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segunda-feira, 4 de julho de 2011

8 ou 80

Capítulo 10 - A Chantagem e os Desentendimentos





Ansioso desde o dia anterior, Caio aguardava Melina da esquina mais distante do colégio, onde Melina estacionara o carro. Impaciente, não para de bater o pé e olhar furtivamente sobre o ombro, até que Melina se aproxima e ele se vira para a professora. Ela percebe o menino lá, dá um breve aceno com a cabeça e dá "boa tarte" educadamente. Abre a porta de trás do carro para pôr umas pastas, mas Caio cria coragem e segura o seu pulso.
- Espera!
- Er, Caio... que é isso?
- Tô precisando te falar uma coisa...

Melina faz ele soltá-la.

- É sobre a feira de ciências...
- Não, é sobre você mesmo.

Ela se espanta e ele chega mais perto.

- Sobre mim?
- É.
- Ah, tá certo, garoto. Anda, o quê você quer falar sobre mim.
- Eu descobri seu segredinho, professora.

Melina gela. Mantém a personagem fria e olha condescendente para Caio.

- Segredinho, garoto? Que segredinho?
- Você e o... seu Evaldo, o jardineiro.
- Ele é uma pessoa muito boa... - diz ela cínica.
- É um amante muito bom, também?

Melina não consegue se conter e tapa a boca de Caio, que sorri, por trás da mão dele.

- Cale a sua boca, menino! Não se meta na minha vida...
- Olha só... Melina... eu posso ser um amante muito bom também. - ele apanha a mão da professora e a escorrega pelo seu tórax. Melina solta-se dele com um puxão, e ajeita os cabelos compulsivamente.

- Que é que você tá pensando, que eu sou uma...
- Vagabunda? Não, que é isso... - Caio sorri. - Eu só penso que você é gostosa, professora. E que é taradona...

Melina vai dar um tapa nele, mas para a mão no meio do caminho. Caio sorri.

- Cê tá insinuando o quê, seu moleque safado... que...
- Que a senhora vai transar comigo... e eu não conto nada pra ninguém.

Melina fica boquiaberta, mas dá um olhada de cima a baixo no garoto.

- Cai na real, garoto, cê acha mesmo que eu, sua professora, vou transar com um moleque que nem tem barba feito você? Além de você ser menor...
- Ah, é esse o problema, eu ser menor? Tem problema não, eu digo que eu te seduzi mesmo... e seduzi direitinho.

Melina olha indignada para ele. Caio ainda tenta beijá-la, mas Melina o empurra contra o muro da escola, entra no carro, dá a partida, mas Caio dá duas batidinhas no vidro e ela o abre.

- Últimas palavras, bonitinho.
- Eu te espero aqui amanhã. E é bom que você estacione no mesmo lugar, que daqui a gente já sai prum...

Melina arranca com o carro, irritada.

- Que moleque mais sem vergonha, mais pretensioso, mais... gostoso... CALA A BOCA, MELINA!

Ela dá dois tapinhas na cabeça e quase que bate quando o sinal fecha.


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Laila está arrumando sua malinha para o fim de semana em Carapibus com Tiago, a porta de casa se abre, e ela se sobressalta. Anda até a sala, silenciosamente, e consegue ver a sua mãe aos beijos com Otávio. "Peraí!", pensa ela, "esse vagabundo não!".

- Ô, mamãe! - grita Laila, saindo do corredor e sobressaltando a mãe.
- Laila!

Otávio é empurrado por Márcia e cai no tapete. Laila esboça um sorriso, mas volta à expressão de "carrasca".

- Você devia estar odiando esse cara, e não dando um amasso com ele no sofá de casa!
- Minha filha, calma...
- Só falta você ficar assistindo filminho de comédia com tia Melina amanhã, e tomando chazinho.
- Laila!
- Que é?
- Cale a boca e se sente! Já!

Laila faz cara de choro, mas obedece e se senta na poltrona defronte à mãe. Otávio, sempre calado, se senta ao lado de Márcia, que se vira irritada para a filha.

- Enfim, filha, acho que tá na hora você crescer.
- Não vamos falar de mim...
- Eu estou falando, me obedeça.

Laila olha a mãe, incrédula.

