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quarta-feira, 29 de junho de 2011

8 ou 80

Capítulo 9 - Discussões e Descobertas





Ricardo estava com sua última classe, preparando sobremesas, quando algumas batidas na porta interrompeu sua concentração em decorar um petit gateau. Alguns alunos o olharam, e ele foi para a porta, onde encontrou Alexandre, parecendo levemente apreensivo.
Ricardo ficou ligeiramente surpreso.

- Oi, Ale... que houve?
- A gente... precisa mesmo conversar com todo mundo ouvindo?

Ricardo olha em volta e vê que toda a classe presta atenção.
- Tudo bem... espera até o fim da aula, certo, já estamos acabando...

Alexandre concorda, entra na sala e se senta num dos bancos altos junto ao balcão, ao lado do fogão e de Ricardo, que sorri para ele de vez em quando. Todos os alunos na sala conseguem notar o clima entre os dois e parecem sorrir entre si.
Pouco menos de quinze minutos, bancadas limpas, despedidas, o último aluno sai da sala e Ricardo fecha a porta. Sorri, se vira para Alexandre e tenta beijá-lo, mas o rapaz vira o rosto.

- Que foi?
Alexandre parece desgostoso.

- Não... vem com pressa assim, tá certo?
- Tudo bem, como você quiser...
- E outra, não fica dando esses sorrisinhos na frente de todo mundo... eu ainda não estou acostumado com isso...

Ricardo dá uma risadinha e chega junto de Alexandre.

- Tudo bem. Como você quiser. Já disse que não faço nada que você não queria.
- Er... tem mais uma coisa.

Ele parece bem mais triste e apreensivo nessa hora.

- Fala, cara, o quê foi?
- Eu... eu fui expulso de casa.

Alexandre cai aos prantos do nada. Ricardo tenta ampará-lo e o abraça.

- Eu...eu achei melhor contar o quê aconteceu com a gente e... e meu pai e minha mãe não gostaram nada! Eles não me entenderam, achavam que eu ainda tava com a Martinha... aí meu pai disse que não me queria mais em casa enquanto eu fosse um "desses"!

Alexandre cai novamente no choro e Ricardo olha em volta, revirando os olhos ligeiramente. Mas suspira e abraça o outro.

- Não fique assim, eu... eu vou ajudar você.
- Vai?

Ricardo parece até pensar duas vezes.

- Vou. Vou sim. Você vem comigo pra casa hoje e amanhã... eu penso no que a gente faz.
- Tá falando sério?
- Tô, sério... - ele dá um sorrisinho. - Posso ter muitos defeitos, mas eu não conseguiria deixar alguém na mão.

Alexandre sorri para Ricardo e, após hesitar uns segundos, o abraça. Ao seu ombro, Ricardo tem uma feição indiferente, e pensa "onde eu fui me meter?".


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Márcia estava acabando de fechar sua maleta, cansada e estressada, quando duas batidinhas tímidas na porta a alarmaram, e ela virou a cabeça. Otávio entrou na sala e fechou a porta.
- Eu lhe dei permissão para se trancar comigo?
- Eu quero conversar com você e me explicar, e daqui não saio até você ouvir.

Márcia faz uma feição incrédula, mas dá uma risadinha.

- Como você é atrevido, garoto...
- Eu vou falar, você devia ficar calada.

Márcia olha espantada com a grosseria do moreno. Ele passa a mão na cabeça e faz um gesto para a advogada sentar.

- Primeiro eu preciso logo soltar os fatos.
- Estou ouvindo, já que fui obrigada.
- Em primeiro lugar, eu não tive um caso com a sua irmã.
Márcia assente, com uma cara descrente.

- Tá certo.
- Eu não tenho pra quê mentir para você, estou dizendo a completa verdade.
- Tá.
- Segundo, nós só... transamos uma vez, e eu admito que transamos.

Márcia dá outra risadinha.

- Ótimo, admite que é um cara de pau.
- Assim não dá, você tá se portando como uma pirralha!
- Me desculpe?

Márcia se levanta, indignada.

- Você quer que eu seja educada e prestativa depois de um dia estressante de trabalho? Você quer que eu escute você, um cafajeste, após me trancar na minha própria sala do trabalho?
- Você deveria crescer! Eu não fiz nada demais, apenas fiz sexo uma vez com uma mulher antes de te conhecer!
- Esse mulher foi a minha irmã!
- E daí?

