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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

8 ou 80 (Últimos Capítulos)

Capítulo 17 - Atentados





Alice volta pra casa, satisfeita com a promessa de mais fotos como modelo. Dobra a esquina, após descer do ônibus, e sai andando. Acena para alguns agora conhecidos do bairro, e caminha sozinha pela rua quando a porta de um carro preto ali abre. Salta um homem mal encarado, que obviamente estava esperando.

Alice para, alarmada. Reconhece o homem, é Jordano. Olha em volta, a rua está deserta.

- Você...

Jordano não dá tempo para Alice reagir e vira um tapa na cara dela. Alice tenta reagir, dando pancadas em Jordano com a bolsa. Ele tenta colocar a modelo no carro à força.

- Você acha que é peixe grande pra me dar condições? - ele fala, entre as pancadas.
- Sai, me solta! - diz Alice, mas é abafada por Jordano quando tenta falar mais alto.
- Você agora vai pagar por aquela garrafada que me deu!

Alguns moradores locais escutam o vozerio e vão pra perto.

Alice tenta se desvencilhar das garras de Jordano, mas tropeça numa pedra e cai na terra batida, ao lado do carro. Jordano aproveita e empurra a cabeça dela contra o carro, fazendo barulho. Alice cai, desacordada.

- Que é que o senhor pensa que tá fazendo?

Jordano se vira. Há gente dos dois lados da travessa escura. Um pescador jovem, Davi, está a frente. Alguns parecem revoltados com a situação; outros, com medo.

- Vou chamar a polícia! - grita uma mulher gordinha.
- Nada disso, vamo linchar ele! - grita Davi, e uns colegas do pescador correm atrás dele.

Jordano se ira, mas nada pode fazer além de correr para o carro e sair, acelerando. Os moradores ainda dão vários tapas e conseguem amassar o carro, na traseira, mas logo Jordano dispara e deixa um rastro de poeira.

Alice vai se erguendo, com uns gemidinhos. Davi hesita por um instante, mas se ajoelha para ajudá-la.

- Tá bem, moça? - ele a segura pelo braço e ajuda-a a se levantar.
- Tô... brigada... - ela cambaleia um pouco para pegar a bolsa, se ergue e se desequilibra, e Davi a segura para ela não cair. Os dois se olham.

- Ahn...
- Er... licença... - ela diz, se soltando e passando a mão no corcuto da cabeça.
- Olha, menina, peguei a placa desse safado! - diz a mulher gordinha. - Vamos ligar agora pra polícia, pra denunciá-lo... Todos aqui viram, não foi gente? - Ela grita, atiçando os presentes, que murmurram em concordância. - Você pode processar o infeliz que ele tá frito na mão da gente.
A "platéia" concorda. Cleide vem vindo, enquanto Alice ainda está dando umas olhadas duvidosas para Davi, pensando no que fazer.

- Que foi, menina?
- Ahn... Cleide... me leva? Tô precisando de apoio... - ela olha de rabo de olho para Davi enquanto vai embora.


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- Não acredito, minha flha!
- Juro!
- Laila, você fez isso?
- Fiz, mãe. E o menino caiu em si.

Márcia dá uma risadinha, enquanto despeja o macarrão na travessa. Laila pega o molho e o macarrão e vai levando para a mesa. Pouco depois, Márcia vem, com uma travessa carregada de frango desfiado.

- Cadê o Otávio?
- Foi no banheiro, não? - diz Laila, buscando os copos.
- E o seu namorado?
Laila faz uma pequena cara de desagrado.

- Está... numa palestra sobre física, física e mais física na faculdade...

Márcia se encosta, preocupada, no balcão da cozinha. Laila pousa os copos com certa brutalidade na mesa e fica de cara feia.

- Filha... eu tô preocupada... vocês dois...
- Estamos ótimos, mãe. - diz Laila, com voz dura.
- Laila, deixa disso. - ponderou Márcia. - Você devia deixar de ser tão cabeça dura! Admita! Você está com problemas, filha? O Tiago quer te deixar?