- Certo, fale.
- Em primeiro lugar, eu sou, além de sua mãe, vinte e cinco anos mais velha que você. Sei muito bem tomar decisões sobre minha vida afetiva.
- Sim, mas esse cara aí... - ela apontou Otávio - é, se eu me lembro bem, vinte e oito anos mais novo que a senhora! É mais novo do que eu!
- Que ótimo que você sabe de matemática, minha filha.
- Não vai me menosprezar, não!
- Então cresça! - Márcia se ergue. - O quê aconteceu entre a sua tia e o meu namorado é passado e não acontecerá mais, eu tenho certeza. Agora, por favor filha, não fique no meu caminho, amo você e isso é tudo que te peço.

Laila também se erguera.

- Eu, eu... eu preciso de um tempo pra organizar tudo isso na minha cabeça.
- Tudo bem, Laila, tudo à seu tempo.

Laila hesita, mas dá as costas à mãe e sai, não antes de olhar feio para Otávio, que se levanta e abraça Márcia.

- Eu fico muito sem graça nessa situação toda...
- Fica assim não. - diz Márcia. - Eu que provoquei isso vindo pra casa contigo. Vamos prum barzinho.. sei lá.
- Vamos...

Márcia apanha a bolsa, dá à mão para Otávio e é amparada por ele.


- - -


Wallace acorda, naquela sexta-feira cheia de sol. Estica-se sobre a cama para apanhar o celular e nota que dormiu sozinho, novamente. Chateia-se. Levanta e vai pro banheiro. Não tem ninguém lá. Toma banho em silêncio, faz a barba, sempre intrigado. Não consegue saber o porque de sua esposa não estar ali.

Sai do banheiro, veste algo casual e apanha o celular novamente. Liga pro seu assistente, Edvaldo.

- Sim, chefe. Já estou chegando...
- Edvaldo... ér, eu queria que você cancelasse tudo que eu tenho hoje.
- Co-Como assim, senhor?
- Não estou afim de sair hoje... pelo menos... de trabalhar.
- Ah, que... certo, senhor, o quê o senhor mandar.

Wallace desliga o telefone, aéreo. Sentia algo desconexo. Sai do quarto. Vaga pelo enorme apartamento sozinho e sem rumo. Chega a sala em tempo de ver Ricardo saindo com Alexandre de casa.

- Mas o quê é isso!? - grita Wallace, assustando o filho e seu então namorado.
- Ah, é você. - diz Ricardo com desdém.
- Claro que sim! E quem é esse? - ele aponta bruscamente para Alexandre, que tenta se esconder atrás de Ricardo. - Já lhe disse que não quero que traga homens aqui pra minha casa!
- Foi só por uma noite, precisei ajudá-lo. Ah, e tem mais...
- Mais?! Mais o quê?
- Acho que vou ficar morando em um flat por um tempo... mas é claro que o senhor concorda.
- Vá! Vá e fique longe de mim! Eu sou suficiente para mim e pra minha vida!

Ricardo dá uma gargalhada, assustando Alexandre.

- Sério? E cadê sua esposa, minha mãe?
- Que tem a sua mãe?
- Você devia ir atrás dela em vez de ficar me azucrinando!
- O quê quer dizer?
- Você é orgulhoso o suficiente para não sacar que ela te deixou, papai? - ironizou Ricardo, com enorme desprezo na última palavra.
- Cale a boca, Ricardo!
- Calo nada, você que é um besta... tô saindo.

Ricardo puxa a porta rápido e evita que um cinzeiro arremessado por Wallace o atinja. Pouco depois, Matilde, a empregada, entra pela cozinha, com às mãos no coração.

- Que foi isso, seu Wallace?
- Cadê ela, Matilde?
- Ela quem, seu Wallace?
- A minha mulher! A Fiona! Ela me deixou! Eu quero saber onde ela está!
- Se acalme, seu Wallace...
- Você é surda, mulher? Eu quero o endereço dela!

Matilde engole em seco, mas assente e entra correndo pela cozinha. Wallace cai numa poltrona da sala, arrasado, e Matilde volta, instantes depois, com um bloquinho de notas.

- Ela... ela me deu esse endereço, seu Wallace, quando me pediu pra levar umas coisas...

Wallace nada fala. Levanta-se de um salto, arranca o bloquinho das mãos da empregada e corre até a chave do carro, no aparador. Sem dizer uma palavra, bate a porta de casa e deixa a empregada sozinha, pensativa.

- Ai, Deus, tomara que eles se acertem!


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