Pra você que não tem preguiça de ler =)

sábado, 16 de julho de 2011

8 ou 80

Capítulo 12 - Falando Francamente





Depois de passar uma noite, mesmo um tanto contrariado, na casa de Márcia, Otávio acorda, com o intuito de fazer um café pra ela. Sai, apenas com bermudas, cruza a sala e quase esbarra com Laila, que está saindo da cozinha, apressada; parece já estar saindo para a universidade.

- Ai, que saco!
- Desculpe, Laila...
- Não me fale com esse tom de... padrasto!
- Como é?
Ele dá uma risadinha, e ela esbarra nele de propósito para tirá-lo da frente. Porém Otávio segura Laila pelo braço e a faz parar.

- Peraí! Falando sério agora...
Laila se solta e encara Otávio, furiosa.

- Qual é o seu problema comigo? Sério, seja franca. Não lhe fiz mal nenhum, apenas namoro com a sua mãe...
- Esse não é o mal, queridinho. - disse Leila com uma ironia que não era sua. - O mal é você ser um pirralho pra ela! Ser mais novo do que eu, não que isso seja grande coisa. Mas você não presta para a minha mãe!
- Não presto? Não vejo motivo.
- Você é o cara mais safado, mais ordinário, mais canalha que eu já vi! Você pegou a minha tia, e duvido que não queria pegar de novo!

Otávio é forçado a dar uma risada.

- Laila, presta atenção numa coisa...

Laila faz uma cara de interesse.

- Você não me conhece, e acha que conhece sua tia. Você acha que eu sou um conquistador barato, que sai transando com todas as mulheres que ele vê pela frente.
- E não é?
- Claro que não. Eu sou um homem de uma mulher só. Olha pra mim, o quê você vê, um safado?
- Er... é!

Otávio dá um sorriso sem graça. Adianta-se, dá dois tapinhas no ombro de Laila, e vai para a cozinha.

- Me dá provas... e aí eu te digo se sou o safado que você diz que eu sou. 

Leila ficou indignada, mas saiu pisando duro e bateu a porta da sala.


- - -


Depois de uma passada na polícia, com a ajuda de um "colega" (que Ricardo não quis esclarecer de onde conhecia), Alice e Ricardo descobriram o novo endereço de Mayara: a antiga casa de Alice!

- Não acredito que ele foi tão cara de pau...
- É, eu já vi que você não deve esperar nada desse seu... desafeto.
- Eu nunca fui muito com a cara dele, e agora vi o quê ele é capaz de fazer. Mas ele achava mesmo que eu não ia descobrir nada?
- Bem, sem querer ofender, querida, mas acho que ele pensava que você era fútil e boba demais para pensar nisso.

Alice olha, condescendente, para Ricardo.

- Obrigado pela patada.
- De nada, amor.

Eles chegam, em pouco mais de cinco minutos, ao antigo condomínio fechado de Alice, onde Ricardo se disse interessado em comprar umas casas. Com a negativa do porteiro, Alice saltou do carro e o porteiro, reconhcendo-a, disse que poderiam entrar.

- Esse cara era doido por mim. - diz Alice, com leve desdém. - Não iria me negar nada.
- Tipinho interessante, querida, vai fundo. - disse Ricardo, sorrindo.

Chegaram na casa dela, onde haviam alguns carros estacionados na frente. Um som alto e música indicavam uma festa.

- Ela parece estar usando bem a sua casa. - comentou Ricardo distraído, remexendo-se levemente ao som da música.

Alice nada disse e, irritada, entrou pela porta da cozinha, que estava aberta.

Deparou-se com um rapaz bêbado, sentado à mesinha, e um casal trocando leves beijos ao lado da geladeira. Vários copos sujos, garrafas de vodka, cerveja e cachaça vazias na mesa e nas bancadas. Chocada, Alice foi passando pela cozinha e repara nos outros "estragos" feitos à sua antiga casa. O aquário estava verde, os peixes mortos. Um outro rapaz estava deitado no sofá, e uma poça de vômito amarelo ao seu lado, no chão. Alice fez cara de nojo, seguida de Ricardo, e chegou à sala de jantar, onde havia a porta de vidro (suja...) que dava pra área da piscina.
Ali, nas duas mesinhas, mais garrafas cheias e vazias. Um som, com um forró eletrônico, fazia o vidro da porta vibrar. Pessoas de roupas de banho, e uma garota fazendo topless, dançavam, bebiam e sorriam.

Ricardo abriu uma fresta da porta e cheirou o ar.

