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sexta-feira, 3 de junho de 2011

8 ou 80

Capítulo 2 - Criando Laços em Comum






Um gemido, e cai uns talheres. Outro impulso e uma taça de vinho desaba sobre a mesa. Mais gemidos. Mais afagos. Mais impulsos. Beijos e carícias sobram. A mesa bambeia e os beijos, carícias e impulsos vão ficando mais intensos. Os dois fraquejam num instante e desabam sobre a mesa.

Otávio sai de cima de Melina, ofegante, e escorrega sem querer atá o chão. Ambos estão vestidos, mas dessarumados, já que Otávio está de camisa aberta e Melina está com uma saia, mas de sutiã. Ela apenas dá um sorriso e se levanta, olhando a mesa.

- Você nem esperou a gente acabar de jantar...
- É, eu tô me segurando desde a praia de ontem.
- Nossa... não sabia que as professoras eram assim.
- Pois é, nem todas. - Melina sorri, e tenta arrumar a mesa.

Otávio a ajuda e os dois ficam entre arrumando e comendo. Mas Melina o provoca, e após sentar no colo do rapaz, as carícias continuam e ela dá uma chave de perna em Otávio, que reage perguntando onde é o quarto. Melina diz pra ele levantar e procurar e, com ela no colo, entre carícias e beijos, entra pelo corredor em busca do quarto.
Pouco depois, após o "segundo round" e um banho, Melina, de roupão, vai se despedir dele, ainda aos beijos.

- E então, a gente se vê?
- Não sei... eu posso aparecer na praia de novo. 
- Posso te ligar?
- Sabe como é... é que eu não sou muito de compromisso, sabe?

Otávio dá uma risadinha, olha pro chão, mas vai saindo.
- Então não demora a aparecer, certo?
- Tá... - diz Melina sorrindo.
Assim que Otávio fecha a porta, Melina pega o celular e apaga o número dele.

- É... esse foi bom, mas se interessou demais.
- - -

Márcia chega, animada. Laila está meditando na sala quando a mãe bate a porta, e levanta a pálpebra vagarosamente.
- Hum, essas vibrações sonoras são do tipo de felicidade... o quê houve, mamãe?
- Consegui, filha! Consegui um emprego!
Laila, do nada, pula de felicidade e corre atá a mãe, abraçando-a. As duas pulam de alegra e desabam no chão, rindo.

- Ai, filha... estamos velhas pra essas reações, não acha?
- Não, mãe... o seu chacra interior nunca envelhece.

Márcia dá uma risadinha, e se ergue.
- E então, onde é o emprego?
- Na Wallace&Teixeira... eles são publicitários. Precisam de um advogado pra empresa, o advogado deles morreu não tem dois meses...
- Não morreu, mãe, trasncendeu pra outra vida.
- Certo... aí eu vou começar amanhã mesmo. Filha, preciso ir no shopping comprar um terninho, os meus estão todos velhos, pelo menos um eu...
- Mãe, você ficou de escolher as meninas pra fazer faxina aqui em casa.
- Ih, filha, foi mesmo, né?
- Mas vai, mãe, eu posso lhe fazer esse favor.
- Ah, filha, muito obrigada! Mesmo! Agora eu vou indo, vou só tomar uma água. Juízo na escolha, viu?
- Claro, mãe, desde quando eu sou cabeça de vento?

Márcia lança um olhar hesitante para a filha, que fecha os olhos para meditar novamente, e enche um copo d'água. Bebe, põe na pia, apanha a bolsa em cima da mesa de jantar e vai até o meio da sala, dar um beijo na testa de Laila. Em seguida, sai.
Laila fica só, mais uma vez, e medita sozinha no tapete. Ah, se o Tiago soubesse como é bom meditar, pensa ela; fica lá, metido em cálculos e coisas retas demais. As curvas do pensamento são a melhor coisa da vida.

Ela é interrompida por uma forta batida na porta, seguida por um som de um corpo se arrastando pela mesma. Laila corra para a porta e abre, revelando o namorado, Tiago, erguendo um buquê de flores, os óculos tortos no nariz.

- T-Tropecei ali no batente...
- Oh, que lindo, amor... você me trouxe rosas.
- Pra me desculpas com a discussão de ontem. - diz ele, cutucando o nariz e respirando fundo.
- Ô, que lindo, amor...

Ela apanha as rosas e vai deixá-las em um vaso, sem ajudar o namorado. Ele dá um gemidinho e ela se vira, estranhando.

- Ai, amor, esqueci que você tava aí caído! Deixa eu ajudar...

Ela vai levantando o namorado, que fica massageando o rosto. Laila volta e dá vários beijinhos no rosto de Tiago, que vai sorrindo devagar.

