
Ela o puxa para um apertado amasso e põe-se a beijar o rapaz com volúpia.
"AH, MUITO BONITO, MINHA QUERIDA! É assim que se cuida das plantinhas!"
Eles se viram e ficam sobressaltados quando veem Paulinho com uma expressão de fúria no rosto.
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Esse Vitor é realmente sem limites! As traições rolam assim como água da chuva cada vez em maior proporção. Muito legal esse desfecho da historia de Ana Paula, esse autor é muito engenhoso, quando menos espera vem uma revelação que faz com que o leitor se apegue ao contexto! Show de Bola!
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