Pra você que não tem preguiça de ler =)

sábado, 7 de julho de 2012

Histórias da Mansão

Capítulo 13 - Desprezo










Wagner tenta achar graça. Se solta do aperto da freira com um impulso. Tenta argumentar, mas vê verdade e desespero no rosto da mulher.

- A senhora... não tá de brincadeira? Que é isso?
- Eu... não devia ter dito isso! - ela se desespera e volta o rosto.

Wagner fica sem ar, mas logo sua raiva vem à tona.

- A senhora sabe que eu contei ser adotado! A senhora tá zombando de mim, é isso?!
- Eu nunca zombaria de ninguém por isso, filho... - começa ela.
- Não me chama de filho! - grita ele, afastando-se de Ana Paula, com repulsa.

Ana Paula leva as mãos à boca, aflita e desesperada, o rosto cheio de lágrimas.

- De onde você tirou essa história? De que é minha mãe!?
- Eu... é uma longa história...

Wagner parece tresloucado.

- Isso tá muito mal contado...
- Eu... eu posso explicar... - ela tenta argumentar, trêmula.
- Não! - ele se esquiva, se afastando. - Me solta! Isso só pode ser mentira! Sai... me deixe passar!
- Por favor, meu filho, não faz isso comigo! - ela tenta impedí-lo de sair, alterada.
- Não me chama de filho, eu não sou seu filho! Cai na real! - ele se irrita, tentando achar a outra saída da estufa.

Ana Paula se desata à chorar.

- Não me trata assim, meu filho...
- NÃO ME CHAMA DE FILHO! - ele é violento e empurra a freira pro lado. - Sendo cheia da grana, porque você teria me largado num orfanato?! A senhora sabe que eu não tenho onde cair morto, que eu vim de baixo! E porque você teria me largado, seu filho? Não é uma coisa muito... cristã, não é?
- Não fala isso! Não fala do que você não sabe!
- NÃO! - ele diz, apanhando a pá e a vassoura, irritado. - Eu sei de tudo sobre mim! Não pense que pode me dizer que é minha mãe...
- MAS EU SOU...! - começa ela.

Wagner porém, ergue o braço para ela se calar, e se retira, rapidamente, para a área de serviço. Ana Paula, desesperada, joga-se numa das cadeiras e desata a chorar.


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Sai o sol, e um sábado morno e cheio de nuvens paira sobre a mansão Oliveira. Bernardo chega e, de cara fechada, procura Ana Paula. Acha a tia dormindo sobre a mesa de ferro da estuda, no mesmo ponto que parou no dia anterior.

- Tia... tia Ana... que é isso?

Ela nada responde. Pouco depois, porém, houve-se um ruído e Arthur, junto de Wagner, saem pela passagem de serviço, discutindo abertamente.

- ... e porque você vai sair do nada?
- Já disse, fui maltratado aqui! - responde Wagner, seco.
- Maltratado, você?! - Arthur dá uma risada. - Até parece que isso aqui é um hospício!
- E não é?! Tem cada doido aqui! - responde o faxineiro.
- Espera aí, garoto! - Bernardo se revolta. - Que mané hospício?!

Wagner engole em seco, e Arthur arregala os olhos.

- Ele não quis dizer nada...
- Claro que não... - Bernardo retruca, irônico.
- Não é isso, seu Bernardo... - começa Wagner, nervoso. - Aqui tem certas pessoas que estão me tratando mal, e eu acho que não devo ficar aqui!

Bernardo olha dele para Ana Paula, e fica calado. Wagner aproveita para sair, rápido, e Arthur o acompanha. Bernardo anda até Ana Paula, que começa a se erguer, assutada.

- Você contou para o Wagner, não foi?

Ana Paula reconhece Bernardo e, tristonha, desata a chorar, erguendo-se e indo até o sobrinho, que a abraça, amparando-a.

- Contei! Foi a maior burrice que já fiz na minha vida, meu filho! - ela soluça, chorando. - Ele não podia ter falado aquilo tudo comigo!
- Você não teve paciência, tia! Eu lhe pedi tanto para ter calma...
- Coloque-se no meu lugar, Bernardo! - ela reage, irritada. - Como uma mãe que ficou vinte e um anos achando que o filho estava morto reagiria? Você conseguiria me refrear? Ninguém conseguiria!

Ela se senta, desesperada. Atraído pelas vozes alteradas, Ronaldo aparece na porta da estufa.

- Estou interrompendo algo?

Ana Paula e Bernardo se entreolham. Pouco depois, a freira levanta e vai até o irmão.

- Acho que já é hora de contar à todos...


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Pouco depois, família reunida na sala de jantar, Bernardo e Ana Paula contam tudo aos parentes, que ficam espantadíssimos.

- E você reconheceu o canalha? - pergunta Patrícia.
- Claro, Patrícia... se ela disse que foi lá... - resmunga Oswaldo...
- O importante agora... - fala Ronaldo alteando a voz. - É a compreensão de vocês todos. Somos uma família unida, sempre fomos... precisamos da cooperação de todos com essa caso do Wagner... pessoalmente, acho o menino muito cativante, educado, responsável e esforçado.
- É... ele é gente boa. - diz André, com um sorriso.
- Ele é ótimo. - diz Luana, animada. Paulinho revira os olhos, irritado.
- Enfim... vamos procurá-lo, daqui à um tempo... - começa Bernardo.
- Claro que vamos... - diz Ana Paula de maneira rude, e todos se espantam. - Eu vou conseguir ter o meu filho ao meu lado. Nada vai me impedir.