Márcia ri, descontrolada.

- Como assim "e daí"?
- Não importa se eu transei com ela antes! O quê importa é que eu tô apaixonado por você, e só você tá impedindo que a gente fique junto!
- Pra você a coisa é simples demais... mas é a minha irmã! Eu não admito isso e...
Otávio não deixa ela falar mais, e a agarra, beijando-a com voracidade. Os dois se entregam ao momento, mas Márcia se contém e empurra Otávio longe. O rapaz põe um rápido sorriso no rosto, mas logo se recompõe.

- Abre essa porta... e ponha-se daqui pra fora. ANDA! De preferência, pra fora da minha vida!

Otávio vai buscar sua pasta, na cadeira do birô de Márcia, e sussura para a advogada.

- Não tão rápido.

Ele se afasta, abre e fecha a porta, ao sair. Márcia corre então para sua bolsa, apanha o celular e liga para filha.

- Alô, Laila? Filha, vá pra casa, estou saindo do trabalho e preciso de desabafar! Ande!


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A noite cai no colégio. A última classe de judô está acabando e Caio derruba Nestor com um golpe.

- Tá ferrado hoje, espinhento!
- Vai sonhando, Caio!

Os dois continuam à prática. Entretanto, quando está em uma posição vantajosa, Caio observa uma cena estranha.

Pelos combogós das paredes do tatame, Caio observa uma figura alta, cabelos pretos, pele branca. Ela anda em direção ao jardim.

- A professora...?

Nesse instante Nestor vira o jogo e Caio dá um pequeno gemido de dor ao ser imobilizado por Nestor.

- Perdeu, playboy!
- Aaai, espera aí!
- Espero nada! Perdeu!

Caio continua a olhar os combogós; Melina acena para Evaldo, o jardineiro e corre discretamente para o depósito.

- Perdeu, playboy, desiste!
- Tá, desisto!
- Ahá!
Nestor o larga, no tatame, e Caio massageia as costas, ainda tentando vislumbrar algo além dos combogós: Melina havia chegado no depósito e fechado a porta do mesmo.

O professor de judô ajuda Caio a se levantar e ele agredece.
- Bom treio hoje, Caio, mas está um pouco distraído. Vê se melhora isso pra quinta, certo? Pro chuveiro!

Caio faz que sim, e corre para o chuveiro, pra ir atrás de sua querida professora. Nestor e os outros colegas estranham a rapidez dele.

- Tá querendo bater algum recorde?
- Tô afim de descobrir uma coisa...

E, dizendo isso, sai do vestiário vestido enquanto os outros ainda estão de toalhas.

Contorna silenciosamente as salas de judô e balé do colégio, onde um piano anuncia que estão em aula ainda. Passa pelos jardins rápido como uma raposa, sem tentar fazer barulho e pula a cerca de acesso restrito aos funcionários.

Ali, vê a luz acesa do depósito e aproxima-se devagar. Escuta um gemido alto e uns sussurros. Intrigado, resolve empilhar uns caixotes ao lado da parede para tentar espiar, mas a visão que teve deixou-o de boca aberta.

Deitada sobre uma mesa de materiais, com o sutiã, mas já sem blusa e sem calças, estava Melina, com um rosto cheio de êxtase e prazer. Empurrava com as mãos a cabeça de Evaldo para baixo, pro meio de suas pernas, e o jardineiro, completamente despido, não parava de acariciar todo o corpo da professora.

Um arrepio percorreu toda a espinha de Caio, naquele minuto, e, completamente excitado, de tão aturdido paralisou-se e não sabia o quê fazer.

O jardineiro se ergueu e, em pouco tempo, uniu-se em orgasmo com Melina, e ambos desmontaram em cima da mesa. Satisfeito, Caio resolveu ir para casa e guardar para si esse segredo que acabara de descobrir. Mas, ao saltar para o chão, fez que um dos caixotes rolasse consigo, assustando Evaldo, que gritou:

- Quem é que tá aí fora?

Caio, assustado, resolveu pular o muro do colégio, correndo para uma parada de ônibus isolada ali atrás do colégio. Por sorte, o ônibus passou assim que ele chegou, e, ao subir no mesmo com um sorriso no rosto, pensou para si mesmo:

- Agora essa professora gostosa tá na minha mão.

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