- Hum... sinto cheiro de drogas ilícitas... hehe.
- Ali a desgramada! - aponta Alice. Mayara está dançando entre dois rapazes negros e dá vários sorrisos. - Eu vou lá!
- Não, lelé! Assim não! - diz Ricardo, sorrindo. Ele apanha uma garrafa de vodka, bebe um gole e, sorrindo, se vira pra Alice. - Eu tenho um plano.

Após os cochicos, Alice escondeu-se atrás da encardida cortina com cara de nojo, e piscou para Ricardo, que passou a fingir embriaguez quando Mayara fez que iria entrar na casa. Ela atravessou o vidro, fazendo presente a alta música do lado de fora, e ao fechar a porta, Alice envolveu-a na cortina.

- Surpresa!
- Você, aqui?! - disse ela, louca.
- Cale a boca! - falou Alice com um poderoso sussurro. Ricardo saltou da escada e agarrou Mayara, levando-a junto de Alice para o lavabo, nos pés da escada. Após trancar-se com os outros dois ali, Alice acendeu a luz e sorriu para Mayara, que estava trêmula.

- Pronto, agora você não tem como fugir. Começa a falar, bonitinha!


- - -


Melina começou a se arrumar rapidamente, embora estivesse em casa. Pôs a calcinha, o sutiã, e estava lavando o rosto no banheiro quando viu a imagem de Caio no espelho, pairando sobre seu ombro.

- Vai sair, gostosa?
- Já disse que não quero que me chame assim. - responde Melina, ríspida.
- Ué, quando o jardineiro te chamava de gostosa você só ria e gemia... - fala Caio, sacana, com um sorriso no rosto, e abraça Melina por trás.
 - Tá, me solta! E veste alguma coisa...

Caio dá um sorriso, apanha a cueca, a calça e as veste. Melina passa um creme no rosto, quando a campainha toca.

- Droga! - Melina xinga, baixinho. Caio olha pra ela.
- Dá seu jeitinho, professora. - diz ele, com um sorriso safado.

Melina lança um olhar fuzilante no menino, pensa rápido e apanha o robe pendurado junto de uma jaqueta. Atravessa a sala trêmula e abre a porta do apartamento, deparando-se com ninguém menos que Laila.
- Ah, Laila!
- Oi tia! Tô atrapalhando?
- Ahn, não, claro que não! Eu só tenho...
- Opa, licença... - diz a voz de Caio, atrás delas, e ele cruza a sala, em direção a cozinha, apenas de calças. Laila pisca várias vezes e olha condescendente à tia.

- A senhora tem um gosto... muito bom. E bem novo, não é, tia?
- Ahn... Laila... eu...

Laila faz um gesto para silenciar a tia, e entra no apartamento, onde se tranca na varanda e começa a meditar. Melina, irritada, fecha a porta e corre para a cozinha, onde dá um tapa nas costas de Caio, que bebe água e se engasga,
- Seu imbecil! Quer me provocar, é? Essa daí é a minha sobrinha, e eu tô...
- Com o filme queimado pro lado dela? Não é problema meu.
- Você não vai atrapalhar a minha vida, você tá me ouvindo, seu moleque?

Ela apanha uma caixinha em cima da geladeira, de onde tira vinte reais, e entrega à Caio.

- Toma, pega um ônibus, um táxi, se vira! Sai da minha casa!

Caio apenas dá uma risadinha, mas corre até o quarto, apanha a camisa e a mochila e, mandando beijo para Melina, sai do apartamento. Melina bebe um copo d'água, respira fundo, e caminha até a varanda, dá umas batidinhas na porta e Laila abre os olhos. A garota abre a porta de vidro e a professora pode passar.

- Então, Laila... o quê foi?
- Eu tive uma conversa com o... Otávio.
- Otávio? Ah, sim... - diz Melina, distraída.
- Não se lembra dele?
- Porque deveria me lembrar, foi só uma transa? - responde Melina levemente ríspida, assustando Laila.
- Tia, não achava que você era dessas! Você, que sempre pregou o romantismo...
- É que certas coisas acontecem, Laila.

Laila faz silêncio, espantada por um momento.
- E esse carinha aí, que acabou de sair?
- Ele é... só outro carinha.
- Você não sente nada por eles?

Laila parece indignada. Melina, totalmente perturbada. Ela se levanta e abre a porta de vidro. Automaticamente Laila a segue, mas Melina a leva para a porta de entrada.

- Me deixa sozinha. Conversamos depois.


- - -
- - -

Nenhum comentário:

Postar um comentário