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segunda-feira, 6 de junho de 2011

8 ou 80


Capítulo 3- Mais Desenrolos





Márcia dormiu mal e acordou várias vezes naquela noite, uma delas motivada pelos barulhos das cantorias de Tatá e Siri. Ao ser acordada de 8 e dez pelo alarme recorrente, deu um pulo da cama e mal engoliu o café preto, pois deveria estar de 9 horas na Wallace & Teixeira. Ao adentrar o escritório e perguntar rapidamente onde ficava o RH da empresa, se dirigiu correndo pro outro lado do enorme hall de entrada. Ao abaixar a cabeça para mexer no celular, distraiu-se e esbarrou com um moreno alto, de camsia branca, derrubando as pastas que ele segurava.

- Ah, desculpe, moço. Hoje eu acordei com o pé esquerdo. - Disse Márcia, já se abaixando para apanhar as pastas.
- Não precisa! - Exclamou Otávio, que também se abaixara para apanhá-as.
- Já tá na mão. - falou ela, simpática. 

Márcia se ergueu e entregou as pastas que apanhou para Otávio, que erguera-se em seguida. Márcia olhou-o discretamente e não pode segurar um sorriso.

- Nova aqui?
- É... Apenas aqui.

Ele sorri. 

- Você poderia me dizer onde fica o RH, eu tô um pouco perdida hoje...
- Claro... é por aqui mesmo.

Ele indica o corredor à frente e eles caminham juntos. Otávio não deixa de reparar na beleza de Márcia.

- À propósito, meu nome é Otávio... Otávio Nunes.
- Prazer, Márcia Fernandes.
- O prazer é meu, Márcia. Já te disseram que você tem belos olhos?
- Ah... - ela dá uma risadinha. - Apenas uma vez...

Ele sorri, parecendo ligeiramente tímido. Os dois caminham juntos.

- Você trabalha aqui faz tempo?
- Não, eu estou apenas estagiando aqui... eu faço design, e tô colaborando um pouco.
- Design? Acho muito legal.
- Você não tem cara de ser da área.
- Não sou mesmo, sou advogada. Fui contratada ontem.
- Legal... o RH fica aqui. Tá entregue.

Ele indica um corredor lateral, e sorri.

- A gente se vê, Márcia?
- É, com sorte. Até mais!
- Tchau. Boa sorte no seu primeiro dia!
- Obrigada. - responde ela com um sorriso tímido.

- - -

Ricardo desce do seu carro, na frente do curso de gastronomia e atrai olhares de duas moças que passam. Ele abre a porta de trás para pegar o recipiente com o molho que ele testou, e se depara com uma das moças ao lado dele. A outra aguarda apreensiva, ao longe.

- Você estuda aqui, é?
- Não, eu sou professor.
- Ah, que ótimo. E tinha como eu entrar em uma turma sua?

Ricardo olha pra ela com desdém.

- Minha turma tá cheia.
- Ah, tá... até mais. - diz a garota, indo de encontro à sua amiga. Balançando a cabeça, Ricardo entra no prédio. Abre a porta, atrapalhado e quase derrama o molho. Um garoto se levanta de um pulo e segura o recipiente antes que ele caia, dando uma risada.

- Segura o tchan, professor! - exclamou Alexandre; algumas pessoas na recepção riram.
- Tá seguro...
- E aí, tá atrasado...
- Calma, só chegou você da turma.
- Eu tô ansioso, professor. A Martinha gostou tanto do fetucinne que você me ensinou a fazer, professor! Valeu, hein?

Ricardo se limita à dar um sorriso amarelo.

- E então, vamo lá?
- Ah, espera um minutinho, preciso dar uma geral na minha cozinha.
- Certo... tô aqui esperando. - disse Alexandre com um sorriso.

Ricardo vai saindo, mas tem uma ideia melhor.

- Aliás, você poderia me ajudar.
- Claro, manda!
- Então vem, que a gente tem trabalho pela frente.

Os dois, juntos, conseguem dar um trato na cozinha. Parecem velhos conhecidos; cozinham juntos, para a felicidade de Ricardo, que inventa qualquer desculpa para ficar ao lado de Alexandre, que não parece notar nada. Numa hora, Ricardo apanha as mãos de Alexandre para lhe ensinar a picar legumes direito.

- Isso, assim. - diz o professor com um tanto de meiguice.
- Beleza...
- Você tem mãos ótimas, Alexandre.
- Como assim, professor?
- Para... cozinhar, claro.

Ricardo dá um sorriso. Alexandre sorri e volta a picar os legumes. "Será que eu consigo?", pensa Ricardo, tentando distrair-se.

Meia hora depois, com uma bela salada e um frango prontos, Ricardo convida Alexandre para almoçar com ele.

- Não sei se posso, professor...
- Pode, claro. E me chama de Ricardo, me chamando de professor eu me sinto um velho.

