Capítulo 12 - Mudanças
Laila andava, agoniada, pelos corredores da universidade, e cabia à Tiago seguí-la e tentar entendê-la.
- Peraí, Laila...!
- Mas a minha tia, que eu sempre adorei e idolatrei, Tiago!
- Sim, que tem ela?
- Ai, eu não achava que ela era uma qualquer... que fica com qualquer um só pra se satisfazer... era minha ídola!
- Tá certo, Laila...
- E agora eu descubro que ela tá pegando uns menininhos por aí...
- Peraí, como assim menininhos?
Laila se vira de repente e Tiago quase tromba com ela.
- Lembra que eu falei que, quando eu cheguei lá, ela tava com outro carinha, bem novinho?
- Sim, e daí?
- Daí que ele me pareceu novo demais...
- Não... a sua tia não é disso, Laila...
- Quem me garante, Tiago?
Laila dá um risinho irônico completamente fora do seu normal e recomeça a andar. Tiago segue a namorada, irritado.
- Que droga, Laila, para um pouco, relaxa!
- Certo... relaxar... preciso ir, então... no shopping!
Ela mesma estranha ao falar isso.
- Shopping, você? - indaga Tiago, espantado. - Você que condena e o chama de "reino de futilidades?"
Laila olha condescendente para o namorado.
- As pessoas mudam, queridinho... e eu, pelo visto, tô mudando bem... anda.
- Anda, como?
- Anda, vamo comigo senão eu vou logo pegar um busão...
- Não, precisa não, eu vou com você.
Mas Laila parou de novo.
- Que foi, amor?
Um sorriso passou pelo rosto dela.
- Tive uma ideia, uma ideia ótima! E acho que até você vai gostar... quero ver se a minha tia é o que eu tô pensando... VEM, Tiago... que agora eu preciso passar também no salão de beleza...
Tiago estava cada vez mais espantado.
- Salão de beleza? VOCÊ?!
- Sim, eu, Laila! - ela deu uma risadinha. - Anda, rápido!
- - -
Wallace chega em casa, após não conseguir trabalhar direito. Matilde estranha quando ele pousa a pasta na mesa de jantar, na hora do almoço.
- Seu Wallace, o senhor em casa, essa hora?
- Ah... é, Matilde. Minha mulher...
Ele se cala. Matilde vira o olhar.
- Er... tem algo para comer?
- Bem, eu não fiz nada... o seu Ricardo que cozinhou, tá na varanda com o... amigo dele.
- Tá certo... - Wallace olha pra varanda e se volta novamente para Matilde. - Improvisa alguma coisa pra eu comer, sim?
Matilde apenas obedece, espantada com tanta polidez. Wallace, porém se dirige à varanda e se depara com Ricardo e Alexandre, na cadeira para duas pessoas. Ele pigarreira levemente e os dois se sobressaltam, porém Ricardo não perde a pose.
- Ah, olha... o meu pai! E em casa, na hora do almoço!
- Deixe de ironia... e esse, quem é?
- É o Alexandre, já esteve aqui, não se lembra? Ah, é claro que não... - emenda ele, antes que Wallace responda. - Você não repara em nada.
- Agradeceria se você pudesse conversar de bom tom comigo, filho.
Ricardo se espanta, e Alexandre se sente incomodado.
- Então tá, sr. Wallace. Senta aí. Me diz, o quê quer saber? O último prato que cozinhei?
- Não... na verdade me sentiria melhor se conversássemos à sós... você se importa?
Alexandre parece aliviado ao ouvir àquelas palavras, e Ricardo fica assustado com a educação momentânea do pai. O garoto sai, dizendo algo como "vou ao banheiro", e deixa pai e filho à sós.
- Então, sr. Perfeição... a quê devo o duvidoso prazer?
- Preciso de ajuda, filho...
- Ajuda, você? - Ricardo dá gargalhadas.
- Por favor, deixe o cinismo de lado, um pouco. Falo sério.
- Não acha que está um pouco tarde para pedir ajuda, não?
- Não... quer dizer, sim. E é culpa minha. - Wallace tira a gravata e parece extremamente preocupado.
