Nos Sombreiros

Capítulo 38 - O Rombo

A situação se desencadeou em câmera lenta. Duílio tirou o gesse que caíra sobre Jéssica, que tossia, no momento em que um carro preto chegava. A menina tentava se levantar quando o carro de sua mãe parou na frente do salão de festas. Dele saltou a mãe de Jéssica.

Alta, corpulenta, negra como a filha. Olhos severos por trás dos óculos, alguns cabelos brancos e crespos. Andava lentamente e tinha uma expressão furiosa no rosto.

Mãe de Jéssica- Que MERDA é essa que você tá fazendo, sua vagabunda!?

Jéssica (de joelhos)- Mãe... mãe!

Mãe de Jéssica- Cala a boca! Passa pra casa agora! Agora!

Jéssica (implorando)- Mão, por favor, eu posso explicar...

Mãe de Jéssica- Cala a boca! Já tá em casa? Quero você em casa!

Ela vai até a filha, coberta de poeira da cabeça aos pés, e puxa-a pelas orelhas. Jéssica grita de dor.

Mãe de Jéssica- Anda! ANDA! Quero ver você andando, sua DOIDA!

Ela ignora Duílio por completo; a decepção por ver a filha fazendo o quê não devia a cegou completamente.

Mãe de Jéssica (gritando, de longe)- SOBE, INCOMPETENTE! SOBE! VOCÊ VAI APANHAR DE CINTO!

Duílio, que estava sujo, no chão, tossiu e se levantou, e se surpreendeu ao ver Breno, rindo, na porta entreaberta do bloco G. Ele sorriu, deu um tchauzinho e foi para casa.

(intervalo)

Casa de Breno, ele está sozinho, acabou de tomar banho e está de shorts na sala, a porta estranhamente aberta. Pedro Henrique aparece lá, calado como um túmulo.

Breno (rindo)- Ah, que beleza! Finalmente você chegou!

Pedro H- Porque tá com a porta aberta?

Breno- Quando a mãe de Jéssica grita, é só eu abrir a porta que eu escuto tranquilamente os gritos dela. - Ele dá uma gargalhada, e vai cozinha, se servir de coca. Pedro Henrique entra e senta à mesa, e é possível ouvir os gritos da mãe de Jéssica.

"Sua incompetente! Pra quê você vai quebrar gesso? Pra ficar riscando o chão como uma marginal sem teto?"

Breno (falando como se respondesse)- É porque ela É uma marginal, dona, só tem teto.

Pedro Henrique continua tenso.

Breno- Ah, adoro quando ela apanha e eu nem preciso bater...

Nessa hora, Duílio chega. Está sujo de gesso, e com a cara lívida.

Duílio- Eu ouvi o seu plano todo. Eu estava lá. Eu vou contar tudo pra mãe de Jéssica. Isso você nunca tinha feito, você jogou sujo. Não espere por mais, eu vou contar tudo.

Breno- Ah, é?

(intervalo)