(continuação último capítulo)
Pela gritaria geral, dava pra deduzir que Breno subiu ao topo do bloco D. Do telhado, ele olhava o horizonte. Segurava a arma vacilante, e tinha várias lágrimas rolando pelo rosto. Uma multidão se formou embaixo do bloco D, as pessoas gritando em sua maioria "Louco!", "Assassino!", e por aí vai. Uns pirralhos gritavam "Se joga! Se joga!", e foram repreendidos pelos pais.
As mães de Aleff e a de Edward se destacavam na multidão, e esbravejavam contra o líder da Gangue.
Mãe de Aleff- Assassino! Agora é um condenado! Você vai pagar por ter espancado o meu filho!
Breno- Vai te catar, desgraçada! Eu não matei não! Matei não! Matei não!
Ele dá um tiro sem olhar pra multidão, que grita e corre. A bala não acerta ninguém, e sim o vidro de um carro parado embaixo do bloco D.
Enquanto isso, uma ambulância chega e leva o homem atingido por Breno, que respira aliviado.
Breno (gritando pra multidão)- Tá vendo? AHAHAHAHAHAHAAHAHA! Eu não matei ningué-ém!
Mãe de Edward (baixo)- Ele está completamente louco!
Síndica- Ele sempre foi, só agora botou as garrinhas de fora.
Na porta do bloco D...
Jéssica se reúne com Clã e Gangue embaixo do bloco D.
Jéssica- A gente precisa ir lá! E impedir esse doido!
Wagner- Não inventa! Se voce subir lá leva um tiro no meio da testa!
Peruh (revoltado)- Eu sabia que ia acontecer alguma coisa, Pedro Henrique!
Pedro Henrique ignora o irmão.
Duílio- Jéssica, você fica! Peruh, vem comigo!
Peruh- Eu quero distância desse exu!
Pedro H- Eu vou contigo, Duílio.
Aleff- Eu vou junto!
Duílio- Fica aqui! Você é outro que levaria um tiro na testa!
Aleff- Eu não tenho medo dele, vocês não deviam ter. Vamos, agora.
Ele empurra os outros dois em direção à escada.
(intervalo)
Breno continua no topo do bloco D. Pensa em alguma maneira de escapar, quando escuta um ruído atrás dele. Se vira e vê a janela sendo aberta. O primeiro que sai dela é Duílio, que grita "BRENO!", mas o psicopata vira a arma e atira.
Breno- Sai daqui!
Duílio escorrega, mas ainda assim a bala o atinge de raspão na orelha e, mesmo sendo um pequeno ferimento, começa a sangrar profusamente. Ele cai para dentro da janela de acesso e Pedro Henrique o ampara.
Aleff (decidido)- Eu vou falar com ele.
Pedro H- NÃO! Você vai levar um tiro!
Aleff- Não, ele não vai atirar em mim. Ele já pensa que fez duas vítimas que não queria fazer...
E, dizendo isso, dá um salto e sai para o telhado. Anda até Breno em silêncio, fazendo um gesto de rendição quando o garoto aponta a arma pra ele.
Aleff- Abaixa essa arma. Você não precisa de outra vítima.
Breno (confuso)- Não... eu, não...
Breno então, levemente, abaixa a arma, mas não a solta. Pisa numa telha quebrada, fazendo ela se estilhaçar levemente, mas se vira e olha Aleff.
Breno- O quê você quer comigo? Eu quero... quero sair daqui! Não quero mais isso! Eu não mereço isso...
Aleff- Eu sei cara, você não merece... você não fez por mal... foi por impulso, não foi?
Breno assente, assustado, e Aleff continua.
Aleff- Eu entendo você, cara... você só quer um pouco de atenção, de carinho, de gente que goste de você como é... tô certo?
Breno (ofegando)- Sim... sim, tá. Tá certo, tá certo sim... eu, eu não quero matar ninguém... foi, foi errado.
Aleff (se adiantando)- Eu sei, cara... eu tô aqui... porque eu quero o seu bem.
Breno- É?
Aleff- É sim... (jogando verde) Eu quero te ajudar... eu gosto de você, você é um cara legal...
Breno- Gosta?
Aleff- Sim... é um cara muito gente fina. Gente boa, só tem um mal passado, mas você pode contar comigo.
