Pra você que não tem preguiça de ler =)

terça-feira, 15 de março de 2011

(continuação, capítulo 9)



Um dia se passa.
No dia seguinte, sábado, todos descem. Clã de um lado, Gangue do outro. Aleff estranha que seus colegas do dia anterior estão separados. Vai até os dois grupos. Primeiro ao Clã. Todos se levantam ao velo.

Jéssica (se adiantando)- Gente, esse é o Aleff. Ele é novato, chegou no prédio ontem...
Alysson (estendendo a mão)- E aí, beleza?

Aleff- Beleza!
Wagner- Senta aqui, a gente fez uma vaquinha pra comprar lanche.

Edward (baixo)- Porra nenhuma, ele não pagou!
Alysson- Deixa de ser mão de vaca, Mago!

Aleff- Não precisa, eu já comi.
Jéssica (estendendo-lhe um copo)- Toma uma coca!

Ele aceita, com um sorriso. 
Aleff- Ei, eu vou dar uma caminhada pra conhecer o condomínio, beleza?

Jéssica- Beleza, qualquer coisa você volta que a gente tá aqui.
Ele sai caminhando em direção ao bloco I, encontrando Duílio, Peruh e Pedro Henrique. Ambos sorriem ao se ver.

Pedro H- Oi, tudo bom?

Aleff- Tudo, tudo. Cês tão indo pra onde?


Pedro H- Pra sede.


Aleff- "Sede"?


Peruh (sem paciência)- Da Gangue, idiota.


Duílio anda, indiferente à discussão, e Pedro Henrique faz cara feia pro irmão.


Aleff- E aqui tem esses grupinhos, né?


Pedro H- É complicado.


Aleff- Porque é complicado?


Ele para, de repente. Os outros dois seguem o caminho. Pedro Henrique indica o banco da frente do bloco H e se sente, seguido por Aleff.


Pedro H- É uma história longa, complicada, e você pode não entender direito.


Aleff- Eu entendo. Me fala.


Pedro H- Não, não entende. Você precisa entender, primeiro, que isso aqui é uma zona de guerra, praticamente. A coisa aqui não é normal.


Aleff (rindo)- Zona de guerra? Porque a Jéssica e o tal do ...Breno, né? Porque eles não se entendem? Eles tentaram matar um ao outro, é isso que você tá falando? Eles têm 14 anos.


Pedro H- É isso que eu estou falando. Você não pode ficar amiguinho dos dois por aqui. Você tem que escolher um só. Senão, pode levar porrada.


Aleff se espanta, e Pedro Henrique se prepara para contar a história.


(intervalo)


Pedro Henrique começa a narrar a história.


" Quando a gente era pequeno, quer dizer... mais jovem, acho que uns 7 ou 8 anos, eramos todos amigos. Breno e Jéssica eram  super amigos..."


Aleff (cortando)- E tentam se matar agora?


Pedro H- Pois é... (voltando a narrar) - Eles fundaram um clubinho, desses de criança. Breno e Jéssica eram os líderes. Ninguém tinha objeção nenhuma contra eles.


"Aí chegou no prédio um garoto, tinha uns 15, 16 anos, Kelvin... ele tentou ser amigo de todo mundo, dos mais velhos e nós, os mais novos na época. Nunca deu certo."


Aleff- Você era amigo dele?


Pedro H- Hum... mais ou menos... a gente conversava às vezes, mas ele dava medo.


Aleff- Medo?


Pedro Henrique não respondeu, e continuou narrando:


"Breno tinha feito tudo de mais bacana pra nós, na época, pro nosso clubinho, sabe, esses lances de enfeitar. Confesso que ele enfeitou legal, até os adultos vieram ver, todos nós sempre falamos que ele ia ser arquiteto, coisa assim. Ele sempre se vangloriou demais. Já o Kelvin... sempre teve inveja do Breno, o que todo mundo achou demais, ele com seus 15 anos e pouco, com inveja de um garoto de 8?"


"Aconteceu que o Kelvin ia embora do prédio, a família dele tava só de passagem. Ele estava decidido a acabar com a felicidade da galera. Ele sempre foi mais aburguesado, como podemos dizer. Pegou sua mesada e deu pro irmão da Jéssica, falando assim 'Junta os seus amigos e quebra aquele clubinho da tua irmã'. Os meninos sempre foram encrenqueiros, e fizeram sem nem pedir duas vezes. Quebraram tudo, o Kelvin até deu mais dinheiro depois."


Aleff- E o quê isso tem a ver com o Breno?


"O Breno ficou desesperado. Louco. Ficou realmente puto. Subiu, foi em casa, pegou um facão e desceu. Todo mundo ficou assustado. O Kelvin já tinha ido embora na mudança, ninguém culpou ele, ninguém podia bater nele, nem nada. Erick, o irmão de Jéssica, se assustou com Breno e disse que foi Jéssica que mandou." E lá foi o Breno atrás de Jéssica, pra comprovar..."


Aleff (espantado)- Ele desceu com uma FACA?


Pedro Henrique assentiu. O outro balançou a cabeça várias vezes.


Pedro H- Você não viu o olhar dele. Ele parecia louco...


Aleff- Continua, e depois, o quê aconteceu?


"Jéssica se defendeu até a morte. Breno e Jéssica nunca mentiam pra si mesmos. Mas o Breno, ali, com a faca, doido, achou que era mentira. Ela pegou um cabo de vassoura abandonado e tentou se proteger como pode. Edward veio dizer depois que ouviu Kelvin conversando e dando dinheiro pra Erick, mas o Breno meteu a faca nele..."


Aleff (gritando)- COMO FOI!?


"Sério, sério, mas não pegou certeiro, graças a deus. Aí Jéssica se emputeceu, defendeu Edward, disse que ele queria ajudar, e quase levou uma facada também."


"Aí a mãe de Breno desceu, levou Breno pra casa, ele passou uma semana na casa da avó, pra tentar acalmá-lo. Não deu certo. Ele fez a cabeça da mãe e voltou mais vingativo do que nunca. Nesse ínterim, nós, os amigos, escolhemos nossos lados, por assim dizendo, defendendo um ou outro."


Aleff- Você escolheu o lado certo?


Pedro Henrique enrijece e fica pensativo por um tempo.


Pedro H- Hoje eu penso que fiquei do lado de Breno por proteção. Sabia que contra ele seria pior. No fim, a gente ficou mais amigo, quase melhores amigos, se posso falar assim. 


Aleff está ainda espantado.


Pedro H-  Mas conviver com o Breno é fácil...


"Quem tá falando de mim aí?"


Breno chega, por trás do banco.


(intervalo)


Pedro H- Oi, Breno, tava falando com o Aleff sobre você.


Breno (dando a volta e encarando os dois, de pé)- Verdade? Contou todos os podres, né? Você sempre faz isso quando chega alguém aqui.


Aleff- Não contou podre nenhum, cara.


Breno- Desculpe, mas, eu tô falando com ele, beleza?


Aleff (se levantando)- Cara, não tô afim de pegar briga com você.


Breno- Peraí que agora eu tô!


Aleff meramente ri.


Pedro H (também de pé)- Gente, não faz nada. O dia nem começou ainda...


Breno (com olhar frio)- Tem razão. Tenho o dia todo pra te avaliar, novato... a gente se vê.


Breno faz sinal para que Pedro Henrique o siga. O outro, amedrontado, obedece, lançando um olhar de medo à Aleff. Este, por sua vez, se senta.


Aleff- Gêniozinho dificil esse...


(fim do capítulo 9)

Nenhum comentário:

Postar um comentário