Pra você que não tem preguiça de ler =)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

8 ou 80 (Últimos Capítulos)

Capítulo 16 - Conversa Franca, parte 2





Alice senta, sem graça, no pufe as pés da cama do flat. Ricardo está encostado no parapeito da varanda, de cabeça baixa, e parecia desoladíssimo.

Alice suspirou, levantou-se e foi até o amigo.
- Mas me responde... no fundo você sabia que isso iria acontecer?

Ricardo acenou com a cabeça, olhos fechados.

- Você nunca deu muita atenção pra ele, não é? Você é de conversar com ele?
- Não. - respondeu Ricardo, estático.
- Você por acaso sabe o curso dele, na faculdade?
- N-Não... - Ricardo deixa escapar uma lágrima.
- Você lembra a idade dele? - Alice parecia espantada.
- Não, Alice! Não lembro! E para! Para com essas perguntas! Você só está me confundindo mais e mais! - Ele anda desnorteado para o quarto e se deita, chorando.

Alice mantém sua pose de carrasca. Senta-se no pufe, novamente.

- Sabe porque você nunca se tocou disso? Porque você tava pegando e tá bom por isso aí. Tava transando e tava de boa com isso, tô mentindo?
- Não... ele já me disse isso. - diz Ricardo, abalado.
- Então, meu querido? Será que nem uma vezinha você foi afim dele?- Alice dá um olhar condescendente e Ricardo amarra a cara.
- Lógico, senão não tinha pego ele!
Alice tenta não sorrir.

- Mas você nunca demonstrou isso. Apenas serviu de... ombro amigo, quando ele acabou com a tal Martinha. Ele agora vai achar que você, sei lá, o corrompeu...

Ricardo faz uma careta para a amiga.
- "Corrompeu"? Que coisa ridícula, Alice. Se ele ficou comigo, foi porque ele quis.
- Eu sei.

Alice fez uma cara sem graça pra Ricardo.

- Então diga você isso a ele.

Alice levanta, dá um beijinho na bochecha do amigo, apanha sua bolsa e vai saindo.
- Espera.

Alice dá meia-volta após pôr a mão na maçaneta da porta.

Ricardo se levanta, põe uma regata branca, passa a mão na chave do carro e pega a carteira.

- Vamo sair pra badalar. Tô precisando um pouco.

Alice dá um sorrisinho e o acompanha.


- - -


Wallace ria ainda, o filme tinha sido bem engraçado. Estava adorando aquele seu outro dia de descontração. Parecia viver um pouco. Intrigara-se , porém, com uma mulher bonita, de meia idade, que estava de costas à ele. Achando-a vagamente familiar, resolveu segui-la.

A mulher desce as escadas rolantes do shopping, em diração à praça de alimentação, e Wallace parecia com vontade de saber quem era. A mulher foi até um dos balcões de restaurante que havia na praça de alimentação, e conversou rapidamente com a atendente, que mostrou-lhe o cardápio. Estendeu a mão para apanhá-lo e Wallace pode ver seu bracelete.

- Espera aí... - disse ele baixinho. - Eu já vi esse bracelete...

A atendende saiu de perto da misteriosa mulher, que virou-se na direção das mesas e se sentou.

- Eu comprei isso pra minha mulher... como pode estar no braço dela? - Wallace parecia intrigado. Andou até a mesa que a mulher sentara e foi logo soltando o verbo.

- Com licença, moça. Poderia me dizer como você conseguiu esse bracelete exclusivo que eu comprei pra sua mulher?

Ele viu o rosto dela e se espantou.

- Eu sou sua mulher, Wallace. - disse Fiona, fazendo cara de desdém. - E, que bom que está indo ao cinema, fiquei muito contente em saber que você está indo ao cinema.

Wallace parecia aturdido. Piscou várias vezes e achou melhor sentar.

- O quê está fazendo aqui? Está me vigiando?
- Eu tenho vida, Wallace. Eu trabalho na minha galeria e eu saio, às vezes. Cansei de te chamar pra vir ao cinema, por exemplo, e você, nada.

Wallace parece indignado.

- Eu não lembro de você ter me chamado pra vir ao cinema.
- Claro que não, quase todas as vezes você estava resolvendo alguma pendência no celular. - Fiona é categórica.

Wallace parece chateado.

- Você... gostou do filme?

Fiona parece se assustar com a pergunta do marido, mas dá um leve sorriso.

- Gostei! Muito engraçado! E é nacional.
- Adoro filmes nacionais, e você sabe.

Fiona sorri.

- E aquela parte em que o rapazinho é pego na hora H pelo pai? - Wallace dá uma risada e faz a esposa rir.
- É... embaraçoso, né?
Os dois sorriem entre si.

- Quer sair pra jantar?
- Eu vou comer ali... - ela aponta o restaurante.
- Não vai não, tô te chamando pra jantar. Só nós.

Ele parece um tanto receoso, mas Fiona simplesmente se levanta.

- Tá fazendo o quê sentando ainda? Vamos!


- - -


A aula acaba, Caio se dirige como sempre para o local combinado com Melina. A professora já está lá, mas está entrando no carro. Olha para Caio de relance e acena com a cabeça supostamente para ele.

- Ei... professora!
- Depois... - Melina fecha a porta do carro e acelera. Caio não entende, e faz uma cara de chateação.

- Eu, hein. Ela tava toda assustada...
- Deve ter achado que você denunciou ela, querido.

Ele se vira assustado para trás, reclinando-se para o muro. Laila, que estava muito bem escondida atrás de um arbusto frondoso, se revelou e encarava Caio. Ele fez menção de correr.

- Não se assusta. Eu sei de tudo de vocês.

A cara de Caio ficou, se possível, ainda mais amedrontada.

- Vai contar pra minha mãe?

Laila sorri.

- Nossa, como você já se desmanchou...
- Peraí, como você sabe de tudo?
- Ela é minha tia... você esqueceu?

Era verdade. Caio lembrou de ter vislumbrado Laila ao olhar pro decote da moça.

- Ah, lembrei de você...
- Então... quero que saiba que eu gosto muito da minha tia, e quero saber se você vai ferrar com a vida dela.
- Como assim?
- Você vai denuncia-la? - perguntou Laila, com medo.

Caio tentou ficar por cima.

- E se for, vai fazer o quê?
- Você não vai, queridinho...

Ela sorria e ele não a entendia.

- Você se acha esperto... se acha o gostosão, não é?

Caio dá um sorriso sem graça.

- Ela gosta, ela me acha gostoso, mas sabe que eu posso metê-la na cadeia!
- Então porque não fez isso ainda? - indaga Laila, sorrindo cínica para Caio. - Você tem carinho por ela. Ela não é só gostosa... não é isso que você pensa dela? Ela é gostosa e você gosta dela, não é só um pedaço de carne pra você... não é?

Caio tentou responder, mas Laila tapou a boca dele com um dedo e ele silenciou.

- Pensa bem nisso, tá certo? Porque nós todos sabemos como rolou... e acho que você não é mentiroso.

Ela sai, deixando Caio confuso.


- - -
- - -
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário