Pra você que não tem preguiça de ler =)

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Histórias da Mansão

Capítulo 10 - A Verdade vem à Tona









Ana Paula e Mércia estacionam ao lado do cartório, numa rua movimentada.

- É aqui, tem certeza? - pergunta a freira.
- Sim, irmã... foi aqui... ele que me pediu pra vir registrar o menino com ele.
- E porque você não sabe o nome? - questiona Ana Paula.
- Não estive com o escrivão, ele me pediu pra acompanhá-lo para se passar por esposa dele. Mas me manteve com o menino do lado de fora. - queixa-se Mércia, desolada.

Ana Paula se mantém hesitante. Mércia nota, mas o telefone da freira toca quando ela tenta falar.

- Alô... ah, olá filho... que bom que recebeu minha mensagem... - ela começa. - É... esse mesmo. Pode vir? Estou no aguarde... Está bem, vamos entrando e espero você lá dentro.

Ela desliga e se vira para Mércia.

- Então, vamos.

Longe dali, Bernardo está se arrumando, com Juliana nos seus calcanhares, rindo.

- Isso não devia ter acontecido. Você deve sair agora.
- Ai, não me trate assim. - ela se faz de vítima. - Não me expulse. Até parece que você não quis.

Ela o abraça e o põe contra a parede. Bernardo fecha os olhos enquanto põe a calça, mas dá um leve empurrão em Juliana e se afasta.

- Põe o seu vestido e sai. Estou de saída.
- Promete que vamos nos ver de novo... - ela o seduz, lasciva.

Bernardo respira fundo, mas acena com a cabeça e abre a porta, indicando a saída à Juliana, que sai.

Pouco depois, ele encontra com a tia e Mércia no cartório. Ana Paula se vira, sorrindo.

- Finalmente chegou, querido... vamos logo... o quê foi, parece tenso!
- Se... incomoda de ir na frente, por favor? - diz ele a Mércia, que, indiferente, entra no cartório. Ana Paula se vira, intrigada.

- Anda, querido, pode ir me falando, o quê está afligindo você?

Bernardo parece embaraçado.

- Eu acho... que vou pedir o divórcio à minha mulher.


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Ana Paula se espanta e leva às mãos à boca.

- Eu não acredito que ouvi esse sacrilégo!
- Ouviu, sim, tia. - Bernardo parece mais firme. - E eu não esperava algo diferente de você, mas precisei contar.
- Nunca mais terá meu respeito caso faça isso, sobrinho... - Ana Paulo responde, com uma cara amarrada.
- Não vamos falar disso. Vamos, vamos entrar logo.

E, empurrando a tia, a conduz para a  entrada do cartório.

Na mansão Oliveira...

Vítor e Danilo estão no quarto do primeiro, ambos estudando. Vítor parece que está cada vez mais irritado com o livro que lê, e Danilo parece enfrentar uns cálculos difíceis.

Vítor de repente se levanta com um urro e lança o livro do outro lado do quarto.

- Que é isso, doido?! - pergunta o primo.
- Aaaah, esse tédio terrível! Nada consigo pensar!
- Vai estudar, vagabundo. - zomba Danilo.
- Estou com uma ideia muito melhor, priminho... - começa Vítor, sombrio.

Danilo se ergue, com uma expressão apreensiva.

- Como assim?
- Acho que mais gente dessa família merece morrer!
- Como assim?! Você não parou com aquela maluquice? - Danilo fica apavorado.
- Fale baixo! - reclama Vítor, ameaçador. - E é claro que não! Sou um homem de palavra e levarei minha vingança até o fim...

Danilo sacode a cabeça.

Longe dali, na casa de Priscila...

- Mas... me conte... - começa Priscila. - Quanto tempo você vai ficar aqui mais?
- Eu não faço ideia... talvez mais uns dois dias. Quero ir embora. Quero minhas filhas.

Priscila parece muito infeliz.

