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sexta-feira, 4 de março de 2011

Chuva de Vento, capítulo 2








2

- Maceió, moço?
- É sim...
- A gente precisa muito de uma carona, será que...
- Ah, sem problemas! Entre aí!

Entraram as três no carro do desconhecido, um belo jipe preto, reparou Judite. Aliás, um belo desconhecido, Amélia, excitada; Fátima, apreensiva. O condutor era alto, magro, branco e de cabelos negros, olhos, idem. Usava roupas simples, mas visivelmente de bom gosto e de marca. Jovem, de sorriso fácil e cativante. Seu nome era Marcelo. Bem humorado e sorridente, estava ouvindo música quando entraram, que Judite identificou como ABBA. Conversaram sobre música durante todo o trajeto. Pareciam velhos amigos. Trocaram telefones, e Amélia divulgou seu Twitter, Msn, orkut, tudo. Marcelo as deixou na porta da casa de D. Luíza, mãe de Judith, e prometeram se encontrar no dia seguinte. Judite saiu, descarregou o carro e se virou para a mãe, que ali as esperava, desde a ligação de Judite, mais cedo.

- Vem cá, mamãe! - Judite puxou-a, alegre, para um abraço. D. Luíza, como sempre, apenas sorriu e deixou se levar. Fátima passou longe, carregando sua mochila, e arrastando Amélia consigo. D. Luíza era uma mulher severa, de rosto eternamente fechado, e usava óculos de grau, cor pérola, sua cor favorita. Possuía uma beleza sombria, conservada para a idade. Nunca manteve um bom relacionamento com a filha mais nova, acentuado com o divórcio dela. Rigorosamente católica, D. Luíza sempre dizia que a filha "perdeu seu lugar ao céu".

- Não sei porque insiste em trazer essa empregada...
- A Fátima é sozinha no mundo, mãe, e já é parte da família.
- Não da minha.
- Nossa, mamãe...
- E eu, se fosse você, teria uma conversa séria com a sua filha...
- E porque?
- Esse jeito dela já está ficando ridículo!
- Mamãe, eu não posso impedir a Amélia de ouvir a música que ela gosta!
- Mas precisa dessa roupa de bicho grilo? E esse tal de rastafári? Que mais parece uma tripa pendurada pela cabeça...

Judite deu um muxoxo de impaciência e saiu em direção à varanda, levemente irritada. Já não era de hoje que a mãe implicava na sua vida. Até aí tudo bem, ela nem ligava, mas agora ia querer controlar a vida dos filhos dela?

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