Alexandre dá uma risada, e se senta na bancada ao lado do fogão. Ricardo serve um prato para ele e abre um vinho branco. Os dois comem em momentâneo silêncio.

- Muito gostoso seu molho, Alexandre.
- Que é isso, professor, foi só uma sugestão.
- Já disse, me chama de Ricardo.
- Tá, Ricardo! O molho é seu, eu apenas quis botar o mel...
- Deixe de modéstia, você é talentoso...
- A Martinha ainda acha que eu perco tempo...

Ricardo se vira, por um instante, atento à reclamação de Alexandre. O garoto não parece estar muito feliz.

- Como assim? Um homem que cozinha deve deixar as mulheres doidas.
- Eu achei que ela iria gostar, mas ela hoje quis ir pra praia e eu disse que viria pra aula, aí ela se zangou. Disse que eu tô passando mais tempo no curso do que com ela... eu pensei em faltar e ir pra praia...
- Que bom que você não foi, minha aula ficaria vazia.

Alexandre dá uma risada, mas volta a sua expressão contida.

- O quê você acha que eu devia fazer, pro... Ricardo?
- Bem... acho que você devia fazer o quê acha melhor pra você.

Alexandre fica pensativo, e Ricardo cria coragem e põe a mão no ombro do aluno, que não se esquiva.

- Relaxe, isso é uma coisa que... passa.
- Tá certo. Tá na minha hora... precisa de ajuda pra...?
- Não, eu limpo tudo, obrigado. - diz Ricardo, saltando do banco alto para o chão.
- Certo... eu vou indo então. Até mais, Ricardo!
- Tchau... - diz o cozinheiro, com um olhar lascivo para o aluno.

- - -

Melina empurra a porta do banheiro, e um flash do bar lotado enche o aposento. Uma bonita mulher, branca e ruiva, enche os olhos da professora e ela tenta entrar no mesmo cubículo que a moça.

- Tá ocupado, querida.

Ela tenta fecha a porta, mas Melina segura-a firmemente e abre a porta.

- Mas porque a gente não pode entrar juntas? - diz a morena, empurrando a ruiva para a parede e trancando o cubículo. A ruiva estranha, mas Melina agarra as partes íntimas da mulher e ela fecha os olhos.

- Tá tranquila agora, moça?
- Ai... não.
- Então vamos te deixar tranquila...

Pouco depois, Melina sai do banheiro, sorridente, ajeitando a meia-calça discretamente. Ruma até a mesa que divide com a sobrinha, Laila, que está cantarolando de olhos fechados.

- Demorei, querida?
- Nem sei, tia, tava aqui, meditando...
- Ah, percebi.
- Então, tia... como eu tava te dizendo... não sou de conversar essas coisas com a mãe, e ela tá animada demais com o trabalho pra me ouvir.
- Certo.
- Mas eu não acho que o meu namoro com o Tiago esteja no caminho certo.
- Mas vocês não se dão tão bem?
- Nunca, tia. Talvez só... na cama, aí não posso negar que os nossos chacras se encontram.

Melina dá um sorriso.

- Mas, fora isso, a gente só faz discutir! Já joguei tarô pra mim mesma várias vezes, já pedi aos astros, mas nada! A gente só faz discutir! Até pra planejar uma viagem é complicado.
- Como assim?
- Eu adoraria ir pra um camping com ele, mas ele sempre se ira quando eu digo isso! 
- Mas, Laila, você já pensou que isso pode não ser a praia dele?
- Ele se pudesse morreria só pra encontrar com Einstein..
- Laila, racional, por favor. - disse Melina, séria. Laila parou de reclamar, assustada, e se virou para a tia.

Melina ajeitou-se melhor na cadeira antes de falar. Antes, fitou um grupo de amigos na mesa atrás de Laila, em particular um loiro.

- Ahn... queridinha, eu acho que você tinha que pegar mais leve. Você sabe, nunca fui de me relacionar, mas eu acho que num relacionamento precisa existir harmonia.
- Mas eu estou em harmonia!
- Está em harmonia com ele?

Laila fica pensativa e encara a tia, que olhava para o loirinho atrás de Laila.

- Talvez... fosse melhor você deixar a sua harmonia de lado... não! - diz ela quando Laila tenta se manifestar. - Assim... seria bom você tentar ouvir seu namorado. Sei lá, conversar com ele do que ele gosta.
- Física, tia?
- Física não é o fim do mundo. - diz Melina sorrindo. O rapaz loiro que ela estava encarando se levanta e faz sinal pra que ela o siga, e ela continua. - Fica aí pensando, meditando, que eu vou ali... falar com um conhecido. Já volto.
- Ok, tia... - diz Laila, bebendo seu drink de um gole e fechando os olhos.
Melina se encontra com o loirinho e sorri.

- Boa noite. - diz ele.
- Boa... e tá começando agora. - responde Melina, com um sorriso.

- - -

 

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