- Eu duvido que vocês estejam mal.
- Também não estamos bem. - responde Jéssica, sorrindo, irônica. - E... agora estive pensando.
- O quê, mana? - Pergunta Priscila.
- Acho que ele tem uma amante... - responde Jéssica, com um ar completamente infeliz.


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Priscila faz uma leve cara de espanto.

- Mas... como você pode ter tanta certeza?
- Tem uma mulher... meio... oferecida, morando lá no prédio... - Jéssica lembra de Juliana. - E eu tenho quase certeza de que foi ela.
- Como vocês conheceram? - Quis saber Priscila.
- Ela salvou a vida da Carol, um dia... - Priscila faz cara de espanto. - É... foi na piscina. Eu le fui grata, mas agora... - ela amarra a cara. - Se for realmente ela, não tem como me desagradar mais.

Priscila tenta apaziguar a situação.

- Bem... em todo caso, vá com calma. Não quer jogar um casamento maravilhoso como o seu no lixo por nada, não é?
- É... - responde Jéssica. - Falta só falar isso pro Bernardo.

No cartório...

Uma antiga atendente revira uns livros com Mércia.

- Aqui, achei o dia que você me falou... - diz a atendente à Mércia, que larga o livro que examinava e vai examinar junto com a atendente o outro.
- Acharam o nome dele? - pergunta Ana Paula, ansiosa.
- Calma senhora, agora precisamos ver o quê está borrado, está bem difícil de ler... - comenta a atendente, sem tato. Ana Paula está aflitíssima e se senta numa cadeia, o rosário na mão.

Bernardo se aproxima e se senta ao lado dela.

- Estamos perto, tia!
- É, estamos sim... - responde ela com desdém. - Estamos perto de uma crise dentro da família! Seu pai não vai gostar nada de saber sobre o quê eu ouvi!

Bernado parece chateado.

- Já disse que não quero ouvir nada sobre isso!
- É por causa daquela biscate azeda que eu vi você beijando, não é?
- Não fale assim, não fica bem... - ele começa.
- Que se dane, meu filho! Eu gosto muito da Jéssica, ela é uma pessoa maravilhosa! E não vou deixar que você largue ela por um par de peitos!

Bernardo e as outras duas se espantam. Mércia ergue a voz.

- Achamos, senhora.
- Como é? - ela se vira, espantada.
- Olhe... aqui... à vinte e um anos...
- Qual o nome dos pais? - quis saber Bernardo.
- São Edmundo e Raquel Duarte de Almeida.

Ana Paula fecha os olhos.

- E o menino? - continua Bernardo.
- Chama Wagner Duarte de Almeida.

Bernardo se choca com a informação e olha para a tia. Ana Paula arregala os olhos e leva às mãos ao coração.

- O...o... faxineiro da minha casa?


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Ana Paula não consegue falar mais nada. Sai aos prantos da sala. Bernardo lança um olhar significativo à Mércia, que entende, e sai atrás da tia.

- Tia... tia! Espere!
- Como... como pode ser?!
- Espera, se acalma, tia!

A freira para de andar ao lado de um bebedouro, e põe-se a beber água rapidamente, o rosário à mão. Bernardo fica à leve distância, esperando a tia se acalmar.

- Meu Deus! - grita ela. - Tão perto de mim!
- É, realmente é uma coincidência muito grande. - comenta Bernardo, aflito.

Ana Paula se vira para o sobrinho, muito emocionada.

- E agora... e agora, Bernardo, o quê eu vou fazer?
- É realmente esse o nome dele?
- É claro que é... eu estava lá com ele no pronto-socorro quando o socorri após o atropelamento! Eu o vi preenchendo a ficha... e o médico... o médico!
- Que tem o médico, tia? - pergunta Bernardo.

Ana Paula se afasta, andando de um lado pro outro.