Laila deixa escapar uma lágrima e um soluço. Estende as mãos para Márcia e se dirige até ela, num gesto de desespero. Márcia, surpreendida, abraça a filha, que cai num choro. Longe delas, após sair silenciosamente do banheiro, Otávio fita as duas.

- Ô, minha filha, me conta... o quê tá te atormentando?
- Eu mudei, não mudei, mãe? Não estou, como ele diz... normal?
- Tá ótima, filha... tá linda, radiante...
- E porque ele não mudou pra mim? - Laila parecia indignada. - Porque ele não deu valor? Porque ele ainda está metido numa MALDITA PALESTRA SOBRE FÍSICA?! - ela gritou, assustanto Márcia.

Márcia respira fundo antes de falar.

- Filha, presta atenção... (ela suspira) Você não pode esperar que ele note tudo, que mude por você... ele também tem gostos! Ele pensa, respira, raciocina... não na mesma direção que a sua... e afinal... que desgosto é esse com física pra você ter tanta raiva assim.

Laila hesita por um instante, mas lança um olhar de secar planta à mãe e se levanta.

- Vamos jantar, sim?

Otávio sorri, do seu canto.

"Preciso ajudar esse cara... não sabe o mulherão que está perdendo", ele pensa.


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Rindo bobamente como um adolescente, Wallace caminha com Fiona pela praia, após mais um jantar romântico e agradável. Olham as estrelas, abraçados, enquanto ainda não chegam até o carro, e vão andando devagar.

- Tava gostoso o jantar, Fiona?
- Tava, amor... tava ótimo.

Ele sorri, olhando para o restaurante mais uma vez.

- Onde eu tava que tão tava jantando aí?
- Tava trabalhando, amor. - Fiona sorri, com uma leve ironia, mas dá um beijinho em Wallace. Mas ela sai olhando de relance para algo além. - Aquele carro ali...

Ela aponta para o carro, vermelho, logo à frente deles. Wallace também reconhece o veículo.

- Nao é o carro do Ricardo?
- De fato... - Wallace parece intrigado. - O flat que ele alugou é aqui pela orla... mas é mais adiante... que é isso no parachoque?

Um pequeno amassado chama a atenção de Wallace, que se agaixa para observar melhor. Passado um momento, Fiona deu vários tapas em Wallace para chamar a atenção do marido, que se levantou.

- Eu não acredito nisso. - disse baixinho.

Ricardo vinha do mar, parcialmente vestido; a calça bege estava rasgada na altura do joelho e a camisa, aberta, exibindo alguns arranhões no tórax do cozinheiro. Cantarolava tristonho algo que parecia "I Will Survive" e segurava uma garrafa de vodka quase no fim na mão. Ao ver mãe e pai parados diante do carro, caiu de joelhos e vomitou no chão.

- Meu filho... meu filho! Você tá bem?
- Eu não acredito! Esse marmanjo, depois dos trinta inventou de ficar bêbado e caindo no meio da prai...
- Vai dizer que nunca chegou bêbado em casa, Wallace? Pra cima de mim! - gritou Fiona, irritada. - Me ajude a carregar ele...

Ricardo só ria, e insistia em manter a garrafa de vodka junto ao peito.

- Amor I love you... amoy I love you... - cantarolava ele.
- Para... para... PARA! - Wallace ergue o filho e dá um tapa na cara dele. Fiona se descontrola e dá vários soquinhos no marido.

- Seu infeliz! Pare com isso agora! Ajude seu filho!
- Eu não pedi pra ter uma...
- Bicha?! - Fiona completa, tresloucada, virando-se para o filho. Ricardo caíra sentado e ria, na mesma.

- Vem filho... cadê a chave... aqui, me dá, sim?
- Eu sou bicha... eu sou bicha... - diz Ricardo, erguendo a sobrancelha e fazendo pose para o pai, enquanto é carregado por Fiona até o próprio carro. Ela acelera e sai logo dali.

Wallace olha, abobalhado, até Fiona virar a primeira esquina.

- Isso tá acontecendo mesmo? - ele se pergunta, coçando a cabeça.


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