Capítulo 16 - Conversa Franca, parte 2
Alice senta, sem graça, no pufe as pés da cama do flat. Ricardo está encostado no parapeito da varanda, de cabeça baixa, e parecia desoladíssimo.
Alice suspirou, levantou-se e foi até o amigo.
- Mas me responde... no fundo você sabia que isso iria acontecer?
Ricardo acenou com a cabeça, olhos fechados.
- Você nunca deu muita atenção pra ele, não é? Você é de conversar com ele?
- Não. - respondeu Ricardo, estático.
- Você por acaso sabe o curso dele, na faculdade?
- N-Não... - Ricardo deixa escapar uma lágrima.
- Você lembra a idade dele? - Alice parecia espantada.
- Não, Alice! Não lembro! E para! Para com essas perguntas! Você só está me confundindo mais e mais! - Ele anda desnorteado para o quarto e se deita, chorando.
Alice mantém sua pose de carrasca. Senta-se no pufe, novamente.
- Sabe porque você nunca se tocou disso? Porque você tava pegando e tá bom por isso aí. Tava transando e tava de boa com isso, tô mentindo?
- Não... ele já me disse isso. - diz Ricardo, abalado.
- Então, meu querido? Será que nem uma vezinha você foi afim dele?- Alice dá um olhar condescendente e Ricardo amarra a cara.
- Lógico, senão não tinha pego ele!
Alice tenta não sorrir.
- Mas você nunca demonstrou isso. Apenas serviu de... ombro amigo, quando ele acabou com a tal Martinha. Ele agora vai achar que você, sei lá, o corrompeu...
Ricardo faz uma careta para a amiga.
- "Corrompeu"? Que coisa ridícula, Alice. Se ele ficou comigo, foi porque ele quis.
- Eu sei.
Alice fez uma cara sem graça pra Ricardo.
- Então diga você isso a ele.
Alice levanta, dá um beijinho na bochecha do amigo, apanha sua bolsa e vai saindo.
- Espera.
Alice dá meia-volta após pôr a mão na maçaneta da porta.
Ricardo se levanta, põe uma regata branca, passa a mão na chave do carro e pega a carteira.
- Vamo sair pra badalar. Tô precisando um pouco.
Alice dá um sorrisinho e o acompanha.
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Wallace ria ainda, o filme tinha sido bem engraçado. Estava adorando aquele seu outro dia de descontração. Parecia viver um pouco. Intrigara-se , porém, com uma mulher bonita, de meia idade, que estava de costas à ele. Achando-a vagamente familiar, resolveu segui-la.
A mulher desce as escadas rolantes do shopping, em diração à praça de alimentação, e Wallace parecia com vontade de saber quem era. A mulher foi até um dos balcões de restaurante que havia na praça de alimentação, e conversou rapidamente com a atendente, que mostrou-lhe o cardápio. Estendeu a mão para apanhá-lo e Wallace pode ver seu bracelete.
- Espera aí... - disse ele baixinho. - Eu já vi esse bracelete...
A atendende saiu de perto da misteriosa mulher, que virou-se na direção das mesas e se sentou.
- Eu comprei isso pra minha mulher... como pode estar no braço dela? - Wallace parecia intrigado. Andou até a mesa que a mulher sentara e foi logo soltando o verbo.
- Com licença, moça. Poderia me dizer como você conseguiu esse bracelete exclusivo que eu comprei pra sua mulher?
Ele viu o rosto dela e se espantou.
- Eu sou sua mulher, Wallace. - disse Fiona, fazendo cara de desdém. - E, que bom que está indo ao cinema, fiquei muito contente em saber que você está indo ao cinema.
Wallace parecia aturdido. Piscou várias vezes e achou melhor sentar.
- O quê está fazendo aqui? Está me vigiando?
- Eu tenho vida, Wallace. Eu trabalho na minha galeria e eu saio, às vezes. Cansei de te chamar pra vir ao cinema, por exemplo, e você, nada.
Wallace parece indignado.
- Eu não lembro de você ter me chamado pra vir ao cinema.
- Claro que não, quase todas as vezes você estava resolvendo alguma pendência no celular. - Fiona é categórica.
Wallace parece chateado.
- Você... gostou do filme?
Fiona parece se assustar com a pergunta do marido, mas dá um leve sorriso.
- Gostei! Muito engraçado! E é nacional.
- Adoro filmes nacionais, e você sabe.
Fiona sorri.
- E aquela parte em que o rapazinho é pego na hora H pelo pai? - Wallace dá uma risada e faz a esposa rir.
- É... embaraçoso, né?
Os dois sorriem entre si.
- Quer sair pra jantar?
- Eu vou comer ali... - ela aponta o restaurante.
- Não vai não, tô te chamando pra jantar. Só nós.
Ele parece um tanto receoso, mas Fiona simplesmente se levanta.
- Tá fazendo o quê sentando ainda? Vamos!
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A aula acaba, Caio se dirige como sempre para o local combinado com Melina. A professora já está lá, mas está entrando no carro. Olha para Caio de relance e acena com a cabeça supostamente para ele.
- Ei... professora!
- Depois... - Melina fecha a porta do carro e acelera. Caio não entende, e faz uma cara de chateação.
- Eu, hein. Ela tava toda assustada...
- Deve ter achado que você denunciou ela, querido.
Ele se vira assustado para trás, reclinando-se para o muro. Laila, que estava muito bem escondida atrás de um arbusto frondoso, se revelou e encarava Caio. Ele fez menção de correr.
- Não se assusta. Eu sei de tudo de vocês.
A cara de Caio ficou, se possível, ainda mais amedrontada.
- Vai contar pra minha mãe?
Laila sorri.
- Nossa, como você já se desmanchou...
- Peraí, como você sabe de tudo?
- Ela é minha tia... você esqueceu?
Era verdade. Caio lembrou de ter vislumbrado Laila ao olhar pro decote da moça.
- Ah, lembrei de você...
- Então... quero que saiba que eu gosto muito da minha tia, e quero saber se você vai ferrar com a vida dela.
- Como assim?
- Você vai denuncia-la? - perguntou Laila, com medo.
Caio tentou ficar por cima.
- E se for, vai fazer o quê?
- Você não vai, queridinho...
Ela sorria e ele não a entendia.
- Você se acha esperto... se acha o gostosão, não é?
Caio dá um sorriso sem graça.
- Ela gosta, ela me acha gostoso, mas sabe que eu posso metê-la na cadeia!
- Então porque não fez isso ainda? - indaga Laila, sorrindo cínica para Caio. - Você tem carinho por ela. Ela não é só gostosa... não é isso que você pensa dela? Ela é gostosa e você gosta dela, não é só um pedaço de carne pra você... não é?
Caio tentou responder, mas Laila tapou a boca dele com um dedo e ele silenciou.
- Pensa bem nisso, tá certo? Porque nós todos sabemos como rolou... e acho que você não é mentiroso.
Ela sai, deixando Caio confuso.
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