Todos se entreolham e começam a se levantar para sair. Vítor e Danilo se levantam e vão rapidamente para o quarto do primeiro, com Vítor bastante irritado.

- Que legal, descobrir que temos um primo depois de tanto tempo! - começa Danilo, entusiasmado.
- Pois pra mim poderia permanecer morto. - retruca Vítor, sem olhá-lo, dirigindo-se para o video-game. - Só o quê me faltava, esse clima de babação pra cima desse subalterno...
- Que é isso, Vítor, o carinha é bem gente boa mesmo...
- É só mais um! - replica o outro, irritado. - E se bobear, entra na minha listinha também!

Danilo parece se desesperar e chega bem perto de Vítor.

- Pelo amor de Deus! Desiste dessa bobagem!
- Sai pra lá! - Vítor o repele. - Eu tenho palavra! Eu fui humilhado pelo meu tio, e não vou deixar isso barato! Vou cortar toda felicidade dele!

Danilo se espanta, horrorizado.

- Você vai dar pra trás, é isso?
- Não! - solta Danilo, rapidamente, e Vítor dá uma gargalhada.

O branquelo pega o controle do video-game e dá para o primo.

- Anda, meu segundo player eterno... vamo jogar.


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Mais tarde, naquele dia, Jéssica encontra com Priscilla na casa da irmã, junto das filhas, para um almoço. As meninas ficam num canto brincando e Priscilla aproveita para puxar assunto com a irmã, que está aflita.

- Mas, já? - Priscilla pergunta, chocada.
- É... tá na minha hora de sair de lá, mesmo.
- Não sei, mana... acho que você foi precipitada demais... - diz, levantando e levando os pratos sujos.
- Não. - diz Jéssica com simplicidade. - Eu apenas quis evitar qualquer constrangimento no futuro, Pri.
- Nossa, Jéssica, você é tão moderna! - Priscilla se assusta, balançando a cabeça. - Até parece que você não gosta dele!

Jéssica olha para o lado oposto.

- Gosto, Priscilla... - ela suspira, infeliz. - Ele é um cara muito bom... é um marido muito bom... mas eu o sinto tão distante... tão... frio, quase gelado. E essa rotina nossa... parecemos casados à um século!

Priscilla dá uma risadinha.

- Isso é verdade... vocês estão certinhos demais!
- E desde quando nós fomos desordeiros? - indaga Jéssica, com um sorriso.
- Sei lá... mas vocês eram mais animados, Jéssica! - Priscilla tenta se explicar.

Jéssica se vira, levemente irritada.

- Tá dizendo que eu sou uma pessoa entediante?
- Não, não foi isso que eu disse! - Priscilla se defende. - Ora... vocês apenas...
- Tivemos filhos, ascendemos economicamente... - começa a refletir Jéssica. - Será isso o bastante?

Priscilla olha a irmã, penalizada.

- Olha... - começa Priscilla, determinada. - Vocês estão passando apenas por uma má fase. E outra, você disse que ele tá afim de alguma mulher...
- Eu sei que sim...
- De todo jeito... - corta Priscilla. - Você o ama, não é?! Você mesmo disse, ele é bom marido, bom pai, um cara legal! Porque você jogaria um homem desses de bandeja pra qualquer uma?
- É... - diz Jéssica, refletindo um pouco.


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Longe dali...

Wagner chega em casa. Parece irritado. Larga as coisas no quartinho e vai para a cozinha. A mãe, Raquel, está na sala, costurando, e fica indiferente ao filho irritado. Wagner junta-se à mãe, zangado, e liga a TV, distraído.

Pouco depois, a porta da frente abre-se com um estrondo e entra Edmundo, pai de Wagner. Raquel se sobressalta levemente e fura-se com a agulha.

- Olha o jeito, pai... - diz a mulher.
- Que é que esse menino está fazendo aqui, mulher? - pergunta Edmundo, de supetão, apontando pra Wagner enquanto vai até a geladeira, pegar cerveja. - Não tinha que estar trabalhando não, no casarão que o Arthur trabalha?

Wagner se vira para encarar o pai.

- Eu saí de lá.

Edmundo dá uma gargalhada maldosa.

- Saiu? Saiu, foi, bebezinho da mamãe? E vai fazer o quê agora, seu imprestável? Vai pedir troco no sinal? Vai virar flanelinha?
- Não adianta me insultar, pai, não vai conseguir me tirar do sério... porque estou muito intrigado com um rolo aí...

Edmundo faz cara de espanto.

- Oh... olha, ele... intrigado com um rolo aí... parece até gente grande... - ele faz cara de nojo e cospe no chão. - Ah, moleque, vá tomar banho! Desde quando você tem motivos pra "ficar intrigado com um rolo", hein?

Wagner se ergue e peita o pai.

- Desde quando uma doida de uma freira olha na minha cara e diz que eu sou filho dela!

Edmundo encara assustado o filho. No sofá, Raquel se ergue, amedrontada, e fura outro dedo.

- Anda, pai, me diz se isso é verdade? Você me achou num orfanato mesmo ou essa ricaça me deu pra vocês criarem?


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Um comentário:

  1. Mais uma vez a felicidade de Ana foi adiada, qundo pensava que o filho ia sensibilizar, espero que mude esse rumo. Vitor mal sabe do primo e ja coloca na lista negra que cara maldoso. Esse estuprador barato nem se quer sabe tratar bem o filho deve ser um sugador do salario do filho! Cada vez mais emocionante!

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