Ele abre os braços, como se quisesse abraçar Breno, que estranha. A multidão lá embaixo silencia quando Aleff pisa na telha estilhaçada, mas nada acontece e Breno avança e o abraça, completamente desamparado.
Lágrimas rolam no rosto do líder da Gangue, que chora sem medo ou vergonha, destruído. A multidão assiste tudo sem piscar.
Aleff- Eu vou ajudar você.
(intervalo)
Breno fecha os olhos e chora, parecendo "entregue" ao jogo de Aleff. Este fica nervoso, mas tenta uma solução.
Aleff- Eu vou ajudar você, cara.
Breno faz que sim várias vezes com a cabeça.
Aleff- Você vai se dar bem.
Breno continua assentindo.
Aleff- Eu mesmo vou te ajudar, você não vai se meter em furada... nem em Febem...
Breno faz que não, com olhos aterrorizados.
Aleff- Pois é, eu te ajudo... eu vou te levar ao médico e...
Breno de repente volta a si e levanta a cabeça numa expressão macabra.
Breno (largando Aleff)- Médico?
Aleff- Sim, sim, médico...
Breno- Você tá me chamando de doido?
Aleff (rápido)- Não! Doido não! Só tem alguns problemas que...
Breno VIU! Tá me chamando de doido!
Breno começa a sacolejar a arma na mão e a circundar Aleff, que se aproxima da beirada. Ele fica apreensivo.
Breno- Você não vai me ajudar porra nenhuma, vai me mandar prum maldito manicômio!
Aleff- NÃO! Você vai...
Breno- Não invente mais nada, seu marginal nº 2! Você é o mais mala desse prédio!
Breno pisa na telha quebrada junto de Aleff, que olha de relance para trás e se vira antes que Breno grite:
"E VOCÊ NÃO VAI ME MANDAR PRUM MANICÔMIO!"
Ao falar isso, Breno pressiona a telha com muita força, fazendo-a despedaçar e afundar. Aleff dá um suspiro por um único segundo quando escorrega para trás, além da beirada, e seu corpo desliza para além do alcance de Breno, que grita "NÃO!" ao mesmo tempo da mãe de Aleff, que está quase que diretamente abaixo do filho. Ouve-se um ruído seco quando o menino bate no chão do bloco D. Um último suspiro, e seu olhar fixo denuncia seu estado.
Breno entra em desespero. Os gritos começam lá embaixo e ele fica sacudindo a cabeça.
Breno- Não! Não! Eu não o matei! EU NÃO O MATEI!
Ele passa as mãos pelo corpo, e toca no chaveiro com a chave do carro, preso ao cinto.
Breno (rindo)- É! A chave! Eu vou escapar! EU VOU ESCAPAR! Sai do meio!
Ele corre em direção à janelinha, onde Pedro Henrique continua a estancar o sangue de Duílio; eles não viram Aleff caindo e se assustam quando veem apenas Breno. Este apenas os empurra, descendo com toda velocidade pelo alçapão e correndo pela escada. Arma em punho, aparece pela porta de vidro, apontando para todos em sua frente.
Anda devagar, as feições histéricas. Ele não reparara, mas a ambulância do Juliano Moreira acabara de chegar e Jéssica tinha instruído os enfermeiros dizendo que Breno estava armado.
Breno olha para todos, silenciosamente. A multidão apenas o encara, alheia ao lamento da mãe de Aleff. Breno de repente, encara Jéssica. Ela sorri, e Breno não entende a tal felicidade...
De repente, dois enfermeiros, um de cada lado de Breno, agarram o menino e tentam forçar a todo custo a entrada dele na ambulância. Breno reluta com todas as forças, e dispara ainda quatro vezes, acertando a mãe de Edward com o último, mas a bala pega apenas no braço. Sem munição, Breno limita-se a lançar o revólver contra Jéssica, que põe uma mão para proteger-se.
Depois, com certa violência, Breno é jogado com toda força para dentro da ambulância. Ele ainda tenta sair, mas grita "VOCÊ ME PAGA!" para Jéssica, e as portas são fechadas. Pouco depois, a ambulância arranca com toda velocidade, e as pessoas veem Breno socar com toda a força as portas, mas agora o tempo é de paz nos Sombreiros.
Ou quase.
FIM ... da parte 1
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