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sexta-feira, 4 de março de 2011

Chuva de Vento

Decidi postar o capítulo 1 do meu primeiro conto (ou sei lá o quê! odeio formatos!), chamado "Chuva de Vento". Lá vai...




1

Primeiro,  ventava. Um brisa gelada e cortante chocava-se com as janelas do velho Fusca azul celeste. O carrinho a toda hora balançava na estrada, seja pelo vento forte ou pelos ainda muitos caminhões que rodavam, naquela época do ano, pela estrada, naquele dezembro chuvoso. E sendo chuvoso, veio a chuva. Muita chuva.

Judite, ao sentir os primeiros pingos atingirem seu rosto, pôs-se a fechar a janela de seu querido Fusca, presente do pai, falecido. "Um presentão!", dizia ela. O pai sempre lhe dizia que o Fuscão seria dela, e lá estava, conservadíssimo, pelejando pela estrada para completar mais uma jornada. Ah, o pai. Judite sentia muita falta de seu velho pai, e viajar pra terra dele sempre fazia aumentar a saudade.

- É água demais! Esse carro não vai aguentar! - Reclamou Fátima, a lendária empregada de Judite. Alta, robusta, já passava dos cinquenta anos. Seu principal hobby era reclamar de algo da patroa. Reclamava da falta de mantimentos em casa, do velho Fusca que só fazia bagunça, do namorado da patroa, que ela julgava "novo demais", entre outras coisas. E Judite apenas lhe respondia, na maior boa vontade. Mas no fundo, Judite e Fátima eram como irmãs, inseparáveis.

Vinham discutindo até aquele ponto. Primeiro, a empregada chiou dizendo que o Fuscão não ia aguentar as longas e cansativas 5 horas de viagem até Maceió. Depois se irritou quando a caçula de Judite, Amélia, derramou suco no seu vestido, quando a pequena tropeçou. E agora, só falava em vento, chuva e "o carro vai quebrar".

- Eu falei que o carro não ia aguentar...
- Quer ficar calada e ajudar?
- Ajudar? Eu tenho cara de mecânica ou caminhoneira?
- Ajude, delicada, ligando pro seguro...

A empregada resmungou em direção ao interior do carro, sacudindo os braços e arrumando os longos cabelos. Amélia só ria, coisa que adorava fazer, e, após esconder o celular da mãe, levou um cascudo de Fátima, que logo se arrependeu e cobriu a menina de beijos.

Esperaram pelo reboque por mais de uma hora (uma hora, quarenta e três minutos e trinta e três segundos, segundo Amélia), e após um pouco mais de vinte minutos, chegaram à uma oficina anexa à um posto, onde havia uma lojinha e uma hospedaria aos pedaços. Judite deu dinheiro para Amélia "parar de aperriar", e a menina correu pra lojinha para comprar o que quer que fosse.

O velho Fusca foi examinado e sentenciado a ficar na oficina até o ano seguinte. Judite se preocupou imensamente, mas Amélia logo a tranquilizou.

- Liga não mãe! Ano novo é em três dias! O Fuscão resiste!

Ali mesmo pernoitaram (Fátima resmungando). No outro dia, café da manhã. Foram depois à luta por uma carona.

(continua...) 

 

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