Ao ver a expressão do pai, Ricardo finalmente se penaliza. Levanta, toma um gole da cerveja que estava bebendo com Alexandre, e ajoelha-se ao lado do pai.
- É o seguinte, pai...
- Sim.
- Acho que você percebeu que foi você que causou tudo isso.
- Pois é...
- Sabe o quê tem que sair?
- Não. - diz ele com sinceridade.
- Chame a mamãe pra sair. Jante com ela. Passeie com ela. Só isso.
- Só isso? - Wallace parece espantado.
- Isso pra vocês dois é muito. Vocês só estavam juntos na hora de dormir. - Ricardo tenta sorrir.
- Eu sou assim tão cego? - Wallace dá uma risadinha.
Ricardo dá umas palmadinhas no ombro do pai e se levanta.
- Pois é, queridinho. Agora se levante e vá se arrumar pra sair.
- - -
Melina estava tensa. O convite para jantar num badalado restaurante, feito por Márcia, deixou-a extremamente nervosa, mesmo tendo uma exaustiva tarde tórrida com Caio, que estava cada vez mais convencido. Ele estava de pé, vestindo-se no quarto com a porta aberta, quando o telefone tocou, e Melina foi atender.
- Sim, Márcia, pode falar... hum... pois é...é o Gianelli's tá bom pra mim...
- Gianelli's, né... - disse Caio baixinho, para si mesmo.
Ele tentou ouvir mais da conversa.
- Certo... não, não precisa vir me pegar... tá, tchau. - ela desligou o telefone, e respirou fundo, a cabeça erguida. Depois olhou para Caio, que estava saindo.
- Isso, pega descendo logo que eu tenho que sair...
- Não é assim que se fala, professora... - disse Caio com um sorriso no rosto. Em seguida, agarrou Melina e deu um longo e caloroso beijo, que ela tento fingir que não gostou.
-Sai. - disse ela, abrindo a porta.
Caio apenas riu e saiu. Ela fechou a porta e correu para o quarto.
Pouco depois, encontrou-se com a irmã na porta do restaurante.
- Oi.
- Oi, mana. - disse Márcia, beijando a face da irmã.
- Seremos só nós duas?
- Não... Laila disse que viria, ela me espantou um pouquinho.
- Como assim?
- Ela disse que iria ao salão de beleza, queria ficar parecia com você.
Melina boquiabriu-se, mas, assustada, tentou manter a pose.
- Ah, assim eu fico lisonjeada...
O sorriso dela não convenceu Márcia.
- Na verdade foi ela que marcou esse jantar. Disse que queria ficar mais tempo com você, Melina, pra aprender com você?
- Aprender comigo? E aprender o quê, artes?
- Ela disse "uma arte".
Melina dá uma risadinha.
- Profunda, hein?
- Ah, aí vem ela... meu deus!
- Que foi? - perguntou Melina, se virando. E seu queixo caiu.
Laila vinha andando, tentando se equilibrar num salto altíssimo. Um vestido vermelho curto e justo quase deixava à mostra seu bumbum, e o decote fazia todos os homens do local virarem pra ela, inclusive um garçom que derrubou a bandeja que segurava. Parou, fez pose na frente da tia e sacudiu o cabelo, sorrindo. Melina parecia chocada.
- É isso que você chama de parecer comigo?
- É quase. - diz Laila, sorrindo. Ela se senta e cruza as pernas, provocante. Chama um garçom e três vão em cima dela, disputando atende-la.
Após alguns bons drinks, Laila começa a soltar indiretas para Melina, que começa a se irritar. A professor pensa em ir embora, quando um rapaz se aproxima da mesa das três e a faz arregalar os olhos. Era Caio, que se aproxima, com um sorriso malicioso. Laila reconhece o rapaz mas fica calada.
- Oi, como vai... professora? Tudo bem?
Melina fica estarrecida, mas mantém a personagem fria e, lançando um olhar gélido, diz "tudo ótimo". Laila fica boquiaberta quando Caio (após lançar um olhar ao decote da ruiva) se afasta.
- Quer dizer... que é professora?
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