- O próprio médico perguntou se eu era mãe dele, disse que nos parecíamos...
- Ele se parece muito com a senhora...
- Eu sei... eu sei! - ela sorri, exultante. - Ah, graças a Deus! Eu encontrei o meu filho, minha cria! Meu tudo! Doarei cada segundo do meu tempo a ele, agora.

Bernardo fica alarmado.

- Calma, calma... temos certeza, sim. Mas a senhora não pode contar isso do nada, precisamos pensar...

Mas ele percebe pelo sorriso de Ana Paula que a religiosa não está escutando nada.

- Tá... vamos pra casa, precisamos te acalmar.

Na mansão Oliveira...

André está correndo na esteira, suando em bicas. Leonora passa pelas portas de vidro da academia e resolve dar uma parada.

- Beleza, tio... tá ótimo. Desde quando resolveu entrar em forma?
- Eu estou em plena forma, minha querida, eu sou um garoto! - ele dá uma risada vacilante, parecendo cansado.
- O senhor tá bem? Tem certeza? - ela parece desconfiada.
- Claro...! - ele desliga a esteira. - Estou ótimo, sou um touro...

Leonora dá um sorrisinho, constrangida.

- Está seguindo o plano alimentar que eu te passei, tio André?
- Tô... tô, claro... - diz ele, meio cambaleante.
- Tio...? - chama Leonora, mas é tarde. André leva as mãos à cabeça e cai, cambaleando.


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- Tio, tio! Tá me ouvindo, acorda! - grita Leonora.

André se sobressalta e tem sua boca aberta à força. Leonora põe um pouco de sal embaixo da língua dele e tenta fazê-lo melhorar.

- Tio... tá melhor?
- Tô! Tô sim... é só... é só...
- É só o quê, seu maluco? - pergunta ela com um leve tom de riso?
- É só que eu não me alimentei direito hoje... deve ser isso.
- Sei... sim... - ela o olha com censura, enquanto o ajuda a levantar. - Vamos, vou te levar pro seu quarto.

André reluta, mas se ampara na jovem e é guiado por ela para o quarto.

Nao tão perto, na estufa da casa...

Wagner está limpando embaixo das mesinhas da estufa, quando Luana chega, com um mini-regador e uma pequena pá, além dum avental florido. Ela finge que não o vê e, com poses provocantes, começa a cuidar das orquídeas.

- Huuuuuuuum... linda você, querida... - diz ela, para um flor particularmente bonita. - Poderia enfeitar meus cabelos...

Ela nota que Wagner está olhando, disfarçado, e começa a provocá-lo.

- Ou enfeitar-me com um colar...

Ela passa a flor pelo pescoço, com olhos fixos em Wagner.

- Ou até, enfeitar o meu decote!

E ela põe a flor saindo pelo seu decote, com um sorriso maroto. Wagner não disfarça mais o desejo e olha diretamente para a flor, e assim, para o decote da patroa.

- Ah, queridinho, desculpe... não o vi aí... quer chegar mais perto?
- Não precisa perdir mais, dona Luana... - diz ele, se aproximando devagar.

Ela dá uma risada.

- Retire o dona, meu querido... eu fico com cara de velha.
- Não, velha nunca, patroa... - ele a olha de cima a baixo. - A senhora é perfeita... muito linda...
- Então venha aqui logo... seu delicioso...

Ela o puxa para um apertado amasso e põe-se a beijar o rapaz com volúpia.

"AH, MUITO BONITO, MINHA QUERIDA! É assim que se cuida das plantinhas!"

Eles se viram e ficam sobressaltados quando veem Paulinho com uma expressão de fúria no rosto.


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Um comentário:

  1. Esse Vitor é realmente sem limites! As traições rolam assim como água da chuva cada vez em maior proporção. Muito legal esse desfecho da historia de Ana Paula, esse autor é muito engenhoso, quando menos espera vem uma revelação que faz com que o leitor se apegue ao contexto! Show de Bola!

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