- Aaaah... tá melhorando.
- Tá, é? - diz Laila, com uma risadinha.
- Tá sim... vem cá...

Tiago agarra Laila, e eles entram num amasso. Só que esquecem de fechar a porta, e só param quando surpreendidos pela campainha, com Laila já suspensa no colo de Tiago. Se deparam com uma senhora de meia idade, acompanhada por uma moça alta e magra, com cara de patricinha. Ao lado da senhora, a moça parecia um manequim de grife.

- É essa casa de depravados que você quer que eu refaça minha vida, Cleide?
- Não complica, menina... - diz Cleide entre os dentes. - Er... olá! A gente veio pelo anúncio de emprego.
- Ahn... - faz Laila, desconcentrada. - Er, entrem!

Cleide faz Alice entrar, tropeçando também no batente, mas ela se segura na antiga empregada e não cai. Tiago se senta no extremo da sala, envergonhado. Laila senta no sofá, ao lado do namorado, e faz que Alice e Cleide se acomodem no sofá ao lado. Alice cruza as pernas chamando a atenção de Tiago e Laila aperta o pulso dele.

- Bem, tenho uma história bem complicada, moça. A menina, Alice, ela perdeu tudo, mas ela está disposta a recuperar a vida dela.
- Nossa, querida! Vou orar com meus chacras por você!
- Laila, para...
- Não começa, Tiago!
- Enfim, eu topo até ser faxineira agora, queridinha. - Diz Alice, com leve desdém. Cleide, à seu lado, olha feio para a modelo mas se recompõe.
- Ah, eu quero lhe ajudar minha querida! - fala Laila, inspirada.- Você pode começar amanhã mesmo! Só preciso confirmar com a minha mãe. De todo jeito, você me deixa seu telefone que eu te ligo hoje, mais tarde.
- Tá bom, né. Dá o telefone pra ela, Cleide. - diz Alice, autoritária.

Cleide anota o número no bloquinho de notas que Laila lhe entrega. Alice pega e se levanta.

- Vamo, Cleide.
- Menina, agradeça a moça.
- Ahn... - ela se vira, à contragosto. - Obrigada, queridinha.
- De nada. Os astros vão acompanhar vocês duas.
- Os astros, né? Beleza... - diz Alice, com desdém. Elas saem. Tiago se vira para a namorada, surpreso.

- Você quer mesmo contratar essa menina, Laia?
- Quero.
- Mas ela não parou de zombar da sua cara!
- Eu percebi que ela é uma pessoa boa, e que a vida puxou o tapete dela. Ela agora vai limpar o meu tapete pensando no dela, e vai se tornar uma pessoa digna.
-Aff.. você fala umas coisas que eu não entendo.
- Então... - ela se levanta. - venha se fazer de entendido no meu quarto...

Ela corre, rindo. Tiago dá uma risada maior e a acompanha.

- - -

Noite, já passam das dez horas. O apartamento está escuro. Vozes no hall dizem que alguém está chegando. Uma mulher sentada, à meia luz, numa chaisse, parece esperar a pessoa. A porta social se abre e revala um homem, falando no celular.

- Oi, Wallace.
- ... e lembra à Joyce que amanhã eu quero o relatório sobre as contas fechadas do mês passado, ela ainda tá me devendo essa.
- Como foi o trabalho?
- E diga ao pessoal do RH pra acertar logo os papéis da advogada nova que eu contratei, quero ela amanhã no tribunal comigo contra aquele desgraçado da PlasticCity...
- Já vi que foi muito bom...

 Wallace vai andando, deixa a pasta na mesa e continua falando.
- Certo, Edvaldo, muito obrigado, boa noite. - ele finalmente desliga o telefone, joga-o na mesa de jantar e afrouxa a gravata. Parece não ter notado a preseça da esposa. Sai dali para os quartos e deixa Fiona na sala, sozinha. Ela se levanta e vai até a mesa, e apanha o celular.


A porta para a cozinha é aberta e de lá sai Ricardo, filho dos dois. Segura uma pequena panela na mão e uma colher na outra, e sua expressão é entre o indiferente e o irritado.

- Ainda pegando o celular pro papai não achar que perdeu, mamãe?
- Não, filho... tenhos planos melhores pra isso.


Ricardo balança a cabeça.

- Vai dar um sumiço no celular? Mãe, ele tem três, nem vai notar.
- Deixa comigo.


Ricardo dá uma risadinha. Mergulha a colher na panela e dá para a mãe experimentar.


- Prova? Botei um pouquinho de mel... quero saber se ficou bom.
- Hum... tá bom, sim. Gostoso...
- Foi um aluno que deu a ideia de por o mel.
- Ah, é um aluno prodígio?


Ricardo acena com a cabeça e faz uma cara ligeiramente safada.


- E que aluno...


- - -



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