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quinta-feira, 5 de maio de 2011

Os Amantes da Sexta

Capítulo 6 - Surpreendendo-se





Olívia mal podia acreditar no que tinha feito. Observou o seu amado de longe, do momento em que ele pegou a carta ao momento em que viu as palavras "Miss Passion" serem murmuradas por sua boca. A loira sentou-se, exultante, num banquinho, e equilibrou os pés na sua mochila. Decidida a relaxar ali mesmo para saborear a própria ousadia, Olívia tirou do bolso seu Ipod e os fones, e estava pronta para ouvir sua tão amada música clássica, quando sentiu alguém tropeçando nos seus pés. Era Renato.

Ambos se olharam, sem fala, por uns segundos.
- Desculpe... mil perdões...
- Tudo bem. - disse ela rápido, apressando-se em se endireitar e recolher sua mochila.

Renato se abaixou para recolher as partituras que caíram mais além, examinado-as discretamente.
- Que... bacana.
- Oi? - disse ela, distraída.
- Você é musicista?
- Ah... - diz ela, sorrindo, lisonjeada. - Ainda não...
- Eu acho que sei quem você é... eu gosto... - ele para, se espanta e diz: - gosto... da sua música.
- Ah. Obrigada. Eu não... sei quem você é.
- Renato... Vieira.
- Prazer... Olívia.
- É... eu já sabia seu nome.
- Mas olha quem tá aqui!

Os dois se viram. Renato entra em pânico ao avistar Marcela, parada com as mãos na cintura, um espatilho preto por cima de um vestidinho vermelho.

- Renatinho, seu nome, né?
- Ahn...
- Bonita sua nova namorada, já ficou de pinto duro pra ela ver?
- Como é? - diz Olívia, ficando vermelha.
- Para! Para com isso!- dispara Renato, ficando em pé. Alguns rapazes que passam por ali riem da cara dele. Marcela se aproxima e passa a mão na calça de Renato.
- Não, tá mole ainda.

Os caras que passam caem na risada e um diz "Broxa!". Renato parece à beira das lágrimas, e corre dali. Olívia fica entre transtornada e penosa, e resolve sair pela tangente.

- - -

Henrique está no banheiro urinando, sozinho, cantarolando algo que parece ser Lady Gaga. Depois, sai e, após mandar um beijo pra própria imagem no espelho, vai lavar a mão. É surpreendido pela porta do banheiro, que se abre, com um estrondo. Renato adentra o banheiro e se debruça na pia, chorando.

Henrique fica entre solidário e espantado. Seca as mãos, põe a bolsa nas costas; Renato parece não ter percebido que tem alguém junto dele. Henrique faz menção de sair, mas vira e toca no ombro de Renato.

- Oi... cê tá bem?
- Sai! - diz Renato, espantado. - Não encosta em mim!
- Tá... - Henrique faz cara de desdém e dá um passinho pra trás, mas não consegue esconder sua pena ao ver Renato, desesperado, se debulhando em lágrimas.
- Ei, escuta, sem zoação... tá bem?
- Não... eu queria... queria...
- Queria o quê? - quis saber Henrique.
- Queria que saíssem do meu pé. Q-Que me deixassem como eu sou...
- Sim... - diz Henrique, se aproximando.
- Eu sou tímido, porra! Eu tenho... traumas! 
- Tá... tudo bem! Eu não tô te julgando... eu tô aqui pra te ajudar.
- Ajudar? - Renato fica, numa situação raríssima, revoltado. - Quem é você agora, Madre Teresa de Calcutá?
- Não... apenas não gosto de ver as pessoas boas triste, e eu sei que você não é má pessoa.- diz Henrique tranquilamente.

Renato se retrai, choroso, e desaba sobre a pia. Henrique o ergue, e Renato o abraça, completamente sem chão. Henrique se sensibilisa e retribui o abraço. A porta do banheiro se abre devagar, mas nenhum dos dois parece notar.

- Você já foi na psicóloga da UFI, a dona Berta?
- Não. Meu pai diz que é besteira.
- Seu pai é um besta, então. - diz Henrique sorrindo. - Eu vou com você lá, se você quiser, ela é minha amiga.
- Obrigado.
- De nada, estou aqui, sempre.

Da porta, eles escutam "Que casal mais... lindo!"

Se viram, e dão de cara com um dos estudantes de Educação Física, Lucas. Um rapaz alto, bronzeado, cabelos castanhos claros e sua famosa pinta de playboy. Sorria malicioso pros dois. Um ano atrás, Renato tinha sido espancado por Lucas e sua turma de pitboys, que o chamavam de gay e afins. Agora Renato estava ali, com medo ao mesmo tempo que revoltado.

- Sai daqui, seu imbecil!
- Ou o quê? Vai bater em mim, florzinha?

Ele dá uma risada e bate a porta do banheiro. Henrique olha pra Renato, que nada fala, limpando as lágrimas, e sai.

- - -

À noite, com o T.G.I.F. aberto, lá se foram os amados Leandro e Gabriela, acompanhados na mesa por Henrique e Maria, que fingiam ser namorados. Os quatro gargalharam muito durante a noite, até a hora em que a chuva começou a cair pesada.

- Droga, e eu tenho que ir de ônibus!
- Relaxa, gata, aqui no apê do Rodrigo tem dois quartos... a gente promete que não faz muito barulho!

Mais risadas.

Renato chega, de repente, quieto e calado. Passa por umas mesas, alguns dão risinhos abafados quando ele passa, mas ele traça uma reta até a mesa dos "casais", que sorriem quando ele chega.

- Oi, amigo!
- Oi, Renato! - diz Gabriela.
- Oi... - solta Henrique - Você.. tá melhor?
- Posso falar contigo?

Henrique é pego de surpresa, mas se levanta e vai pra um canto na parede com o colega. Nessa hora o tal Lucas entra no bar, e começa a gritar para o "casal".

- Eita, traição em pleno bar! Não achava que você era safado assim!
- Como é? - dizem duas vozes diferentes. Rodrigo sai do balcão e vai se aproximando de Henrique, para, supostamente, vigiá-lo.

- Quem é esse cara, Henrique.
- É o cara que tá botando chifre na tua testa, seu corno! - solta Lucas, antes que Henrique possa falar alguma coisa.
- Não! É mentira!
- Como é? Repete! - diz Rodrigo furioso, tentando ignorar Henrique.
- É sim, eu mesmo vi aquela pouca vergonha, os dois no banheiro, no maior amasso!

As pessoas ao redor começam a tripudiar. Leandro e Gabriela se levantam, bem como Maria. Lucas continua nas suas provocações até Rodrigo gritar; uns colegas de Rodrigo começam a discutir com uns de Lucas e a turma de Educação Física, até que Rodrigo pega Henrique pelo braço e o arrasta pra fora do bar, na chuva, furioso.

- Quero você fora daqui!
- Mas você não vai parar pra me ouvir?!
- Não preciso, viram vocês dois! Anda, sai! Pega teu amante e sai do meu bar!

Ele empurra Henrique numa poça de lama. Ele cai, humilhado, e várias pessoas do bar riem dele. Enquanto Gabriela e Leandro tentam chegar lá, Renato sai correndo, quase em pânico, e Maria se ajoelha ao lado de Henrique, tentando levantá-lo. Os dois acabam chapinhando na lama até a parada de ônibus.

- Tá tudo bem?
- Ele vai ver, não quis me ouvir. Agora é só vingança, vingança e vingança!

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